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Nova lei do tabaco “tem aspetos excessivos e discriminatórios”

O Governo avançou com uma proposta que altera a Lei do Tabaco, limitando, nomeadamente, os locais de acesso público onde é possível fumar. Os sectores da restauração e dos serviços receberam com desagrado esta proposta, que consideram ter aspectos excessivos. Além disso, alertam, penaliza de forma desproporcional certas atividades e promete prejudicar os negócios, numa altura em que as empresas estão confrontadas com um aumento dos juros.
  • A Tailândia não é um país para fumadores. As leis do país ditam que ninguém pode entrar no país com mais do que um maço de tabaco por pessoa. Se ousar entrar no país com mais do que um maço de tabaco, a mercadoria ser-lhe-á apreendida e poderá sujeitar-se a uma multa de 200 euros por cada maço apreendido.
15 Julho 2023, 15h30

Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 8 de julho, com a edição impressa do Semanário NOVO.

Vêm aí novas restrições ao fumo. O Governo aprovou em Conselho de Ministros e entregou no Parlamento uma proposta de lei que limita, nomeadamente, os locais de acesso público onde é possível consumir tabaco, bem como os estabelecimentos que o podem vender. As críticas não se fizeram esperar, uma vez que, por um lado, há “aspectos discriminatórios”, com a penalização desproporcional de certas atividades, e, por outro, no início do ano, já tinham sido introduzidas mudanças nessas regras, frisa a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), que apela, assim, a que haja estabilidade legislativa.

Tanto esta como a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) sublinham (e esperam) que, no processo parlamentar, sejam feitos ajustes à proposta do Governo, aliviando-se algumas das limitações que estão em cima da mesa.

Foi em meados de Maio que o Executivo deu luz verde, em Conselho de Ministros, à proposta de lei que pretende voltar a alterar a Lei do Tabaco: está prevista, por exemplo, a proibição de fumar em restaurantes, bares, espaços de dança e similares, quer no interior, quer nas esplanadas ou pátios exteriores que estejam cobertos ou delimitados, ou outro tipo de estruturas, bem como a revisão dos sítios onde o tabaco pode ser vendido. “Procede-se à extensão da proibição da venda de tabaco à generalidade dos locais onde é proibido fumar, redefinindo-se igualmente os espaços onde é permitida a instalação de máquinas de venda automática, as quais devem localizar-se a mais de 300 metros de estabelecimentos de ensino”, indica o Governo.

Ainda que não questione os malefícios do tabaco, a AHRESP não tardou a fazer duras críticas ao que o Governo propõe neste âmbito. “A proposta de lei contempla medidas desproporcionais, em alguns aspectos discriminatórias, penalizando, sobretudo, os estabelecimentos de restauração e similares. Pelo impacto que pode ter nos negócios, que têm vindo a adaptar-se à lei hoje em vigor, vemos com preocupação esta proposta. O tabaco não é uma substância ilícita. Há vários direitos e interesses em jogo que devem ser considerados e que exigem uma lei mais equilibrada”, sublinha a secretária-geral, Ana Jacinto, em declarações ao NOVO Economia.

Também a CCP não vê com “bons olhos” as mudanças que o Governo pretende fazer, considerando que a proposta em causa “tem aspectos claramente excessivos, quer no que se refere aos locais de venda de tabaco, quer aos locais onde é proibido fumar”. “Não se compreende, por exemplo, a discriminação entre estabelecimentos comerciais”, sublinha fonte oficial da confederação liderada por João Vieira Lopes. A avançarem estas mudanças, a CCP antevê que os lojistas arrisquem ver as receitas caírem, direta e indiretamente. “Temos muitas dúvidas quanto à filosofia de que é necessário controlar e restringir o acesso a produtos de tabaco. Este tipo de medidas pode gerar fenómenos indesejáveis de venda de tabaco em canais alternativos”, avisa a confederação.

Também Ana Jacinto admite recear que “possa haver um afastamento dos clientes dos estabelecimentos de restauração e similares” se forem aprovadas as alterações apresentadas pelo Governo. E destaca que estas alterações são debatidas poucos meses depois de terem entrado em vigor outras mudanças à Lei do Tabaco que vieram determinar “quais os requisitos que os estabelecimentos que quisessem permitir o fumo deviam ter” e que levaram os empresários a fazer alguns investimentos.

Mais: Ana Jacinto observa que o sector da restauração e similares ainda está numa “situação de fragilidade”, após dois anos de pandemia e, mais recentemente, face aos efeitos da inflação. “Além do sobreendividamento por culpa da pandemia, temos agora o aumento dos custos de produção e a subida das taxas de juro, que continuam a impedir as nossas empresas de gerarem margens de negócio de forma a suportarem todos estes custos adicionais que se intensificaram em 2022”, relata a secretária-geral.

Mudanças no Parlamento?
Importa explicar que a proposta do Governo terá ainda de passar por todo o processo de debate e ajustes parlamentares, pelo que poderá vir a sofrer alterações. “As propostas devem ser mais equilibradas e atender a todos os direitos envolvidos”, apela a AHRESP. Também a CCP tem esperança de que, na Assembleia da República, a proposta seja melhorada, eliminando-se as limitações a fumar nas áreas ao ar livre na restauração. “Também devem ser ponderadas as vantagens e os inconvenientes de restringir os locais de venda de tabaco e produtos afins, pelos efeitos perversos a que pode conduzir, nomeadamente entre diferentes tipologias de estabelecimentos comerciais”, defende a confederação que representa o comércio e os serviços.

As datas de entrada em vigor das várias medidas previstas na proposta de lei do Governo variam entre si, mas há mudanças que podem chegar ao terreno já em Outubro, como a proibição de venda dos cigarros que contenham aromatizantes.

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