“O Livro de San Michele”

Oitenta anos depois da sua primeira edição em Portugal, ressurge, igualmente pelas mãos da Livros do Brasil (agora, uma chancela da Porto Editora), “O Livro de San Michele”, do médico sueco Axel Munthe (1857-1949). A tradução é a mesma da altura, da autoria do também médico – ainda que mais conhecido como historiador e escritor – Jaime Cortesão.

Publicado originalmente em 1929, este livro de memórias e reflexões, escrito aos setenta anos, na sua casa na ilha de Capri, chamada precisamente Villa San Michele, antigo palácio pertencente ao imperador Tibério, que recuperou das ruínas ao longo de cinco verões.

Com vista para um mar de um azul-safira deslumbrante, Axel Munthe recorda os seus encontros com figuras como Louis Pasteur, Henry James ou Guy de Maupassant (no âmbito de uma viagem do francês em direção a sul – ou seja, ao sol –, de que aqui já se deu conta a propósito da edição do relato “A Vida Errante”, recentemente publicado pela Tinta da China). Mas, também, narra os encontros com os habitantes locais, os visitantes menos ilustres, os imigrantes italianos em Paris ou as vítimas da cólera na vizinha Nápoles.

Recorde-se que, no século XIX, Capri se tornou um destino predileto de muitos turistas que realizavam o chamado Grand Tour. No Hotel Pagano, o primeiro da ilha, ficaram alojados membros da realeza, filósofos, compositores franceses, entre outros; também Friedrich Alfred Krupp, o industrial alemão e apaixonado por biologia marinha, fez da ilha uma segunda casa.

Narrativa de uma humanidade assombrosa, repleta de amor pelos animais e pela natureza, de reflexões sobre a medicina e sobre a tenacidade e fragilidade do ser humano, “O Livro de San Michele” é um clássico absoluto.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.