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Volodymyr Zelensky: Passa a presidir fora da televisão

Interpretar um presidente na série “Servo do Povo” catapultou o comediante de 41 anos, recém-chegado à política, para a vitória eleitoral esmagadora queo torna o próximo Chefe de Estado da Ucrânia.
12 Maio 2019, 11h00

“Nunca vos irei desapontar”, prometeu Zelensky na sede de campanha, numa altura em que já sabia a dimensão da vitória e tinha a certeza de que conseguira suplantar Poroshenko em todas as regiões. Um sinal tão mais importante quanto o presidente eleito costuma falar em russo, ao passo que o rival prefere expressar-se em ucraniano, o que é tudo menos um detalhe num país entalado entre o Ocidente e Moscovo.

Mas não se julgue que Vladimir Putin, elevado a inimigo-em-chefe de Kiev devido à ocupação militar da península da Crimeia e ao apoio às autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e de Luhansk, terá um amigo em Zelensky, apesar das promessas de diálogo. “Estou preparado para chegar a um entendimento com o demónio para que mais ninguém morra”, disse durante a campanha, numa comparação capaz de destruir quaisquer pontes com estadistas de sangue menos gélido do que o presidente da Rússia.

Apesar das incertezas quanto ao seu estilo presidencial , Zelensky tem um passado que está longe de indiciar que venha a tornar-se um fantoche de Moscovo. Apoiou os protestos pró-ocidentais da praça Maidan em 2014, que levaram ao afastamento do presidente pró-russo Viktor Ianukovitch, e a sua equipa já deixou claras indicações de que não estará disposto a trocar o reconhecimento da anexação da Crimeia pela paz nas regiões controladas por milícias pró-russas no leste.

Mas para impor a mudança que pretende para a Ucrânia,_Zelensky tem de superar um enorme teste: as legislativas que irão decorrer no outono e nas quais o seu partido, “Servo do Povo”, liderado por Ivan Bakanov, advogado da produtora da série, tem de assegurar uma base parlamentar à prova de impasses. Mais ou menos como a República em_Marcha, de Emmanuel Macron, agora maioritária na Assembleia Nacional francesa, mas com a diferença de que do outro lado da fronteira está a Rússia e não a Alemanha.

Há, no entanto, uma pista para perceber o que vai na cabeça do filho de judeus, casado com a arquiteta convertida em argumentista Olena, mãe dos seus dois filhos. O último dos 51 episódios das três temporadas de “Servo do Povo”, transmitido pelo canal 1+1 no final de março, terminou com a reconciliação de todos os ucranianos, capazes de sacrificarem as suas poupanças para que o país pudesse pagar a dívida externa e assegurar a total independência em relação aos vizinhos do Ocidente e de Leste. Um final feliz para uma sátira cheia de peripécias – a personagem de Zelensky chega a ser deposta e detida por golpistas -, mas em que Vladimir Putin (e a guerra sangrenta) primam pela mais absoluta ausência.

Artigo publicado na edição nº 1986, de 26 de abril, do Jornal Económico

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