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Pontos de venda aguardam reunião do Governo com a VASP após boicote à venda de jornais

José Carrilho, presidente da Associação Nacional de Vendedores de Jornais, fez ao JE um balanço “positivo” do protesto de dois dias. Apesar de aguardar pelo encontro da VASP com o Governo, pontos de venda avançam esta semana com a providência cautelar contra a taxa extra da VASP.
21 Junho 2021, 17h10

A Associação Nacional de Vendedores de Imprensa (ANVI) fez esta segunda-feira um balanço positivo dos dois dias de greve à venda de jornais distribuídos pela VASP, visto que os pontos de venda conseguiram ter a compreensão dos clientes, bem como a atenção do Governo e da própria distribuidora. A ANVI vai aguarda, agora, pelas conclusões do encontro da VASP com o Governo. No entanto, avança esta semana com a providência cautelar para travar a taxa extra à venda de jornais.

O boicote promovido pela ANVI para o dias 18 e de 19 de junho foi uma forma de protesto contra a taxa diária de entrega de jornais e revistas que a VASP pretende cobrar, a partir de 4 de julho. A taxa extra tem um valor de 1,50 euros de segunda a sábado e de um euro aos domingos, a que acresce o IVA. O custo extra foi comunicado aos pontos de venda no início de maio. A distribuidora justifica a nova taxa como uma forma de comparticipação dos custos de transporte, entrega e recolha das publicações, tendo em conta a falta de apoios governamentais à empresa em contexto pandémico. A situação deixou os proprietários de pontos de venda em alerta, contestando as intenções da VASP.

“A recetividade ao protesto foi ótima, tanto da parte dos clientes dos pontos de venda como até de alguma comunicação social que deu respaldo à nossa luta. A nível nacional, a adesão foi bastante satisfatória de norte a sul, embora muitos pontos não tivessem conhecimento do protesto por não estarem em condições para receber este tipo de comunicação. Estamos satisfeitos com o resultado”, começou por afirmar o presidente da ANVI, José Carrilho, ao Jornal Económico.

Questionado sobre o nível de adesão dos pontos de venda, José Carrilho disse que ainda não há uma contabilidade feita, realçando que “os números são secundários” no rescaldo do protesto. “O importante foi a recetividade do meio em que nos inserimos, que são os clientes e a VASP, que deu conta da insatisfação dos pontos de venda – que continua a crescer. Esse era o nosso objetivo e foi alcançado a 100%”, acrescentou.

Ainda que tenha assegurado o sucesso do protesto, o presidente da ANVI lamentou que a VASP continue sem responder aos apelos dos para desistir da taxa ou, pelo menos, iniciar um diálogo com os pontos de venda. “Essa é a parte que lamentamos mais”, sublinhou José Carrilho.

Para o líder da associação nacional de vendedores de jornais, a VASP “ou está a ser oportunista e a utilizar os pontos de venda para chantagear o Governo – o que também é feio -, ou sofre de algum autismo e não percebe o que se está a passar à sua volta”.

“Não queremos mal à VASP – precisamos da VASP com uma boa saúde financeira e que seja uma empresa de excelência -, mas queremos então que nos trate de acordo com essa excelência”, frisou.

Questionado sobre uma eventual intervenção do Governo, José Carrilho revelou que a ANVI reuniu com a secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, no dia 18 de junho (sexta-feira). “A reunião correu muito bem, sentimos muita compreensão e solidariedade com a causa e para o drama que aí vem se esta taxa for em frente”, disse o presidente da ANVI.

Segundo José Carrilho, o Governo manifestou “vontade em encontrar uma solução”.

A ANVI, que foi criada a 11 de junho para organizar e promover o protesto dos pontos de venda contra a nova taxa da VASP, vai agora aguardar pelo resultado da reunião entre o Governo e a VASP, agendada para 28 de junho, antes de tomar novas decisões. Isto porque há quem defende dentro da associação “continuar em protesto” e há quem ache que já foi criado o alerta necessário.

Não obstante, José Carrilho revelou que a ANVI entrega esta semana uma providência cautelar para travar a nova taxa que a VASP pretende vir a cobrar aos vendedores de jornais.

“Entre hoje [segunda-feira] e amanhã [terça-feira] vai entrar uma ação em tribunal, uma providência cautelar para a taxa não avançar. Isso vai acontecer, haja o que houver, porque achamos injusta a decisão. Depois logo se vê o resultado. Se a taxa avançar, obviamente que nós não vamos ficar de braços cruzados”, afirmou o presidente da ANVI.

Atualmente, os pontos de venda têm uma margem de lucro de 15% sobre cada jornal vendido. Tal como o JE noticiou a 18 de junho, os os vendedores de jornais consideram já hoje essa margem um valor “irrisório”, acusando a VASP de usar pontos de venda para financiar custo da sua operação, através de uma nova taxa. Quanto à nova taxa, segundo o explicado pela ANVI ao JE, a VASP vai cobrar 49,32 euros por mês a cerca de 6.000 pontos de venda. Fazendo as contas, a VASP receberá com a nova taxa um total de 295.920 euros por mês, somando mais de 3,55 milhões anuais.

No mesmo artigo de 18 de junho, o presidente executivo da VASP, Paulo Couceiro, explicou a necessidade da taxa extra com a ausência de apoio estatal à atividade da VASP durante a pandemia. Sem a taxa extra, Paulo Couceiro disse que ou a empresa entra em insolvência ou deixa de operar em todo o país.

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