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Miguel Frasquilho avisa que TAP vai ter de passar por um “encolhimento temporário”

O chairman da companhia aérea afirmou que o “redimensionamento não implica necessariamente o despedimento de colaboradores, é prematuro estar a falar sobre isso”. Sobre o plano de reestruturação que terá de ser aprovado por Bruxelas disse que “não nos passa pela cabeça que o trabalho seja cortar rotas, cortar destinos. Temos de fazer valer os nossos argumentos” junto da Comissão Europeia.
  • Cristina Bernardo
25 Junho 2020, 08h13

A TAP vai ter de passar por um “encolhimento temporário”, alertou o presidente do conselho de administração (CA) da empresa.

“A nossa intenção não é ficar com uma TAPzinha. Mas sabemos que vão ter todos [no setor da aviação] de passar por um processo de encolhimento temporário. Vai haver um redimensionamento, vai acontecer a todas as companhias a nível mundial, não só à TAP”, avisou Miguel Frasquilho no Parlamento na quarta-feira.

O chairman da companhia aérea afirmou que o “redimensionamento não implica necessariamente o despedimento de colaboradores, é prematuro estarmos a falar sobre isso”,

“Não nos passa pela cabeça que o trabalho seja cortar rotas, cortar destinos. Temos de fazer valer os nossos argumentos [junto da Comissão Europeia], que serão muito válidos”,

“Não queremos uma TAPzinha ou uma TAPzona, queremos a TAP que interessa aos portugueses, que tenha valor e é por isso que nos vamos bater

O gestor acrescentou que “aquilo que vai acontecer por parte do Governo português e por parte da TAP é salvaguardar o valor estratégico da TAP, salvaguardar os postos de trabalho, e minimizar o impacto social e os sacrifícios que estão a ser feitos”.

Durante a audição, o chairman da companhia aérea também foi questionado sobre a razão pela qual a Comissão Europeia ter rejeitado apoiar a TAP ao abrigo dos apoios aprovados para o setor da aviação europeu devido à pandemia da Covid-19.

“É evidente que o Estado defendeu os interesses da TAP do primeiro ao último minuto”, argumentou Miguel Frasquilho na quarta-feira.

“A Comissão Europeia tem as contas da TAP, olha para o balanço e vê um grupo que tinha 600 milhões de capitais próprios negativos no final de 2019”, destacou em audição na comissão parlamentar de economia.

“Há  todo um historial que leva a qualificar a TAP como um grupo em dificuldades, não vejo como nos podemos espantar. A Comissão Europeia considerou ser a TAP uma empresa com dificuldades. Logo na primeira reunião isso ficou muito claro”, apontou.

“Um dos requisitos essenciais é a empresa não poder ser classificada como uma empresa em dificuldades no final de 2019. Foram feitas várias tentativas de evitar a reestruturação”, garantiu.

A TAP é detida em 50% pelo Estado português, com a consórcio privado Atlantic Gateway, que pertence aos empresários norte-americano David Neeleman e o português Humberto Pedrosa, a deter 45%.

O chairman da TAP admitiu que o empréstimo do Estado português no valor de 1,2 mil milhões de euros é “volumoso”, mas apontou para os exemplos de outras companhias aéreas europeias que vão receber apoios relevantes: Lufthansa, nove mil milhões de euros; Air France, sete mil milhões; KLM, quatro mil milhões.

Na decisão anunciada a 10 de junho, a Comissão Europeia decidiu que “a TAP não é elegível para receber apoio ao abrigo do Quadro temporário da Comissão relativo aos auxílios estatais, destinado a apoiar empresas que de outro modo seriam viáveis”.

No entanto, Bruxelas deu luz verde ao Estado português para realizar um empréstimo até 1.200 milhões de euros à companhia aérea. Esta decisão autoriza o Governo português a conceder o empréstimo sujeito a um reembolso ao fim de seis meses. Caso a TAP não pague tem de apresentar um plano de reestruturação ao fim de seis meses.

TAP não vai conseguir pagar empréstimo

No dia anterior, o presidente executivo da TAP tinha avisado no Parlamento que a empresa não vai conseguir pagar em seis meses o empréstimo de 1.200 milhões de euros.

“Não temos condições de pagar a dívida a seis meses. Nenhuma companhia aérea tomou empréstimos para pagar a seis meses”, afirmou Antonoaldo Neves na terça-feira.

Neste cenário, a TAP vai ter de apresentar em Bruxelas um plano de reestruração daqui a seis meses. O gestor adiantou que a empresa já está a trabalhar num plano de reestruturação para apresentar no espaço de três meses à Comissão Europeia, para depois ter três meses para negociar com Bruxelas. Antes disso, espera ter o plano pronto numa janela temporal entre 60 a 90 dias para o apresentar aos seus acionistas, para ser aprovado antes de ser enviado para Bruxelas.

Bruxelas vai ser “extremamente dura” com a TAP

Antonoaldo Neves também avisou que Bruxelas vai ser “dura” com a TAP quando tiver de aprovar o plano de reestruturação da companhia.

“Eu não espero nada menos de que uma Comissão Europeia extremamente dura com a TAP, preferia que fosse diferente”, afirmou ontem o gestor o Parlamento, apontando para outras companhias aéreas que foram obrigadas a cortar muitas rotas por Bruxelas.

“Todas as companhias europeias tiveram ajuda em forma de divida garantida. Não pedimos dinheiro ao Tesouro português. Pedimos ao Governo português garantias para pegarmos empréstimo com os bancos privados”, afirmou, referindo-se à carta enviada pela comissão executiva da TAP ao Governo a 19 de março.

O gestor recordou que empresas como a Air France ou a Lufthansa tiveram direito a garantias dos respetivos Estados para pedirem empréstimos, o que não vai suceder com a TAP.

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