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Portugal é um dos países onde mais se trabalha fora de horas

Um estudo da Michael Page confirma Portugal como um dos países de proliferação do chamado ‘home office’. O governo vai atacar o problema na Concertação Social.
17 Novembro 2018, 15h00

Muitos portugueses passam horas a trabalhar ao serão, aos fins-de-semana e até nas férias, encurtando o tempo que têm para si, para a sua família e para os amigos. A conclusão é do estudo Work Life Balance, da empresa de recrutamento especializado Michael Page, realizado em 13 países da Europa, a que o Jornal Económico teve acesso.

Neste grupo, Portugal integra o “Top 3” dos países onde os trabalhadores levam mais trabalho de casa. Pior mesmo só a Espanha. Aos fins-de-semana acontece o mesmo. E durante as férias? Igual. De acordo com o estudo, quase metade dos inquiridos também faz algum tipo de trabalho, às vezes (sometimes, no original em inglês). E quando trabalha fora do horário de trabalho onde o faz? “Em casa”, diz a maioria.

O chamado home office leva a que a esfera profissional e pessoal esteja cada mais indissociável entre si, o que torna quase impossível descortinar a linha vermelha que não deve ser passada. A questão está a preocupar o governo, que vê no desequilíbrio entre os dois pratos da balança uma agravante ao problema demográfico. António Costa quer adoptar medidas. Isso mesmo anunciou em maio último, na Batalha, no encerramento do Congresso do PS, onde prometeu levar o assunto ainda este ano à Comissão Permanente da Concertação Social, órgão que junta governo, patrões e sindicatos.

“Temos que procurar construir um grande acordo de Concertação Social, que permita a conciliação entre a vida pessoal e a vida profissional”. Essa conciliação, acrescentou, implica sermos inventivos: “Temos que ser capazes de encontrar uma nova fórmula de modelação do horário de trabalho ao longo da vida, de forma que ter trabalho e ter família não seja algo inconciliável. Temos de criar condições únicas e extraordinárias. Este tem de ser um grande desígnio nacional para podermos ter uma década de convergência com a União Europeia”, afirmou.

O estudo da Michael Page também avaliou o impacto que os equipamentos fornecidos pelas empresas têm na vida pessoal dos seus colaboradores.

Portáteis, telemóvel profissional, tablet, viatura e computador são, por esta ordem, os equipamentos mais em voga. No geral, segundo o estudo, quase metade (47%) do total dos inquiridos encara como negativo o impacto dos dispositivos nos seus estilos de vida. Tanto o telemóvel como o portátil levados para dentro de casa acabam por passar a linha vermelha do que seria suposto. Também aqui Portugal se destaca, sendo o terceiro no grupo dos 13 países analisados que mais telemóveis fornece aos seus colaboradores. Seguem-se Alemanha e Espanha. De igual modo, Portugal é dentro do universo analisado, o país onde os inquiridos mais usam o portátil para efeitos profissionais e pessoais: 52,1% dos inquiridos dizem fazê-lo.

Outro hábito muito português é aproveitar o horário de trabalho para pôr a conversa em dia: 64,1% dizem telefonar à família e aos amigos durante o horário de trabalho. Um número ainda um pouco maior (65,1%) diz enviar e mails do trabalho para fins pessoais. E uma fatia igualmente considerável (39,6%) consulta as redes sociais enquanto está no local de trabalho. Nos três itens, Portugal está acima da média dos 16 países analisados, um desempenho que só é batido pelos turcos. Há, no entanto, se quisermos, um fator de desagravo: os portugueses fazem tudo isso, sim, mas rapidamente. A larga maioria (77,5%) diz que essas atividades lhes ocupam menos de 30 minutos.

Mas o contrário também se verifica. A maioria dos portugueses também consulta o email profissional fora das horas de trabalho, incluindo aos fins-de-semana. E o mesmo se passa com as chamadas telefónicas, incluindo aos fins-de-semana. No caso dos telefonemas é segundo depois da Turquia, nos emails é terceiro.

A Michael Page também procurou medir a relação entre os trabalhadores e os seus colegas e entre os trabalhadores e as chefias e o impacto destas relações na produtividade. De forma geral, os inquiridos de todos os países relevam um bom ambiente de trabalho. Na Áustria e em Espanha, é quase unânime a opinião de que as boas relações produzem resultados, impactam na produtividade. Em Portugal, 71,8% concorda. A percentagem está em linha com a Bélgica, França, Luxemburgo e Países Baixos. Ainda assim, este grupo de cinco países são os que menos relevam a importância dessa relação.

O estudo foi feito a 5.196 trabalhadores entre os 25 e os 65 anos de idade, em 13 países da Europa –  Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Espanha, Suécia, Suíça e Turquia – e evidencia não só uma alteração profunda na forma de trabalhar como as consequências dessa alteração no estilo de vida a que estávamos habituados. A mudança não só chegou como avança a ritmo acelerado.

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