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Melhor fundo de investimento tem uma rendibilidade de 39%. Será uma boa aposta para 2022?

Nos fundos de investimento não há garantia de rendibilidade e nem sequer a garantia do capital investido e quando se faz as contas em termos de rendimento anualizado é preciso ter em conta que pode existir a comissão de subscrição e de resgate. Saiba se é uma boa aposta para 2022.
17 Dezembro 2021, 11h45

A opção por um fundo de investimento foi uma boa decisão em 2021? A resposta está nas rendibilidades divulgadas pela APFIPP – Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios com dados até 10 de dezembro último. O melhor fundo de investimento mobiliário (FIM) fez aplicações em ações da América do Norte e gerou uma rendibilidade anualizada de 39%.

Mas, atenção, nos fundos de investimento não há garantia de rendibilidade e nem sequer a garantia do capital investido e quando se faz as contas em termos de rendimento anualizado é preciso ter em conta que pode existir a comissão de subscrição e de resgate. É preciso ler bem as condições do investimento plasmadas na ficha técnica.

Dito de outra forma. Um fundo de investimento é um cabaz com um conjunto de ativos e a primeira grande lição a tirar é de literacia financeira e revela que é preciso conhecer as classes de ativos onde em determinado período é conveniente investir.

Como veremos à frente nem todas as geografias do globo registaram performances boas e algumas até foram negativas e 2021 foi um ano de exuberância no mercado de ações e menos no de obrigações, enquanto o mercado de fundo imobiliários registou performances interessantes perante a recuperação da economia.

E antes de entrarmos em alguns números convém perceber que aquilo que esteve por detrás do excecional resultado dos FIM, cujos gestores optaram por investir em ações, foi uma economia global em recuperação, a reação a um período pandémico, a queda de muitas indústrias e foram ainda as opções dos bancos centrais, com destaque para a Reserva Federal e o Banco Central Europeu que deram muita liquidez ao mercado e que atualmente estão a reverter suavemente as posições.

As declarações do presidente da FED, Jerome Powell, a meio do mês de dezembro acalmou os mercados e sinalizou a importância de uma inflação persistente e a necessidade de acelerar o ritmo do “tapering”, ou seja a redução dos estímulos com a compra de ativos. O grande acontecimento para os mercados financeiros e para os gestores dos fundos de investimento está em perceber como controlar a inflação sem estrangular a economia. Para 2022 está previsto três subidas da taxa de juro diretora pela FED nos EUA.

E foi aquele tipo de declarações que foi crítico para a performance dos FIM centrados em ações americanas. No mercado dos fundos de investimento nacional foi excecional a performance dos “10 melhores” no ranking da APFIPP. As rendibilidades anualizadas até à primeira semana de dezembro, indicam valorizações entre os 23,7% e os 39%, embora o nível de risco seja elevado. E tudo acontece graças ao rally das ações europeias mas muito em particular à excecional performance de títulos cotados no mercado norte-americano.

O melhor resultado em termos de rendibilidade anual aconteceu com o FIM BPI América – Classe D gerido pelo BPI Gestão de Ativos com um ganho de 39%; sendo que a mesma gestora obteve uma rendibilidade de 36% para um outro FIM, o BPI Ações Mundiais, sendo que neste caso a categoria do fundo está em “Ações Globais”. Acima dos 30% de rendibilidade tivemos o fundo IMGA Ações América – Categoria A; e ainda neste “top 5” temos o fundo IMGA Global Equities Selection – categoria A; e ainda o Caixa Ações Líderes Globais. Todos estes fundos apresentam um risco elevado e apenas o FIM gerido pelo Caixa Gestão de Ativos apresenta um valor sob gestão considerável: quase 1900 milhões de euros. Os restantes têm valores sob gestão de apenas algumas dezenas de milhões de euros.

Mas o que é interessante analisar é o conjunto de FIM disponíveis no mercado por classes. Ao longo de 2021 foi claro que as classes mais interessantes foram os fundos de ações nacionais com rendibilidades anualizadas a 1 ano em torno dos 20%, enquanto os FIM de ações ibéricas oscilaram entre os 7% e os quase 18%, ao passo que os fundos de ações europeias andaram consistentemente acima dos 20% e os líderes foram os fundos de ações americanas onde se estabeleceram máximos.

Relevante ainda a aposta em fundos de ações setoriais com temas como a energia, a área financeira, a saúde, as telecomunicações e as utilities que revelaram excelentes resultados entre os 9% e os 20%. A categoria de fundo de ações globais foram ao reboque das ações americanas e tiveram resultados entre os 22% e os 36%. Em contraste, os fundos de ações internacionais que incluem ações de mercados emergentes e da Ásia Pacífico revelaram resultados menos excitantes.

