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Fernando Negrão põe fim à audição na sequência da crispação entre Nuno Vasconcellos e Mariana Mortágua

“Houve uma crise mundial dos últimos 10 anos a que ninguém escapou. Foi uma crise a que os partidos políticos também não escaparam, alguns falidos tecnicamente há mais de sete anos e ninguém fala, só se fala em dois ou três empresários como se tivessem a culpa disto tudo”, disse Nuno Vasconcellos, irritando os deputados. Mariana Mortágua responde acusando Nuno Vasconcellos de ajudar Ricardo Salgado a rebentar com o BES e parte da economia portuguesa.
20 Maio 2021, 19h34

Ainda não tinha passado uma hora sobre audição a um dos grandes devedores do Novo Banco, com uma dívida herdada do Banco Espírito Santo, quando o presidente da mesa da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, deu por encerrada a sessão, “em nome da dignidade da comissão”.

Nuno Vasconcellos foi ouvido a partir do Brasil na comissão de inquérito. A Ongoing foi um dos  maiores devedores ao Novo Banco, com dívida de 520 milhões de euros que foi provisionada pelo BES, segundo revelou o empresário.

Numa das audições mais curtas de sempre, a audição ao ex-dono da Ongoing, decorreu sob um manto de crispação entre Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, que chegou a confessar que tudo o que queria é que o empresário fosse investigado pelo Ministério Público, e o ex-dono do Diário Económico que entrou em insolvência com a Ongoing em 2016 e recusa que as dívidas aos bancos sejam suas.

Entre trocas de acusações e a rejeição das dívidas, a audição foi tudo menos monótona. Nuno Vasconcellos defendeu sempre que “quem tem dívidas é a Ongoing” e que “nós demos garantias”.

“Tudo o que o BES me pediu, tudo o que o Novo Banco me pediu eu dei, a partir daí (de 2016) se foi mal gerido, não sei”, explicou.

Quando o inquérito ia nos detalhes das empresas em várias geografias, com a deputada a tentar fazer o rasto do dinheiro, eis que Nuno Vasconcellos chama a falência técnica de alguns partidos políticos ao barulho.

“Sempre que os bancos precisam de dinheiro lá vem a lenga-lenga de que a culpa é dos empresários. Não se podem esquecer que os bancos estavam cheios de dívida pública, que a dívida pública nos últimos anos só aumentava e passou a não valer nada, e tiveram de provisionar essa dívida pública que era provavelmente 40% do balanço dos bancos e a culpa é dos Governos que geriram mal nessa altura”, disse Nuno Vasconcellos que defendeu Luís Filipe Vieira como empresário “que se fez”. O ex-dono da Ongoing defendeu os empresários que deram emprego e que “de repente passaram a ser péssimos”.

“Houve uma crise mundial dos últimos 10 anos a que ninguém escapou. Foi uma crise a que os partidos políticos também não escaparam, alguns falidos tecnicamente há mais de sete anos e ninguém fala, só se fala em dois ou três empresários como se tivessem a culpa disto tudo”, disse Nuno Vasconcellos, irritando os deputados. Mariana Mortágua responde acusando Nuno Vasconcellos de ajudar Ricardo Salgado a rebentar com o BES e parte da economia portuguesa. “Deixou um calote de 600 milhões de euros e tem o desplante de vir aqui, do alto da sua moral, falar da crise e dos Governos. Por mim acabei a minha intervenção e não pretendo fazer qualquer pergunta ou dar qualquer tempo de antena ou palco para ouvir esta versão”, disse a deputada. Nuno Vasconcellos responde “não aceito essas suas acusações. Prove o que está a dizer”.

Quando começava a aquecer o inquérito o presidente da mesa Fernando Negrão pôs fim à audição a Nuno Vasconcellos dizendo “ficou claro de uma forma pública e notória que recusa  sistematicamente e sem explicações plausíveis que seja titular de qualquer dívida. Surge igualmente claro que não responde a nenhuma pergunta de forma construtiva e por último, resulta ainda claro que a sua única preocupação é construir a sua defesa. Em nome da dignidade desta comissão, eu e todos os deputados entendemos dar por terminada a audição”.

Foi assim que uma das audições mais esperadas da CPI ao Novo Banco teve morte súbita.

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