A partir o surgimento do smartphone, introduzido em 2007 pelo fundador da Apple, Steve Jobs, a inovação tecnológica entrou no mundo da banca como nunca antes, alterando o paradigma tradicional do sistema bancário que os consumidores conhecem. Em pouco mais de uma década, a disrupção na indústria bancária foi muito mais saliente do que nos cerca de 500 anos anteriores ao iPhone.
O primeiro banco da história foi criado na cidade italiana de Siena, em 1472. A palavra “banco”, referente às instituições bancárias, vem dessa época do Renascimento. Os mercantes sentavam-se em bancos onde trocavam divisas.
Até à introdução do primeiro sistema tecnológico, em 1980 – o ERMA, Electronic Recording Machine Accounting – “a banca não mudou muito”, explicou Brett King, na conferência “Portugal: from here to where”, promovida pelo Jornal Económico e da qual o Jornal Económico é media partner. Era a era conhecida como “bank 1.0”.
Brett King, futurista, autor reputado de livros sobre a tecnologia financeira e conhecido como o “padrinho das FinTech”, revelou que foi por causa da criação do ERMA que ainda hoje em dia se utilizam números de contas, associadas a clientes – o sistema tecnológico só conseguia ler números.
Anos mais tarde, em 2017, já depois da migração dos tradicionais serviços bancários para o mobilie, chegámos à era da “banca 4.0”, onde estamos agora. “Estamos a repensar a indústria bancária”, explicou Brett King.
Chegámos a uma fase de ‘virar a página’ em que replicar os tradicionais serviços bancários se tornará numa coisa do passado. Semelhante às tecnologias que mais alteraram os paradigmas – como o automóvel ou o smarphone – a “banca 4.0” está a “desenhar os serviços bancários do zero, em vez de os replicar para o digital”, salientou.
A grande característica desta nova forma de se fazer banca assenta na “inclusão financeira”, explicou. “No Quénia, depois do surgimento da M-Pesa (uma conta bancária no smartphone), 98% dos locais têm contas bancárias”, revelou o futurista da banca.
Se no mundo ocidental – Estados Unidos e Europa – se assistem, a espaços, a inovações financeiras que de facto quebram o paradigma com a banca tradicional, como os casos dos neobancos Revolut ou N26, a verdade é que “estamos literalmente dez anos atrás da China”, nomeadamente no domínio da tecnologia de pagamentos. “Porque os chineses desenharam estes serviços do zero”, frisou Brett King. “Lá, só usamos a nossa face para pagar”.
“No último dia dos solteiros (o equivalente à black friday na China), foram gastos 31 mil milhões de dólares num só dia e 60% foi através de pagamentos baseados em pagamentos biométricos” como o reconhecimento facial, revelou o “padrinho das FinTech”.
“A Tencent (gigante tecnológica chinesa) fundou o Webank e agora tem cerca de 100 milhões de clientes – o Webank tem apenas quatro anos de vida e não tem balcões”, salientou Brett King.
O poderio da tecnologia em se afirmar num mundo tipicamente fechado, como o da banca, está a afirmar-se rapidamente. Porquê? Por causa da escala que um modelo de base tecnológica permite. Brett King relembrou um vídeo no qual o fundador da Alibaba, Jack Ma, disse que em poucos anos iria ultrapassar a Walmart em volume de vendas. O visionário chinês, na ocasião, referiu “enquanto tu [Walmart] precisas de mais armazéns, mais inventário, eu preciso de dois servidores”.
Foi desta forma que a Antz Financial, o braço bancário da Alibaba, criou aquele é “o mais bem sucedido depósito alguma vez criado”, ao lado do Alipay, revelou Brett King. “O Yu E Bao (o depósito da Alipay) nos seus tempos áureos chegou a ter 300 mil milhões de dólares em depósitos e um terço da população chinesa tem lá as suas poupanças”, disse.
O que explica esta transição do consumidor chinês para as financeiras tecnológicas em detrimento dos bancos tradicionais prende-se com o facto de estas novas empresas que prestam serviços financeiros oferecem “experiências de poupança e são comportamentais”, frisou Brett King.
“E são essas experiências de poupança que são o resultado do lançamento do serviço a partir do zero”, referiu.
Estas experiências de poupança vão alterar a forma como os clientes e os bancos se relacionam, especialmente ao nível do aconselhamento financeiro. Isto porque, através da inteligência artificial e do machine learning, os suportes tecnológicos dos novos serviços financeiros vão conseguir angariar e analisar muito mais dados do que um bancário a trabalhar num balcão.
Além disso, as app financeiras vão poder responder-nos, em tempo real, a certas perguntas tão simples como “tenho dinheiro para ir jantar hoje?” ou “quando é que vou poder comprar uma casa ou um iPhone” – “tudo coisas que os nossos conselheiros financeiros deveriam poder responder”, adiantou o “padrinho das FinTech”.
“Atualmente, os bancos estão desenhados para nos venderem uma hipoteca, ou vendem-nos cartões de crédito que nos dão prémios quanto mais dinheiro gastar-mos”, disse Brett King. “Não deveria ser a primeira função de um banco ajudar-nos a poupar?”, questionou Brett King a plateia que o ouvia no auditório nº2 da Gulbenkian.
Querendo antecipar o futuro, Brett King salientou convictamente que “no futuro, o maior banco será uma empresa tecnológica”.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com