[weglot_switcher]

Economia angolana deverá contrair 1,4% este ano, estima o FMI

A economia da região da África Subsaariana deverá recuar 1,6% este ano devido ao impacto das medidas de contenção da Covid-19 e da recessão global. O FMI salienta que a acentuada queda do preço do petróleo irá “agravar esses efeitos, exacerbandos os desafios”. Rácio da dívida pública deverá disparar para 132.2% do PIB.
15 Abril 2020, 12h29

A economia angolana deverá sofrer uma recessão de 1,4% este ano, com a queda abrupta dos preços do petróleo a exarcebar a discrupção causada pelos esforços da mitigação da pandemia da Covid-19 e o contágio do tombo no crescimento da economia global, afirmou esta quarta-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em dezembro, na segunda avaliação do programa de apoio ao país, o FMI previa um crescimento de 1,2% para este ano, após uma recessão de 1,1% em 2019. A nova projeção compara ainda com o recuo de 1,21% que o Governo angolano espera para este ano, tendo sido obrigado a rever a anterior previsão de um crescimento de 1,8% que iria retirar Angola da recessão que dura desde 2015.

A instituição de Bretton Woods afirmou ainda esta quarta-feira que vê o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto de Angola a disparar para 132,2% em 2020, face aos 109.8% do ano passado.

A revisão em baixa das projeções para a economia angolana enquadra-se numa visão mais negativa para a África Subsariana, com a instituição liderada por Kristalina Georgieva agora a prever uma recessão de 1.6% este ano, o maior recuo de sempre.

“A África Subsariana depara-se com uma crise sanitária e económica sem precedentes”, referiu o FMI, no Regional Economic Outlook. “A crise ameaça neutralizar os progressos recentes alcançados na região no que toca ao desenvolvimento e poderá pesar no crescimento nos próximos anos.

“O mundo enfrenta um desafio enorme e a África Subsariana não será poupada”, afirmou Abebe Aemro Selassie, diretor do Departamento de África do FMI. “Tudo indica que a pandemia da Covid-19 irá causar enormes perdas de vidas humanas e provocar uma grave crise económica”.

Explicou que a região depara-se com uma descida vertiginosa do crescimento mundial, condições financeiras mais restritivas, um declínio acentuado nos preços das suas principais exportações e graves perturbações da atividade económica resultantes das medidas adotadas para limitar o surto viral. “Consequentemente, projetamos que a região irá contrair 1,6% este ano”.

O FMI salientou que “o acentuado declínio nos preços das commodities, especialmente o petróleo, irá agravar esses efeitos, exacerbando desafios em algumas das economias que dependem de recursos naturais, nomeadamente Angola e Nigéria”.

A instuição de Bretton Woods, prevê uma recessão ainda mais dura para Cabo Verde, de 4%, e São Tomé e Príncipe, de 6%, explicando que fazem parte de um grupo de países dependentes do turismo e que deverão “sofrer um recuo severo”. Para a Guiné-Bissau, o FMI projecta uma recessão de 1,5%, enquanto Moçambique deverá ser o único país lusófono a escapar uma recessão, com crescimento de 2,2% este ano.

As projeções para 2021 são mais otimistas, com o FMI a ver Angola a crescer 2,6%, Cabo Verde 5,5%, Guiné-Bissau 3%, Moçambique 4,7% e São Tomé e Príncipe 5,5%.

Agudizar de vulnerabilidades

O FMI alertou que a diminuição dos rendimentos irá agudizar as vulnerabilidades existentes, enquanto as medidas de contenção e distanciamento social irão, inevitavelmente, colocar em risco os meios de subsistência de inúmeras pessoas. “Além disso, a pandemia está a chegar ao continente numa altura em que muitos países têm pouca margem de manobra nos seus orçamentos, dificultando ainda mais a resposta por parte dos decisores políticos”, adiantou.

À luz deste contexto, Selassie apelou à tomada de medidas decisivas para limitar os prejuízos humanitários e económicos da crise, sendo a prioridade imediata de fazer o que for preciso para aumentar as despesas de saúde pública a fim de conter o surto, independentemente da situação orçamental dos países.

Em segundo lugar, o FMI vê como crucial disponibilizar apoio considerável e em tempo oportuno. “As políticas para o efeito podem incluir transferências monetárias ou apoio em espécie para as famílias vulneráveis, incluindo os trabalhadores do setor informal, também podem incluir apoio direcionado e temporário para os setores mais afetados. A capacidade de os países organizarem uma resposta adequada depende, em grande medida, do acesso a
financiamento condicional junto da comunidade internacional”.

Em terceiro lugar, as políticas monetárias e financeiras também podem desempenhar um papel
importante na proteção das empresas e do emprego, sublinhou.

“O FMI está a trabalhar em estreita colaboração com os nossos parceiros – Banco Mundial, Organização Mundial da
Saúde, Banco Africano de Desenvolvimento e União Africana – para responder de forma
célere e eficaz a esta crise”, vincou. “Estamos pronto para conceder cerca de 11 mil milhões de dólares a 32 países da África Subsariana que solicitaram assistência nas últimas semanas, sendo que já foram efetuados desembolsos para o Burquina Faso, Chade, Gabão, Gana, Madagáscar, Níger, Ruanda, Senegal e Togo”.

[Atualizada às 12h53]

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.