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Ómicron. O que já se sabe sobre a nova variante que está a preocupar as autoridades de saúde?

Com casos detetados em seis países do sul de África, a comunidade científica olha com atenção para esta nova variante que foi considerada pela OMS como uma “variante de preocupação”. Face à sua rápida disseminação, a União Europeia já decretou suspender todos os voos vindos de seis países africanos, incluindo Moçambique.
26 Novembro 2021, 18h30

A nova variante detetada na África do Sul está a preocupar as autoridades de saúde e os especialistas uma vez que, ao contrário de outras variantes, esta parece resistir às vacinas e ameaça criar novos surtos da pandemia numa altura em que já se assiste a um aumento de novos casos e alguns países voltaram a confinar. O que é que se sabe?

Como se chama e de onde apareceu?

A variante, inicialmente descrita como B.1.1.529 foi apelidada, esta sexta-feira de Ómicron. Esta estirpe foi detetada esta semana na África do Sul depois de o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis do país ter confirmado, na quinta-feira, que havia 22 casos positivos.

Apesar de ter sido registada primeiro na África do Sul, sabe-se que existem quatro casos confirmados no Botsuana e um em Hong Kong, sendo que este último trata-se de uma pessoa que regressou à região vindo da África do Sul.

Quanto à sua origem, ainda é incerta, uma vez que a estirpe é nova e carece de análise. Segundo um cientista do Genetics Institute em Londres, a nova variante poderá ter surgido de uma evolução do vírus na sequência de uma infeção crónica de uma pessoa com o sistema imunológico comprometido, possivelmente um doente com HIV não tratado.

A África do Sul conta com 8,2 milhões de pessoas com HIV. A variante Beta, a mutação identificada no ano passado no país, poderá também ter vindo de uma pessoa infetada com HIV.

Quão séria é esta nova mutação?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, que se reuniu de emergência esta sexta-feira, a variante Ómicron foi considerada como uma “variante de preocupação” por ter “um grande número de mutações, algumas das quais preocupantes”.

Os responsáveis explicam que “a situação epidemiológica na África do Sul foi caracterizada por três picos distintos nos casos relatados, o último dos quais foi predominantemente a variante Delta”, sendo que “nas últimas semanas, as infecções aumentaram abruptamente, coincidindo com a detecção da variante B.1.1.529”. O primeiro caso confirmado foi registado a 9 de novembro de 2021.

Tal como já tinha sido indicado pelas autoridades de saúde da África do Sul, esta nova variante registou “um grande número de mutações” algo que é considerado como “preocupante”.

Segundo a OMS, as “evidências preliminares sugere um risco aumentado de reinfecção com esta variante” comparativamente às restantes já em circulação — Alfa, Beta, Gamma e Delta.

Essta mutação apresenta um elevado número de mutações na proteína “spike”, usada pelo coronavírus, para entrar nas células. De acordo com o professor Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta a Epidemias e Inovação na África do Sul, numa conferência de imprensa esta quinta-feira, existe um “conjunto incomum de mutações” e que é “muito diferente” de outras variantes que circulam atualmente.

Segundo o responsável, existem atualmente mais de 100 mutações desta estirpe na África do Sul, sendo que mais de 30 contém a proteína “spike”, que é o alvo da maioria das vacinas e a chave que o vírus usa para abrir a porta de entrada nas células do nosso corpo.

Os resultados dos testes PCR mostram que 90% dos 1.100 novos casos reportados na quarta-feira no país dizem respeito à B.1.1.529, segundo adiantou à “Bloomberg” Tulio de Oliveira.

Já foi detetado algum caso em Portugal?

Ainda não. O primeiro caso confirmado conheceu-se na passada sexta-feira e trata-se de de uma mulher, não vacinada, na Bélgica que regressou de viagem e começou a apresentar sintomas onze dias depois de ter viajado para o Egito com passagem pela Turquia. Desde então, a Alemanha, Itália e República Checa já confirmaram a existência de casos confirmados, tal como na Austrália.

O investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) João Paulo Gomes afirmou esta sexta-feira, à Lusa, que a nova variante do coronavírus detetada na África do Sul é “um motivo de preocupação, mas não é motivo de alarme total”, adiantando que ainda não foi identificado nenhum caso em Portugal.

“Ela emergiu na África do Sul e pensa-se que possa estar associado à elevada taxa de positividade que está agora reportada naquele país”, havendo alguns “casos esporádicos” nos países vizinhos, nomeadamente no Botsuana, adiantou João Paulo Gomes.

Que medidas foram tomadas pela União Europeia?

A Comissão Europeia anunciou esta sexta-feira que vai suspender temporariamente as viagens da África Austral devido à nova variante do Covid-19 proveniente do continente africano.

De acordo com a notícia avançada pela presidência eslovena da União Europeia, na rede social Twitter, todos os voos da África do Sul, Namíbia, Lesoto, Essuatíni, Zimbabué, Moçambique e Botswana estão temporariamente suspensos.

Um comité de peritos dos 27 Estados da UE “concordou com a necessidade de impor restrições temporárias a todas as viagens a partir da África Austral com destino à Europa”, disse no Twitter a presidência eslovena da UE.

A decisão foi tomada depois de alguns países terem adotado restrições de viagens. O Reino Unido foi o primeiro a adotar medidas duras ao banir voos da África do Sul, Namíbia, Botsuana, Zimbabué, Lesoto e Suazilândia. Já a Alemanha, República Checa, Itália, Países Baixos e Espanha tinham anunciado o bloqueio da entrada no país a pessoas vindas da África do Sul. Já a Grécia exigia apenas a apresentação de um teste negativo e cumprimento de quarentena de 14 dias.

A medida aplicada aos seis países também foi adotada na Singapura, Arábia Saudita e Malásia e inclui também o Moçambique.

Nos Estados Unidos, o imunologista encarregue de traçar a estratégia de combate à pandemia no país, Anthony Fauci, afirmou esta sexta-feira que a proibição de voos de países da África Austral está em cima da mesa.

O que diz o governo sul africano?

O ministro da Saúde da África do Sul, Mathume Phaahla, afirmou esta sexta-feira que a reação do Reino Unido e de outros países da Europa à nova variante descoberta no seu país é “injustificada” e “unilateral” De acordo com a “Reuters”, Phaahla insistiu que as autoridades sul-africanas estão a agir com transparência.

“Embora estudos preliminares sugiram que a variante pode ser mais transmissível, a reação de alguns países ao impor a proibição de viagens é totalmente contra as normas e padrões da OMS”, afirmou, destacando que está confiante de que as vacinas continuam a ser o grande bastião contra o vírus.

Notícia publicada a 26 de novembro às 18h30 e atualizada às 10h47 de 28 de novembro com mais informações

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