O custo de financiamento da República Portuguesa tem vindo a diminuir, uma tendência decrescente que se iniciou em março de 2017. Na altura, no mercado secundário, as yields da dívida a dez anos estavam em 3,966%, o que compara com uma rendibilidade de 0,09%, o mínimo registado esta quarta-feira.
“A tendência de baixa acompanha o momento que tem acontecido nas dívidas soberanas europeias”, disse ao Jornal Económico Filipe Silva, diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa. “Portugal, Itália, Espanha e Grécia ainda têm yields positivas e isso atrai os investidores”, explicou.
De acordo com uma nota de research do banco BBVA, divulgada nesta quarta-feira, entre este quarteto de países, as yields da dívida grega a dez anos eram as mais elevadas, nos 1,73%, a dívida italiana estava nos 1,05% e a espanhola nos 0,06%, três pontos base abaixo da dívida soberana portuguesa.
A situação portuguesa – e dos vizinhos do Mediterrâneo – contrasta com a maioria dos países, cujas yields são negativas, como na Alemanha (-0,72%) e em França (-0,44%).
Questionado sobre a possibilidade das taxas de juro da dívida soberana portuguesa a dez anos no mercado secundário caírem para os 0% – algo que seria inédito -, Filipe Silva disse que “podemos ter dívida a o% nas próximas semanas, especialmente se os indicadores económicos continuarem a desapontar”, como o abrandamento do crescimento da economia mundial e, em particular, da zona euro, espelhada pela contração da Alemanha.
Uma dívida de longo-prazo a 0% “para nós seria muito positivo”, pois significaria que o custo de financiamento seria mais baixo, salientou o diretor de gestão de ativos do Banco Carregosa. No mercado primário, é algo que o IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública não estranha, mas na colocação de dívida a curto-prazo. “Desde 2016 que os Bilhetes do Tesouro (BT) têm uma taxa de emissão negativa. Na semana passada, o IGCP colocou BT a 11 e 3 meses a -0,557% e – 0,563%”.
O BBVA disse ainda que as curvas das taxas de juro permaneceram invertidas, com os juros da dívida a dois anos acima dos juros da dívida a dez anos, “aumentando os receios de uma recessão. “As yields da dívida a dois anos norte-americana chegaram a estar quatro pontos base acima das yields da dívida a dez anos, a maior diferença desde 2007″, salientou o banco.
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