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As críticas de João Talone na despedida da EDP: ex-chairman defendia mais independentes no Conselho Geral

“A EDP deve considerar seriamente as sugestões de melhoria e que se devem tomar medidas concretas para melhorar a composição” do Conselho Geral e de Supervisão para que seja mais “justa, equilibrada e transparente”, defendeu o ex-chairman na hora da despedida.
17 Abril 2024, 07h30

João Talone deixou várias críticas na sua despedida do cargo de chairman do grupo EDP, considerando que o Conselho Geral de Supervisão (CGS) deveria ter mais membros independentes nas suas fileiras.

Dos 16 membros do CGS, cinco são nomeados pela China Three Gorges (com 21% do capital) e outros dois são nomeados pelos espanhóis da Draursa/família Masaveu (7%). O equilíbrio de poderes mantém-se inalterado no Conselho, apesar de ter agora um novo chairman: António Lobo de Xavier.

As críticas do ex-chairman estão refletidas numa nota no relatório do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) relativo a 2023.

Recordando que, em 2023, a Comissão de Governo Societário e Sustentabilidade (CGSS) reuniu-se para analisar o relatório de governo societário, relativo a 2022, assinalando “os pontos de melhoria identificados, em especial os que se relacionam com o modelo e composição do governo das sociedades do grupo”.

“Neste âmbito, a CGSS debateu a conveniência de se proceder à preparação de um conjunto de sugestões que viessem a consubstanciar um plano para obter ainda melhores resultados nos pontos em que ainda não tem uma boa classificação, designadamente no que diz respeito à composição do CGS, aspeto crucial da governança corporativa”, pode-se ler.

“Foi considerado importante que o Conselho mantenha uma trajetória crescente da percentagem de membros independentes e que a sua dimensão total seja adequada para garantir que as decisões são tomadas de forma justa e equilibrada. As referidas sugestões foram apresentadas na reunião da Comissão, realizada em julho de 2023. Contudo, não existindo consenso sobre a matéria, o processo não evoluiu”, segundo o relatório.

“Olhando para o futuro”, João Talone defende que a “EDP deve considerar seriamente as sugestões de melhoria e que se devem tomar medidas concretas para melhorar a composição do Conselho e garantir que ele esteja alinhado com as melhores práticas e padrões internacionais”.

“Para esse efeito, a EDP deve trabalhar em estreita colaboração com os acionistas e outras partes interessadas para garantir que a composição do conselho seja justa, equilibrada e transparente”, de acordo com o documento.

No entanto, a CGSS “reconhece os esforços e realizações da EDP na prossecução dos seus objetivos de sustentabilidade e no reforço das suas práticas de governo societário, bem como a colaboração e apoio das várias equipas e áreas envolvidas nas matérias sob a sua supervisão”.

Analisando esta situação, o consultor de investimentos Marco Silva considera que é “estranho alguém recusar um cargo tão interessante, daí que a sua recusa em continuar deve ser entendida como um dado importante sobre o normal funcionamento de um órgão de extrema importância para a EDP, sendo que desde logo é desproporcional o número de representantes que a CTG detém no conselho tendo em conta a sua representação no capital, o mesmo sucedendo com os espanhóis”.

“O tamanho do conselho (16) não é exagerado, uma vez que as empresas do Dax40 tem em média, no seu conselho de supervisão, 14/15 membros. Ou seja, algo espoletou Talone a dar um murro na mesa, provavelmente para reduzir a influência destes dois grupos no conselho”, disse Marco Silva ao JE.

Olhando para o novo CGS, agora presidido por António Lobo Xavier, conta com cinco membros em representação da China Three Gorges, dois em representaçao do acionista espanhol (família Masaveu), e nove independentes (incluindo o chairman).

No anterior CGS, liderado por João Talone, existiam igualmente sete membros não-independentes e nove independentes (incluindo o chairman).

O relatório do CGS foi aprovado no final de fevereiro, mas é relativo ao ano de 2023.

Contactada pelo JE, fonte oficial do grupo EDP não quis fazer comentários.

Recorde-se que o ex-chairman bateu com a porta no início deste ano, por defender uma redução da dimensão do CGS, alegando que essa diminuição iria ao encontro das melhores práticas de gestão. Viu, contudo, essa pretensão ser rejeitada pelo acionistas, confirmaram em janeiro, ao JE, fontes deste órgão de fiscalização da atividade da EDP. Foi essa a motivação para apresentar a recusa em assumir um segundo mandato como presidente daquele órgão.

Talone queria reduzir representantes dos chineses e espanhóis

O ex-presidente da elétrica defendia alterações ao modelo de governação da EDP, nomeadamente a redução até dois representantes do maior acionista China Three Gorges (CTG) e um do grupo Masaveu neste órgão de fiscalização da atividade da EDP.

João Talone liderava o Conselho Geral e de Supervisão desde 2021, cujo mandato terminou no final do ano passado, quando substituiu Luís Amado (antes, o presidente do CGD tinha sido Eduardo Catroga). No mandato de Talone, o CGS tinha passado de 21 para 16 membros.

De acordo com fontes do CGS, João Talone “fez um excelente mandato”, destacando que este responsável conhece bem o sector e “surpreendeu pela liderança, ao fazer uma gestão muito equilibrada no relacionamento com a comissão executiva”.

Uma dessas fontes destacou que a decisão de Talone “foi inesperada”, realçando que há uma tendência para um peso mais reduzido dos acionistas no CGS, mas que, no caso da EDP, “funcionou bem” e “não houve qualquer interferência dos acionistas no sentido de procurar limitar as decisões”. “Foi um mandato com grande independência”, remata.

João Talone tinha manifestado, no final de 2023, a visão de que a EDP deveria reduzir o número de membros do CGS. O objetivo era o de passar dos atuais 16 para 13 ou 14 membros.

O objetivo do ex-presidente do CGS era reduzir para um membro em representação do acionista espanhol e para três ou, no máximo, quatro membros os representantes dos chineses da China Three Gorges Corporation.

A proposta foi apresentada aos acionistas, tendo Talone dado o prazo do final do ano para ter uma resposta dos acionistas, que acabou por não chegar. O gestor tinha também defendido a necessidade de reforçar o número de independentes no CGS que tem como função fiscalizar a atividade da comissão executiva da companhia, liderada por Miguel Stilwell de Andrade.

Quem manda na EDP?

A China Three Gorges Corporation conta com 21% do capital da EDP, seguida dos espanhóis da Oppidum Capital (quase 7%), dos norte-americanos da BlackRock (6,3%), e dos canadianos do Canada Pension Plan Investment Board (5,3%).

Quem faz parte do Conselho Geral e de Supervisão da EDP?

1 – António Lobo Xavier – chairman (independente)

2 – Shengliang Wu – em representação da China Three Gorges Corporation

3 – Guobin Qin – em representação da China Three Gorges International Limited

4 – Ignacio Herrero Ruiz – em representação da China Three Gorges (Europe)

5 – Hui Zhang – em representação da China Three Gorges Brasil Energia, S.A.

6 – Miguel Pereira Leite – em representação da China Three Gorges (Portugal), Sociedade Unipessoal, Lda.

7 – Victor Roza Fresno – em representação da Draursa (família Masaveu)

8 – Fernando María Masaveu Herrero – família Masaveu

9 – Sofia Salgado Pinto – independente

10 – Zili Shao – independente

11 – Alicia Reyes Revuelta – independente

12 – Gonçalo Moura Martins – independente

13 – María José García Beato – independente

14 – Sandra Maria Santos – independente

15 – Stephen Vaughan – independente

16 – Lisa Frantzis – independente

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