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Vítor Bento: ”A Europa reagiu como devia ter reagido”

“Tendo em conta os condicionalismos e as circunstâncias, a Europa reagiu como devia ter reagido”, por um lado, porque “libertou os constrangimentos que os Estados tinham para agir, levantando de forma rápida os limites orçamentais, [eliminando o teto de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o défice orçamental]” e, assim, permitiu “que os Estados respondam como entenderem às suas situações”, lembra o economista.
  • Cristina Bernardo
12 Abril 2020, 09h08

O economista Vítor Bento considera, em entrevista à agência Lusa, que “a Europa reagiu como devia ter reagido” à crise económica decorrente da pandemia de covid-19.

“Tendo em conta os condicionalismos e as circunstâncias, a Europa reagiu como devia ter reagido”, por um lado, porque “libertou os constrangimentos que os Estados tinham para agir, levantando de forma rápida os limites orçamentais, [eliminando o teto de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o défice orçamental]” e, assim, permitiu “que os Estados respondam como entenderem às suas situações”, lembra o economista.

Por outro lado, o Banco Central Europeu (BCE) “em termos práticos, garantiu o financiamento monetário daquilo que os Estados precisam e, portanto, os Estados têm os instrumentos necessários para agir”.

O impasse na reunião do Eurogrupo que apenas chegou a uma proposta de solução na noite da passada quinta-feira é, aliás, desvalorizado por Vítor Bento.

Na reunião chegou-se a acordo em três áreas: a proposta da criação de um instrumento (“Sure”), que permite empréstimos da União Europeia (UE) aos Estados-membros, até um total de 100 mil milhões de euros, para ajudar a salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de emprego temporário.

Para as empresas, a solução passa pelo envolvimento do Banco Europeu de Investimento (BEI), que permitirá mobilizar até 200 mil milhões de euros para as empresas em dificuldades, sobretudo pequenas e médias empresas.

E foram ainda aprovadas propostas de linhas de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o fundo de resgate permanente da zona euro, destinadas a cobrir custos direta ou indiretamente relacionados com a resposta a nível de cuidados de saúde.

O Eurogrupo acordou ainda a criação de um fundo de recuperação após a crise gerada pela covid-19, mas pediu aos líderes europeus, que se irão reunir a 23 de abril, para decidirem “o financiamento mais apropriado”, se através da emissão de dívida ou de “formas alternativas”.

Na entrevista à Lusa, realizada ainda antes do Eurogrupo da passada quinta-feira, Vítor Bento já antecipava que o motivo de divisão entre os ministros das Finanças da UE era, basicamente, saber “quem é que se vai responsabilizar pelas dívidas, como é que se vai criar uma mutualização das dívidas contraídas para responder à crise, mas onde cada um dos Estados quer decidir como e quando o vai fazer”.

“Essa é a parte que torna mais difícil porque os recursos neste momento estão disponíveis através do BCE e isso em si já é muito bom. Depois, o resto, sendo importante, é menos urgente”, considera o antigo conselheiro de Estado do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.

Aliás, Vítor Bento considera mesmo que “a discussão está um pouco no caminho moral e cada um acha que a sua moral é a moral certa”, mas diz acreditar que “a Europa acabará por encontrar uma solução que não agradará a todos, mas que será a solução possível”.

O professor universitário considera, no entanto, que nestas situações de crise se coloquem questões extremadas: uma rutura europeia, na eventual impossibilidade de encontrar soluções, ou um aprofundamento da sua existência.

“E esse aprofundamento”, prossegue, a acontecer, “passará por uma maior integração política”.

Ou seja, “será difícil que haja uma federalização de responsabilidades financeiras sem haver uma federalização de poderes de decisão sobre essas responsabilidades”, explica Vítor Bento, adiantando que dificilmente haverá países que estejam dispostos “a corresponsabilizarem-se por responsabilidades financeiras de terceiros se não tiverem capacidade de intervenção na forma como é que esse dinheiro é aplicado”.

Apesar das dificuldades, Vítor Bento mostra-se otimista e diz querer acreditar “que tudo pesado, tudo vai ser feito para preservar a integração europeia”, até porque todos percebem “que é um bem demasiado grande para ser desperdiçado”.

O coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19, já provocou mais de 103 mil mortos e infetou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

A Europa é o continente mais afetado, com mais de 870 mil pessoas contagiadas e mais de 71 mil mortos, incluindo 470 em Portugal.

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