“Desta vez vai haver urnas a sério para um referendo a sério”

Uma das estratégias da Catalunha é insistir na independência: de derrota em derrota até à vitória final. Para o investigador, que vive em Barcelona há vários anos, os sintomas independentistas não se alteraram, mas a postura de Madrid pode evoluir. O outro problema é a monarquia, que, num quadro de independência, ficaria necessariamente em causa.

Em Outubro há um segundo referendo em pouco tempo. Alguma coisa mudou?

Os independentistas quiseram um maior apoio do governo autonómico. Não interessa nada, mas o governo da Catalunha fez um pedido para a compra de urnas a sério, ao contrário daquelas que foram usadas em 2014. Urnas a sério para um referendo a sério. O governo autonómico tem de dar legitimidade ao referendo: já houve um referendo não vinculativo – outro igual faz pouco sentido.

Os bloqueios de Madrid continuam: o governo, o Tribunal Constitucional.

Se houvesse no parlamento de Madrid uma maioria que fosse a favor de uma qualquer alteração, o Tribunal Constitucional – para onde recentemente foram nomeados mais dois juízes ligados ao Partido Popular – acabaria por mudar a leitura que faz da lei. O veto do Tribunal ao referendo revela uma leitura muito restrita da Constituição, que poderia evoluir.

O novo projeto do PSOE pode ser o início dessa alteração?

O PSOE tinha quase a obrigação de fazer qualquer coisa, depois de os congressistas catalães terem estado ao lado de Pedro Sánchez para que ele voltasse a ser eleito para secretário-geral. Mas tem havido outras pequenas alterações: o governo de Madrid tem mantido conversas com a Catalunha, tem havido algum esforço de negociação.

Alguma novidade desse lado?

Nada que seja capaz de mudar alguma coisa, para já.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.