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Hoje somos nós, amanhã são vocês

Nós, os jovens, não somos o futuro, somos o presente e temos um horizonte em vista.
22 Fevereiro 2018, 09h25

Esta doutrina do “hoje somos nós, amanhã são vocês” já começa a cansar um bocado. Aliás, os jovens estão fartos de esperar pela hora que chegará, pela derradeira emancipação, pela libertação das amarras daqueles que acham que ainda não estamos prontos para intervir ativamente na sociedade. Esta história da carochinha tem vindo a ser derrubada, e falo como jovem: nós não somos o futuro, nós somos o presente e temos um horizonte em vista.

Mas afinal de contas que horizonte é este? Será que os jovens portugueses estão assim tão preocupados com perspetivas futuras e em marcar a diferença? A resposta é, única e indubitavelmente, SIM.

Aquele estereótipo do “tuga” preguiçoso à sua medida é falso, prefiro uma mentalidade do “desenrasca”, mas bem desenrascado. Não por sermos o “bom aluno” da União Europeia, mas porque de há uns anos para cá tem vindo a formar-se uma tomada de consciência de que, realmente, temos que nos fazer à pista, nem que tenhamos de ser autodidatas.

Mais do que nunca – e falo como um “expert” da escola secundária –, tem vindo a ser abandonada pelos jovens aquela vertente da professora de escola sexagenária, sindicalizada e que prefere o aluno certinho que decorou o livro. Provavelmente, porque hoje aquilo que é mais valorizado tanto no ensino superior, politécnico e profissional como no mercado de trabalho, vai mais além do conhecimento intelectual. Introduzir componentes que preparem os jovens para a vida, para o mundo profissional e, sobretudo, para o empreendorismo, que tanto dá frutos em Portugal, é um must have.

Tanto no ensino secundário como no profissional é preciso fazer penetrar o conceito de “team building”. Nem sempre vamos trabalhar com os nossos amigos, com aquele colega que a única coisa que vai fazer no trabalho é por o nome no final. Pelo contrário, muitas vezes no mundo profissional vamos dividir o espaço com pessoas intragáveis, ao ponto de nem sequer dar para partilhar aquele café ou o cigarrinho da pausa. O que é que isto provoca? Queda de rendimento, menos produção e menos eficiência.

E se nos deixássemos de pieguices (perdoe-me o plágio Dr. Pedro Passos Coelhos) e introduzíssemos mecanismos que fomentem as inter-relações entre colegas, puramente do ponto de vista do trabalho? É apenas uma sugestão.

Outra questão flagrante da formação dos nossos jovens é que em 70 % das profissões é necessário comunicar, seja com o público, com os colegas ou a apresentar projetos. E onde é que está o sistema de ensino secundário e profissional na potencialização desta área importantíssima? A beber uma bica para depois marcar as faltinhas no livro de ponto, só pode. Introduzir uma componente de oratória seria um upgrade de grande dimensão naquela que será a malha ativa da sociedade.

É ainda de destacar que o sistema de ensino, de facto, ensina conhecimento, teoria, mas na verdade não educa. Não educa a importância de votar, o facto de termos a responsabilidade cívica de decidir o melhor para nós, as diferenças entre os partidos, o que naturalmente contribuirá para o aumento da abstenção jovem e a máxima universal quando se pergunta se vota: “Para quê? É tudo igual”.

Por outro lado, também não existe uma educação básica financeira, de preparação para a vida adulta, de como gerir o dinheiro, realizar um depósito, ir ao banco, fazer uma transferência. Isto não só prejudica o nível de poupança, mas também dá aso a situações de engano.

Em síntese, a camada jovem em Portugal é um diamante em bruto que precisa de ser polido, o que já vai acontecendo, só gostava que fosse mais rápido, e que o Sistema de Ensino Secundário e Profissional ajudasse porque, afinal de contas, nós jovens somos mesmo o presente.

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