Com o mercado de ações exuberante, os fundos defensivos apresentaram resultados irrelevantes e mesmo os fundos com ativos moderados não foram além de rendibilidades da ordem dos 6%. A categoria de fundos agressivos e ao contrário da expetativa não conseguiram aproveitar os melhores momentos de algumas geografias e chegaram a dezembro com rendibilidades anualizadas médias de 10%.

Um aspeto relevante na contratação da gestão e determinado valor para aplicar em FIM é a avaliação que tem de ser feita ao nível das comissões de subscrição e de resgate, e que no caso de fundos de obrigações ou de fundos de risco reduzido ou moderado poderão as rendibilidades não ser suficientes para pagar as referidas comissões pedidas pelo banco ou pela gestora de fundos. Será sempre necessário estudar a ficha técnica de cada uma das aplicações. Sendo que os FIM se caracterizam globalmente por serem instrumentos de poupança de médio e longo prazo é preciso perceber através da ficha técnica o período necessário para o resgate.

Fundos imobiliários condicionados

O crescimento da economia foi crítico para performance dos fundos de investimento imobiliários, nomeadamente os fundos abertos que se tornaram populares. A generalidade dos FII (fundos de investimento imobiliários) tem os ativos em situação produtiva, ou seja, estão arrendados e foi possível transações a gerarem mais-valias. E antes de fazer um investimento em unidades de participação de um FII o investidor precisa saber se quer estar presente num fundo aberto, num fundo fechado ou no misto das duas categorias. A subscrição num fundo aberto mais não é do que aumentar ou reduzir o número de unidades de participação (UP), enquanto num fundo fechado as UP mantêm-se mas poderão ser transacionadas.

Os dados da APFIPP sobre FII são de final de outubro e revelam que nos fundos abertos de rendimento as rendibilidades anualizadas variam entre os 3,5% e os 5,4%, enquanto os fundos abertos de acumulação registam ganhos anualizados entre os 4% e os 5,5%, o que está em linha com os dividend yield obtidos nos arrendamentos dos ativos subjacentes aos fundos. Os fundos fechados apresentam disparidades grandes nas rendibilidades.

A par das eventuais comissões de subscrição e resgate a liquidez é um tema crítico nos fundos imobiliários. E isto porque genericamente até 2015 os fundos abertos podiam ser subscritos e resgatados todos os dias, existindo um pequeno diferimento para a liquidação financeira. O resgate poderia envolver penalização, dependendo das condições de subscrição e que geralmente envolvia um período mínimo de permanência. A situação veio a alterar-se, tendo sido criadas “janelas” para o resgate.

Para se perceber esta opção ditada pela entidade de supervisão, a CMVM, tem de se recuar à crise financeira de 2008, numa altura em que entidades como o BPN chegaram a pagar 7% em depósitos a prazo e que levou sociedades gestoras detidas pelos bancos a recomendarem o resgate de UP em fundos de investimento imobiliário para aplicarem em DP e que gerava uma taxa quase igual e sem risco aparente. Uma história da altura revela que o fundo imobiliário aberto do extinto Banif chegou a uma situação em que 70% do referido FII estava em clientes com ativos superiores a 1 milhão de euros.

Este era um cenário que implicava para a gestora fazer a gestão de ativos e passivos e com a saída de qualquer um destes clientes gerava-se turbulência no fundo. Foi uma altura de resgates em catadupa, mas os bancos mantiveram a possibilidade de resgates e não ocorreram suspensões. Foi nesse período que gestoras de FII e banca pressionaram o regulador para a criação das chamadas “janelas de resgate”, ou seja, foi criado um período para sair do fundo.

Num modelo inicial o participante em FII só poderia resgatar ao fim de 1 ano e depois teria uma janela de seis meses ou de 12 meses para o fazer, o que significou na prática que o resgate de UP de alguns fundos só era feito ao fim de dois anos. Isto resultou num um ticket médio de entrada cada vez maior e o afastamento dos pequenos aforradores que perante situações de contingência não poderiam resgatar.

Em 2019 houve uma alteração nos regulamentos dos fundos, imposta pela CMVM, sendo que o período de 1 ano de permanência para o resgate manteve-se mas as janelas passaram a ser de dois em dois meses. Este modelo de resgate que está em vigor continua a ser contestado por algumas gestoras que defendem a possibilidade de um resgate a todo o tempo para aplicações até determinado valor, mantendo-se as “janelas” para aplicações elevadas.

A perspetiva dos fundos de investimento imobiliários para 2022 é muito positiva, tendo em conta que as taxas de juro irão manter-se muito baixas, a par de elevada liquidez e que irão gerar muitas transações de imóveis. A procura de espaços para escritórios, comércio e habitação manter-se-á elevada.

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