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Fitch: Santander e Caixabank são positivos para Portugal

Josu Fabo, responsável pelos ratings da banca, considera que a intervênção espanhola aumenta a concorrência e traz benefícios a todo o setor.
  • Reinhard Krause/Reuters
21 Janeiro 2018, 20h46

A aquisição de bancos portugueses por grandes instituições é positiva para o todo o setor e pode levar a aumentos dos lucros. Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor de ratings das instituições financeiras da agência Fitch afirmou em caso de problemas, as instituições espanholas vão suportar as portuguesas.

“O facto de grandes bancos em Portugal serem subsidiárias de bancos internacionais dá-lhes vantagem competitiva no futuro, porque beneficiam de apoio em termos de custos de financiamento”, explicou Fabo. “Do ponto de vista da estabilidade financeira, ter dois grandes bancos detidos por bancos espanhóis maiores, que estão dispostos a suportá-los caso haja problemas, pode ser positivo”.

O diretor de rating lembra que tradicionalmente a participação de Espanha no setor nacional é grande. Tanto antes de o Santander adquirir o atual Santander Totta (antigo Banco Totta & Açores), em 2000, como antes de o CaixaBank ficado com todo o capital do BPI, no ano passado, ambos já tinham participações relevantes.

Em dezembro, quando tirou o rating da República de grau especulativo, a Fitch melhorou a notação do Santander Totta e do Montepio Geral, enquanto nos casos do BCP e da CGD, mudou a perspetiva para positiva, mas manteve o rating em lixo. Em junho, tinha também melhorado a perspetiva sobre o BPI, apoiado no rating de suporte e no rating da dívida sénior, ou seja, na opinião probabilidade de apoio da matriz espanhola, caso seja necessário.

As alianças ibéricas não são apenas benéficas para as partes diretamente envolvidas, mas também para os concorrentes. “Em reação, os bancos domésticos também tentam encontrar soluções e serem mais competitivos”, disse Fabo, acrescentando que “coloca alguma pressão na rentabilidade”.

A rentabilidade é exatamente um dos dois principais problemas que o diretor de ratings vê nos bancos portugueses, apontando a necessidade de aumentar a eficiência através da redução de custos e digitalização.

“Rentabilidade e crédito malparado estão relacionado porque grandes quantidades de non-performing loans [NPL] reduz a capacidade dos bancos de gerarem lucros”, afirmou. O crédito malparado continua a ser o calcanhar de Aquiles do setor.

Fabo vê com bons olhos a solução encontrada pela CGD, BCP e Novo Banco – a plataforma para gerir de forma conjunta gerir créditos malparados entre 5 a 50 milhões de euros – mas alerta que não chega. “É uma boa iniciativa, que já vimos também em outros países, mas cobre apenas uma parte dos NPL. Além disso, já anunciaram a plataforma, mas ainda não transferiram exposição para lá. Vamos ter de ver o que acontece este ano. O impacto deverá ser interessante para os bancos, mas não vai ser game-changing”.

O desafio do malparado pode, a partir de 2019, ser dificuldade pela inversão da política monetária do Banco Central Europeu (BCE). A expetativa da Fitch é o BCE suba as taxas de juro de referência no próximo ano, o que beneficia os lucros, mas pode também ter implicações negativas. “A subidas dos juros é benéfico para os bancos a curto-prazo, mas se aumentarem demasiado e demasiado rápido, os juros pagos pelos detentores de crédito aumentam e cria um problema de qualidade”.

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