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Catarina Martins ataca “gangsterismo financeiro” e espera “sinais mais claros de vontade negocial do PS” no Orçamento do Estado

Entrevistada no programa “Polígrafo” da SIC Notícias, a coordenadora bloquista repetiu expressão utilizada por João Semedo no “caso BPN”, apontou condições para haver avanços nas negociações em curso no Ministério das Finanças e apelidou André Ventura de “cobarde oportunista” por “tratar de ‘offshores'”
29 Setembro 2020, 01h15

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, disse nesta segunda-feira, em entrevista ao programa “Polígrafo” da SIC Notícias, que “é tempo de o PS dar sinais mais claros de vontade negocial” nas reuniões que têm sido mantidas no Ministério das Finanças com vista à viabilização do Orçamento do Estado para 2021. Um entendimento que depende de abertura a propostas bloquistas, mas também à recusa de injeções financeiras no Novo Banco, que a líder partidária associou cerca de uma dezena de vezes a “gangsterismo financeiro”, recuperando a expressão com que o falecido co-coordenador bloquista João Semedo se referia ao Banco Português de Negócios (BPN).

“Se o Estado faz um contrato com autênticos gangsters financeiros e o contrato diz que o Estado português é obrigado a perder sempre, algo está muito errado”, disse Catarina Martins, sobre o negócio feito com os norte-americanos da Lone Star, após reafirmar que o Bloco de Esquerda é contrário ao “gangsterismo financeiro que tem aumentado o défice e a dívida pública”. Algo para que a coordenadora garante que os bloquistas não estão dispostos a contribuir, pelo que recusarão que o Orçamento do Estado destine mais dinheiro para o Novo Banco e que o Fundo de Resolução realize qualquer injeção “sem se saber o que se passa lá dentro”, destacando que esse endividamento contará para o défice.

Defendendo que “para um Estado que se leva a sério, o mínimo é saber se aquela gestão está ou não a prejudicar o interesse público”, Catarina Martins enumerou indicadores de “gestão danosa ou no mínimo abusiva” no Novo Banco, nomeadamente a venda de ativos “com enorme prejuízo” e alterações do ponto de vista contabilístico “para ir buscar mais dinheiro ao Fundo de Resolução”.

Apesar de manter essa condição para viabilizar o próximo Orçamento do Estado, Catarina Martins garantiu que o seu partido “não está a trabalhar para uma crise política”, embora “às vezes pareça que há quem queira”. “O PS fala em crise políticas quando acha que as negociações são incómodas”, esclareceu, sem se referir diretamente ao primeiro-ministro António Costa.

Estabelecendo como condições colocadas pelos bloquistas a “manutenção do emprego, salários e condições de trabalho”, a “proteção a quem perdeu tudo com a crise”, a manutenção de “serviços públicos capazes de responder àquilo que estamos a viver” e a “transparência no uso de dinheiros públicos”, a coordenadora do Bloco de Esquerda reconheceu que o Governo dá sinais de estar preparado para “dar apoios a quem perdeu tudo”, mas realçou a importância de também reforçar o subsídio de desemprego e de indexar os apoios ao setor empresarial a garantias de manutenção de postos de trabalho e de condições salariais. “Podemos correr o risco de estar a distribuir milhares de milhões de euros a empresas que, não dando condições de emprego e de salários, não estarão a resolver a crise”, disse.

Catarina Martins defendeu ainda o aumento do salário mínimo nacional como uma forma de impulsionar a procura interna de que, devido às circunstâncias da pandemia de Covid-19, a economia portuguesa se tornará mais dependente. E lamentou que a aposta no Serviço Nacional de Saúde volte a ser apontada pelo Executivo de António Costa, pois “é complicado que o Governo nos diga que a grande novidade para o próximo Orçamento é aquilo que já aprovámos no último”.

Recusando pronunciar-se sobre entendimentos com o PS com o horizonte desta legislatura, até porque aquilo a que se convencionou chamar “Geringonça” acabou no dia em que António Costa lhe telefonou depois das legislativas de 2019 para dizer que não assinaria nenhum acordo, Catarina Martins disse também na entrevista ao “Polígrafo”, ao ser confrontada com a coligação entre o PSOE e o Unidas Podemos que está no poder em Espanha, que o Bloco de Esquerda “só integrará um Governo quando tiver votos para isso, e ainda não é o caso”.

Para o final ficou a garantia de que, apesar do “trabalho muito respeitável” de Ana Gomes, a candidata presidencial Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda e que “tem uma capacidade extraordinária de juntar pessoas em matérias fundamentais à esquerda”, levará até ao fim a sua candidatura. Quanto a outro candidato presidencial que procura evitar a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, mas noutro quadrante político, Catarina Martins citou Ricardo Quaresma ao dizer que André Ventura é um deputado “que semeia ódio entre os homens”, acrescentando que “é um cobarde vigarista que vive a dizer que quer defender o homem comum enquanto o que faz é tratar de offshores”.

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