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Turquia quer substituir a NATO na defesa do aeroporto de Cabul

O regime de Ancara ofereceu-se para defender e administrar o Aeroporto Internacional Hamid Karzai em Cabul, capital do Afeganistão. Com as tropas ocidentais de saída, o país parece estar na mira do aumento da importância regional da Turquia.
8 Junho 2021, 17h40

As forças dos Estados Unidos e do restante ocidente, mais a NATO, estão de saída do Afeganistão depois de quase duas décadas de guerra que pouco efeito tiveram no país, além de o colocar no mais absoluto caos e ingovernabilidade. Neste contexto, o governo da Turquia endereçou uma proposta para assumir a defesa e a gestão do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, que serve a capital, Cabul.

As autoridades turcas adiantaram à agência Reuters que Ancara fez a proposta em maio, quando os Estados Unidos e os seus parceiros concordaram num plano para retirar as tropas até 11 de setembro próximo, após 20 anos a tentarem derrotar as forças dos Taliban, que já chegaram aos arredores de Cabul.

Segundo a agência, as autoridades turcas e norte-americanas debateram a missão e, segundo Ancara, a Casa Branca terá concordado com a proposta – até porque não há qualquer alternativa no horizonte. Com as negociações entre o governo e os insurgentes radicais muçulmanos paradas e sem perspetivas de chegarem onde quer que seja, Ancara decide assim colocar mais um peão no complicado tabuleiro da região – estendo ainda mais os seus interesses, numa clara estratégia de se tornar uma potência regional.

Sendo a Turquia um país da NATO, fica claro que a intenção de Ancara é ter uma política externa independente da aliança. Os analistas contactados pela Reuters afirmam que a proposta turca é vantajosa para os interesses do ocidente – mas isso carece de prova: desde logo porque os interesses do ocidente são, aparentemente, os de abandonar o terreno, o que aliás está a fazer. Por outro lado, e perante as evoluções recentes em diversos outros cenários (como no Mediterrâneo Oriental e nas relações com a Rússia, nada prova que a agenda da Turquia é comum à do ocidente.

Mesmo assim, e segundo os jornais locais, o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, disse que a oferta de Ancara dependia do apoio dos aliados. “Pretendemos ficar no Afeganistão dependendo das condições. Quais são as nossas condições? Apoio político, financeiro e logístico. Se isso for atendido, podemos permanecer no Aeroporto Internacional Hamid Karzai”, disse Akar.

Os líderes da NATO têm em vista debater a questão do Afeganistão cimeira da próxima semana em Bruxelas, altura em que o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, vai encontrar-se com o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, pela primeira vez desde que este assumiu a presidência.

Pelo menos 150 soldados afegãos foram mortos ou feridos numa onda de ataques dos Taliban no final da semana passada. A Turquia tem mais de 500 soldados estacionados no Afeganistão como parte da missão da NATO (para treinar as forças de segurança afegãs), mas Ancara já fez saber que o contingente não é suficiente para defender o aeroporto.

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