Nicolás Maduro quer recordar ao mundo que ainda tem aliados poderosos e uma visita oficial à Rússia é uma forma (quase) ideal de o fazer. É certo que talvez fosse politicamente mais relevante uma vista oficial à China, mas um encontro com Vladimir Putin, mesmo podendo ser uma segunda escolha, também acaba por servir os interesses do regime venezuelano.
É a primeira viagem oficial ao exterior do presidente da Venezuela desde que em janeiro passado, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se proclamou presidente interino do país e foi reconhecido por mais de 50 países – o que quer dizer que pelo menos 50 países estão indisponíveis para receberem Nicolás Maduro.
“Vários aspectos da cooperação bilateral serão discutidos”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado por vários jornais. Maduro e Putin encontraram-se ontem, mas o ‘sumo’ da viagem será discutido ao longo desta quinta-feira entre as delegações dos dois países.
É certo que a crise profunda que abala a Venezuela desde há muitos meses transforma o país num parceiro pouco apetecível em termos de acordos bilaterais, mas não é isso que está em causa: Maduro procura na Rússia um ‘vazadouro’ para o petróleo venezuelano e tudo o que possa atenuar o bloqueio do país, desde que não assuma (ou disfarce bem) a condição de ajuda humanitária.
“É claro que foram trocadas opiniões sobre questões regionais. Em primeiro lugar, as questões latino-americanas e a intervenção direta de países e Estados terceiros nos assuntos latino-americanos”, afirmou Peskov. A Rússia não é apenas um parceiro económico da Venezuela: é um dos países com quem o regime tem acordos militares e é já o principal fornecedor de Caracas para o setor energético – para além de ser também, por via das dificuldades de obtenção de divisas, o segundo maior credor do país, logo a seguir à China.
A Rússia é também o aliado mais valioso da Venezuela no quadro global (a China tem mais preocupações), principalmente desde que os Estados Unidos, que apoiam Guaidó, aumentaram a pressão sobre o regime com novas sanções. No mesmo dia em que Maduro aterrou em Moscovo, a Casa Branca anunciou um pacote económico de 52 milhões de dólares por via da Agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para os media independente venezuelanos, projetos da sociedade civil, setor de saúde e para a Assembleia Nacional, dirigida por Guaidó.
A visita de Maduro a Moscovo estava marcada para o início de outubro, mas o presidente venezuelano insistiu na sua antecipação – sendo os analistas, porque as iniciativas de Guaidó estão numa fazer de estagnação.
Logo após a última visita de Maduro a Moscovo, em dezembro passado, a Rússia enviou dois bombardeios estratégicos e, posteriormente, vários grupos de chamados ‘conselheiros’ militares, além de empreiteiros particulares. Além disso, o fornecimento de grão russo ao país latino-americano deve aumentar de 254 mil toneladas no ano passado para 600 mil este ano, segundo anunciou a agência russa Interfax. O líder venezuelano também garantiu que “muito em breve” serºao inaugurados vôos diretos entre Moscovo para Caracas, “para que os jovens possam passar suas férias na Rússia”. Se tiverem como.
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