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Irão diz que a hostilidade de Trump assusta os investidores

Teerão previa que investimentos estrangeiros da ordem dos 150 mil milhões de dólares ajudassem o país a relançar o setor energético. Mas a oposição da Casa Branca faz aumentar o risco-país e isso é tudo o que as grandes empresas não querem.
  • Morteza Nikoubazl / Reuters
5 Fevereiro 2018, 06h50

A hostilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação ao acordo nuclear que o Irão assinou em 2015 com os parceiros internacionais está a afetar o investimento estrangeiro no sector energético, disse o regime de Teerão, citado por válrias agências internacionais, entre elas a Associated Press (AP).

A incerteza sobre o futuro do acordo, que Trump tem repetidamente ameaçado cancelar, está a assustar potenciais investidores, disse o ministro do Petróleo iraniano, Bijan Zanganeh. O país, liderado pelo chefe supremo Ali Khamenei e pelo primeiro-ministroHassan Rohani, espera atrair mais de 150 mil milhões de dólares (mais de 120 mil milhões de euros) em investimentos para reconstruir o setor, bastante depauperado depois dos anos de sanções impostas pelo ocidente.

No ano passado, o governo iraniano assinou um acordo para o setor do gás com o grupo francês Total e outro com uma companhia petrolífera chinesa para desenvolver um enorme campo de petróleo no alto mar – e só estes dois negócios, os dois últimos de vários) ascenderam aos cinco mil milhões de dólares (quatro mil milhões de euros).

A abertura registada entre o Irão e os parceiros internacionais a seguir à assinatura do acordo nuclear permitia antever-se que as empresas petrolíferas ocidentais ajudassem o regime de Teerão a recuperar instalações, exploração e produção – numa estratégia em que todos sairiam a ganhar.

Mas as reticências de Washington em relação ao acordo – reticências que o resto dos parceiros não entende – abriram caminho a que o acordo não seja renovado. Ora, as grandes empresas petrolíferas (ou outras) não podem estar a avançar com investimentos da natureza financeira dos dois referidos sem terem uma certeza muito clara sobre o risco do país.

E, como parece evidente, se os Estados Unidos se retirarem do perímetro do acordo, o risco-país associado ao Irão vai crescer abissalmente. É precisamente isso que Bijan Zanganeh quis salientar com as suas declarações públicas.

A manobra dos Estados Unidos apanhou os resto do ocidente desprevenido: nada fazia crer que qualquer das partes que assinaram o acordo de 2015 tivesse qualquer coisa de grave a apontar. Aliás, quando a Casa Branca fez saber que iria rasgar o acordo, a própria Agência Internacional de Energia Atómica veio de imediato afirmar que o Irão está a cumprir tudo o que o acordo prevê – e que pequenas faltas que possam ser encontradas não são suficientes para colocar em causa o entendimento.

Mesmo assim, a Casa Branca não desarmou. Em princípio porque – como disseram inúmeros comentadores das mais diversas geografias – com a sua decisão, Trump não queria senão ir em auxílio do seu parceiro de eleição no Médio Oriente, a Arábia Saudita: quanto mais o Irão se aproxima do ocidente, mais difícil fica para a Arábia Saudita tomar a dianteira em termos de potência regional no Médio Oriente.

Por outro lado, um setor da energia a ‘navegar’ em pleno no Irão é mais uma dor de cabeça para o setor da energia da própria Arábia Saudita – numa área, a do petróleo – onde a concorrência aperta e os preços internacionais não conseguem chegar aos patamares a que os produtores se habituaram nas últimas décadas.

A pressão diplomática contra a decisão de Trump – exercida nomeadamente pela União Europeia – fez o presidente dos Estados Unidos dar um pequeno passo atrás: renovou a certificação de conformidade com o acordo em janeiro, apesar de ter dito que não faria isso novamente em maio, se as mudanças (do lado do Irão) não fossem feitas.

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