Livro cruel e alegre no dizer do próprio autor, mas acima de tudo surpreendente e fascinante, capaz de dividir o leitor perante a beleza da sua escrita – hiper-realista e fantástica, excessiva e barroca – e o espetáculo hilariante e grotesco das cenas terríveis que descreve, este livro é um relato impiedoso e lírico da Europa em pleno teatro bélico da Segunda Guerra Mundial, a descrição de um inteiro continente em chamas e arremessado para o abismo da desintegração política e moral, vivenciado diretamente pelo autor – escritor, intelectual, diplomata e herói de guerra –, Curzio Malaparte, que foi capitão das tropas alpinas e correspondente do jornal “Corriere della Sera”, com a missão de reportar os cenários que encontra nas várias frentes de guerra, da Polónia à Finlândia.
É desta tentativa impossível de simplesmente relatar o que vê e o que ouve, da convivência íntima com o lado inimigo, da desenvoltura e à-vontade com que se relaciona com altas patentes alemãs, priva com príncipes, ministros do III Reich e embaixadores, frequenta os salões nobres e experiencia o sofrimento de soldados e mujiques, que nasce “Kaputt” e a sua suite picaresca de histórias que se vão desfiando, uma a uma, para deleite e horror das elites europeias e gerações de leitores.
Iniciado em plena frente russa, durante o verão de 1941, e terminado em Itália, em 1943, já após a queda de Mussolini, “Kaputt” teve grande sucesso internacional, consagrando Malaparte como um dos maiores escritores do século XX.
O italiano Curzio Malaparte, pseudónimo de Kurt Erich Suckert, nasceu em Prato, perto de Florença, em 1898. Em 1914, com apenas dezasseis anos e antes de a Itália entrar na Primeira Guerra Mundial, alista-se como voluntário no exército francês.
Em 1926, antes de se tornar editor do “La Stampa”, cofundou “900”, uma revista influente e cosmopolita, que contava com a colaboração de nomes como James Joyce e Ilya Ehrenburg. Tal como Gabriele D’Annunzio, tornou-se um dos mais poderosos escritores associados ao partido fascista, de que se tornara um precoce apoiante. Acabaria por repudiar o fascismo (depois da Segunda Guerra Mundial, aproxima-se da esquerda) e, em 1931, a publicação do seu livro “Técnica do Golpe de Estado” resultaria numa pena de prisão de cinco anos, cumprida na ilha de Lipari.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ruma à Frente Leste como correspondente de guerra do “Corriere della Sera”, cuja experiência usa como mote para os seus livros mais célebres, este “Kaputt”, editado em Portugal pela Cavalo de Ferro, e “A Pele”. Escreveu também textos para teatro e cinema, tendo morrido em Roma, em 1957.
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