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Paciência esgotada? Fed deverá abrir hoje a porta para corte da taxa de juro

Debaixo de pressão intensa de Trump e da guerra comercial, Jerome Powell deverá manter as taxas inalteradas, mas vai aproveitar a reunião que termina esta quarta-feira para sinalizar um corte na ‘federal funds rates’ em julho ou em setembro, segundo os analistas. A projeção para a inflação deverá ser revista em baixa.
19 Junho 2019, 07h35

A paciência é uma virtude, mas para Jerome Powell deverá ser de curta duração. Sob forte pressão de Donald Trump, direta e indireta, o presidente da Reserva Federal (Fed) deverá esta quarta-feira sinalizar que o banco central dos Estados Unidos está a considerar aumentar a taxa de juro em breve.

A 30 de janeiro, após a reunião do Federal Open Market Committee (FOMC, órgão da Fed que decide a política monetária), Powell afirmou que o banco central iria, à luz dos desenvolvimentos económicos e financeiros a nível global e as pressões ténues da inflação, ser paciente na determinação dos ajustamentos do intervalo alvo da federal funds rate.

Nos meses seguintes, Powell reiterou a mensagem, mas após os tais desenvolvimentos se terem intensificado, prepara-se para alterar a posição na reunião de dois dias do FOMC que termina esta quarta-feira.

“Receios sobre as implicações económicas da disponibilidade do presidente Trump em usar as tarifas em disputas comerciais significa que os riscos negativos para o crescimento estão a aumentar”, referiu James Knightley, economista-chefe internacional do banco de investimento holandês ING. “Esperamos que esta quarta-feira a Fed sinalize que cortes na taxa de juro estão à vista, como forma de precaução”.

O presidente da Fed já preparou o terreno. A 4 de junho disse que a Fed está a monitorizar atentamente as implicações destes desenvolvimentos nas perspetivas económicas dos EUA e vai agir de forma apropriada para sustentar a expansão. Os mercados, ansiosos após as quedas nas bolsas em maio provocadas pela escalada do conflito comercial, apontam agora para um corte de 25 pontos base em julho na taxa de juro diretora, a partir do atual intervalo de entre 2,25% e 2,5%, seguido de mais três descidas nos próximos 12 meses.

A questão do timing é, portanto, crucial na gestão da Fed sobre as expetativas dos mercados e dos agentes económicos. Para Franck Dixmier, global head of fixed income da Allianz Global Investors (GI), Jerome Powell terá de se empenhar “num ato de equilíbrio: se a resiliência da economia dos EUA, que permanece robusta, não lhe fornecer um argumento que justifique uma mudança na política monetária, deve indicar que o banco central está pronto para um Fed Put se necessário, para compensar os efeitos negativos das tensões comerciais”.

“Parece-nos, agora, muito provável que o próximo passo da Fed seja um corte nos juros, não um aumento. Contudo, acreditamos que não tomará uma decisão na reunião de 19 de junho”, adiantou.

A razões para essa posição da Allianz GI são várias: a economia dos EUA é resiliente e a Fed precisa de mais tempo e dados reais para ajustar em baixa a sua orientação futura;  a normalização da política monetária foi suspensa após nove aumentos e a partir de níveis historicamente baixos, o que limita a margem de manobra do banco central; e os mercados acionistas dos EUA estão próximos de máximos históricos.

Evitar o erro

“Finalmente, Jerome Powell deve evitar um erro de política monetária a todo custo: mesmo que improvável, não pode ser excluída a possibilidade de se alcançar um acordo de comércio favorável entre os Estados Unidos e a China. Isso poderia reavivar a economia americana e conduzir a um aumento da inflação, e a antecipações de inflação”, explicou Dixmier.

A visão da Allianz GI sobre o calendário do corte das federal funds rate é, aliás, partilhada pelo mercado. Segundo o CME FedWatch Tool, que monitoriza a negociação dos futuros da taxa de juro, a probabilidade de um corte já esta quarta-feira é de apenas 22,5%, enquanto a de uma descida em julho é de cerca de 80%.

O ING tem uma visão diferente – acredita que o primeiro corte na taxa deverá acontecer em apenas em setembro e o segundo em dezembro, com base nos fortes fundamentais da maior economia do mundo. Salienta, no entanto, que se a Fed emitir um alerta forte sobre os riscos se tornarem mais negativos, poderá rever as previsões de cortes para julho e setembro.

Em relação à reunião desta quarta-feira, o ING acredita que a Fed irá abandonar o termo “paciente” no comunicado, substituindo o por “monitorização próxima” e ao mesmo tempo rever em baixa as projeções sobre a inflação, para ajudar a abrir a porta de regresso a uma política mais acomodatícia.

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