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Europa lança bases para reduzir dependência da NATO

Mais de cinquenta ministros dos Negócios Estrangeiros da Defesa reúnem esta segunda-feira para chegarem a acordo sobre a base de um fundo comum militar. Analistas, entre eles investigador português João Estevens, não estão convencidos da sua viabilidade.
19 Novembro 2018, 08h47

A União Europeia está a preparar um impulso sem precedentes para a atingir a independência estratégica nos domínios militar e da segurança interna, naquele que é considerado uma espécie de ‘grito de Ipiranga’ em relação à NATO. Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa vão estar reunidos durante dois dias para tentarem chegar a acordo em relação a uma política comum naquelas matérias, que, num primeiro momento, poderá obrigar a um financiamento da ordem dos 13 mil milhões de euros.

A decisão surge por causa da instabilidade que a Europa vive na sua relação com os seus aliados tradicionais, especialmente com os Estados Unidos – que, pela mão do seu presidente, Donald Trump, têm tido uma postura errática e inesperadamente belicosa no seio da NATO.

Mas a decisão surge também da evidência da necessidade de a Europa lidar com conflitos que vão além da capacidade individual de parceiros europeus ou que não se encaixam na atividade tradicional da NATO. A cimeira de ministros, em Bruxelas, coincide com as declarações recentes do presidente francês Emmanuel Macron em favor de um exército europeu – que foram acompanhadas pela chanceler alemã Angela Merkel.

Apesar de todas as declarações insistirem que o objetivo da cimeira não é criar um exército europeu, mas melhorar a integração e colaboração das políticas nacionais, o plano que está por trás da cimeira parece ser uma espécie de sub-agenda que necessariamente terá de se debruçar sobre as palavras de Macron e Merkel.

No moderno e caríssimo centro da NATO nos arredores de Bruxelas, os alarmes já soaram. O seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, vai juntar-se à cimeira na terça-feira, tendo prestado declarações públicas segundo as quais qualquer tentativa de ‘independência’ da Europa face à estrutura que dirige não são bem-vindas.

A Comissão Europeia e o Conselho Europeu insistem que a estratégia não passa por competir com a NATO, mas por coordenar uma política europeia consistente. Do departamento de Federica Mogherini, Alta Representante para a Política Externa da União, dizem que a cimeira é “uma das condições para a seleção de novas capacidades, de projetos conjuntos, que devem ser consistentes com o planeamento da NATO”, segundo avança a imprensa europeia.

Mas os analistas reconhecem que a NATO não tem estrutura (nem tem como objetivo)para enfrentar ameaças como o jihadismo, a imigração descontrolada ou os ciberataques, que, apesar de não serem conflitos armados na sua definição, podem exigir o uso de ações militares.

Por outro lado, a Unuião Europeia chegou rapidamente à conclusão que nenhum Estado-membro só por si tem orçamento suficiente para fazer face às despesas que a defesa comum acarretaria – nem mesmo a maior potência militar europeia, a França (quando o Reino Unido sair). Segundo Bruxelas, a União desperdiça cerca de 26.400 milhões de euros por ano devido à duplicação de recursos, sobre-capacidade e redundâncias nos sistemas – isto num quadro em que a investigação e desenvolvimento relacionados com a Defesa caiu de 23,5% do investimento total em 2015 para 21% em 2017.

Mas o projeto está envolvido em enormes dificuldades potenciais, como recordou ao Jornal Económico o académico e João Estevens, responsável por um estudo aprofundado sobre imigração e conflitos no interior da União Europeia. Para aquele investigador, existe desde logo a dificuldade de um exército europeu poder vir a ter 27 comandos diferentes, o que, em termos práticos é um poderoso entrave à existência de uma estrutura rápida e eficaz na sua intervenção.

E depois, recorda ainda, não há uma tradição de envolvimento dos países numa estrutura de defesa comum, o que pode levantar alguns problemas de envolvimento. Ou, dito de outra forma, é possível que os militares de determinado país se vejam pouco ‘entusiasmados’ em intervir num determinado conflito que não tenha a ver com a geografia de onde são oriundos.NAT

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