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“Esqueceu-se das suas próprias palavras”. Motoristas de mercadorias “lamentam” intervenção de Marcelo

Posição sindical surge um dia após declarações do Presidente da República que disse que motoristas arriscam ter contra si “generalidade dos portugueses” e podem achar “que o sacrifício é excessivo”. Sindicato dos Motoristas de Mercadorias diz que Marcelo Rebelo de Sousa esqueceu “as suas palavras” no início do ano quando viajou de camião entre Lisboa e Porto para conhecer problemas dos camionistas.
  • Carlos Barroso / Lusa
7 Agosto 2019, 17h50

“Lamentamos que o Senhor Presidente da República tenha esquecido as suas palavras de 21 de janeiro em relação aos problemas dos motoristas como das horas extraordinárias e das cargas e descargas”. Foi desta forma que Anacleto Rodrigues, porta-voz do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) reagiu ao Jornal Económico na sequências das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a greve dos motoristas marcada para 12 de agosto. Uma paralisação que, segundo o Chefe de Estado, arrisca os sindicatos terem contra si a “generalidade dos portugueses” que podem achar “que o sacrifício é excessivo”.

O sindicalista recorda que, a 21 de janeiro deste ano, Marcelo viajou de camião entre Lisboa e Porto para conhecer problemas dos camionistas, tendo partido do Terminal de Carga Aérea do Aeroporto de Lisboa num camião de transporte de mercadorias, acompanhado ao longo de todo o trajeto pela comunicação social.

Na altura, o Presidente da República sinalizou que queria perceber os problemas de quem conduz um camião de transporte a nível internacional e que faz cargas e descargas com horários complicados.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu nessa ocasião que se deve reconsiderar a idade da reforma dos camionistas de longo curso, referindo que iria levar essa preocupação “a quem de direito” e que se trata de uma atividade com desgaste, em que se está ao volante “horas e horas”, de dia ou de noite, e, por vezes, “em condições climatéricas horríveis e em situações muito, muito difíceis”.

Para além da questão da idade da reforma, Marcelo mostrou-se também preocupado com o facto de os motoristas terem de fazer cargas e descargas, uma atividade que não é a sua e que acaba por representar “uma sobrecarga adicional”.

A questão da idade da reforma e das cargas e descargas, no que for possível, [vou] explicar a quem de direito e, desde já, aos portugueses”, vincou o Presidente da República.

 

Os alertas de Marcelo sobre a nova greve

Já ontem Marcelo abordou a greve dos motoristas de 12 de agosto, referindo que “é sempre uma pena quando havendo boas razões a defender, essas razões são perdidas ou comprometidas por causa do excesso de meios utilizados”.

Marcelo Rebelo de Sousa falou esta terça-feira sobre a greve dos motoristas de combustíveis agendada para a próxima segunda-feira, dia 12 de agosto. Numa altura em que continua a não existir um entendimento entre os motoristas e o Governo, o Presidente da República, avisa que “os meios começam a comprometer os fins”, e que “uma coisa é uma greve que é vista e dirigida contra os patrões, ou contra os patrões e o Estado” e que outra “é uma greve contra os patrões, o Estado e muitos portugueses”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em declarações à imprensa.

“Todas as greves impõem sacrifícios como nós sabemos, maiores ou menores. Qual é a melhor maneira para realizar certos objetivos? É conseguir melhorar as condições de laborais, nas cargas e descargas ou em qualquer outra área? Deve ser continuar a negociação, promover a negociação, nomeadamente com outras unidades sindicais que estão a negociar e obter algumas vantagens, ou deve ser ir para a greve?”, questionou o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que é muito importante a forma como os portugueses olham para esta greve dos motoristas.

“Se de repente há na sociedade portuguesa um sentimento, uma reação de uma parte da sociedade se sentir refém dessa luta, mas sem se identificar com a luta, aqueles que prosseguem fins em muitos aspetos legítimos e justos, passam a ter contra si a mão patronal e um número elevado de portugueses, e a partir desse momento inverte-se a lógica”, refere o Presidente da República.

Deste modo, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que “os meios começam a comprometer os fins e aquilo que é um conjunto de ideias que mereciam ser acolhidas passam a não ter acolhimento por uma reação de um enorme número de portugueses contra os meios escolhidos, o sacrifício excessivo”.

O Presidente da República assumiu “ser muito frio e isento” na análise desta situação frisando que “neste e outros casos é sempre uma pena quando havendo boas razões a defender, essas razões são perdidas ou comprometidas por causa do excesso de meios utilizados”.

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