A escalada de violência na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, está a fazer vítimas cada vez mais novas.
A organização não-governamental Save the Children denuncia, esta terça-feira, que há crianças a serem assassinadas naquela região que tem sido palco de um conflito armado há mais de três anos.
“Elsa”, de 28 anos, viu o filho, “Filipe” de 12 anos, a ser decapitado enquanto ela e os seus outros três filhos se escondiam depois de um ataque à aldeia onde vivia. À ONG, a mãe recorda a noite do ataque, contando que as casas tinham sido ateadas e uma delas, foi a sua, onde morava com os seus quatro filhos.
“Tentámos fugir para a floresta, mas eles tiraram-me o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque se não também seríamos mortos”, disse.
Na nota divulgada, a ONG considera que a crise humanitária em Cabo Delgado tem sido “menosprezada” e alerta para a falta de ajuda para a população afectada.
“A ajuda é desesperadamente necessária, mas poucos doadores priorizaram a assistência para aqueles que perderam tudo e para os seus filhos”, numa altura em que o mundo lida também com a Covid-19, refere Chance Briggs, director da organização em Moçambique.
A ONG contabiliza quase 670 mil pessoas deslocadas dentro de Moçambique devido ao conflito em Cabo Delgado, quase sete vezes o número relatado há um ano, o que resultou em “quase um milhão de pessoas que enfrenta fome severa”. Pelo menos 2.614 pessoas morreram no conflito, incluindo 1.312 civis, no entanto, antecipa-se que esse número possa aumentar dada a escalada de ataques a aldeias registada nos últimos 12 meses. Algumas das incursões de rebeldes foram reivindicadas pelo Daesh entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.
Como reflexo da pirâmide etária do país, cerca de metade das pessoas afectadas pela violência são menores de 18 anos, presenciando muitas vezes morte e destruição e sendo elas próprias alvo das partes em conflito. Como tal, a organização alertou para a possibilidade de muitas das crianças desenvolverem ansiedade, depressão e, em alguns casos, até stress pós-traumático na sequência dos episódios de violência por si vividos.
“Todas as partes devem garantir que as crianças nunca sejam alvos. Devem respeitar as leis humanitárias internacionais e de direitos humanos e tomar todas as acções necessárias para minimizar os danos civis, incluindo o fim de ataques indiscriminados e desproporcionais contra crianças”, acrescentou Briggs.
“Os relatos de ataques a crianças incomodam-nos profundamente. A nossa equipa foi levada às lágrimas ao ouvir as histórias de sofrimento contadas por mães em campos de deslocados”, sublinhou.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com