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Giuseppe Conte responde a von der Leyen: “Ouço ideias que não são dignas da Europa“

“A solidariedade europeia, como você mesmo mencionou [Ursula von der Leyen], não foi sentida nos primeiros dias desta crise e agora não há mais tempo a perder”, alertou o chefe de Estado italiano.
3 Abril 2020, 12h24

O chefe do governo italiano respondeu, esta sexta-feira à carta aberta enviada por Ursula von der Leyen onde apelou por uma União Europeia (UE) mais “ambiciosa, unida e corajosa”, depois da presidente da Comissão Europeia ter reconhecido a falta de apoio prestado à Itália face aos impactos do surto da Covid-19 no país.

Publicada no jornal “La Repubblica“, a carta assinada por Giuseppe Conte começa por agradecer o “sentimento de proximidade” inspirado pela comissária e as suas palavras que, segundo Conte, “são a prova de que a determinação dos italianos abalou a consciência de todos, transcendendo as fronteiras nacionais e colocando no centro a reflexão mais urgente de hoje: o que a Europa está disposta a fazer não pela Itália, mas por si mesma“.

Porém, alerta para a falta de união entre os países do bloco europeu: “Ouço ideias que não são dignas da Europa“.

“Nos últimos dias, lembrei-me muitas vezes de como a emergência que estamos a enfrentar exige uma resposta extraordinária, uma vez que a natureza e as características da atual crise podem comprometer a própria existência do lar europeu comum. Não temos escolha, o desafio é este: somos chamados a dar um salto qualitativo que nos qualifica como “união” de um ponto de vista político e social, mesmo antes de um económico”, ressalva.

Sem mencionar exemplos concretos dessa falta de “distância” entre os países, a carta de Conte não deixa de relembrar a sugestão do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, de que a UE deveria investigar por que alguns países não têm verbas para lidar com os impactos económicos da crise do coronavírus. Uma sugestão rejeitada por António Costa e ao qual considerou-a como “repugnante”.

https://jornaleconomico.pt/noticias/antonio-costa-diz-que-discurso-de-ministro-holandes-das-financas-e-repugnante-566899

A Ursula von der Leyen, Conte pede que “solidariedade” seja a “a tinta que usamos para escrever esta página da história”, que sejam priorizadas as vidas humanas em causa e que, tal como em Itália, que a Europa não se confine “apenas aos manuais de economia” para a tomada das decisões mais importantes.

“A solidariedade europeia, como você mesmo mencionou, não foi sentida nos primeiros dias desta crise e agora não há mais tempo a perder”, alertou o chefe de Estado italiano.

A missiva continua, agradecendo o mais recente estímulo europeu emitido pela Comissão, dado que “permitiria a emissão de títulos europeus no valor máximo de 100 mil milhões de euros, contra garantias estatais de cerca de 25 mil milhões de euros”.  Porém, alerta que é necessário fazer mais, fazendo referência ao líderes, como os EUA, que estão a realizar “um esforço fiscal sem precedentes e nós, como italianos e europeus, não podemos perder não apenas o desafio de reconstruir nossas economias, mas também o da concorrência global”.

Face a isto, Conte relembra uma proposta feita pelo governo italiano, o Plano Europeu de Recuperação e Reinvestimento, que requer “apoio financeiro partilhado e, portanto, precisa de ferramentas inovadoras, como os títulos de recuperação europeu” e que têm como objetivo recuperar a estrutura económica europeia. O primeiro-ministro, aproveita para relembrar que a proposta não é sinónimo para a “partilha da dívida”, “nem garantir que que os cidadãos de alguns países tenham que pagar um único euro pela dívida futura de outros”.

Para o responsável italiano, não há dúvidas de que este ano será uma data decisiva na história da União Europeia e por isso acredita que “somente se tivermos coragem, apenas se realmente olharmos para o futuro com os olhos da solidariedade e não com o filtro do egoísmo, seremos capazes de lembrar 2020 não como o ano do fracasso do sonho europeu, mas do seu renascimento”.

“Diante de uma tempestade como a do Covid-19 que afeta a todos, não é necessário um colete salva-vidas para a Itália: é necessário um bote salva-vidas europeu sólido para levar nossos países unidos a encobrir. Não pedimos a ninguém para remar por nós, porque temos braços fortes”, apela.

 

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