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Itália: quanto custa um governo não-alinhado com a Europa?

Feitas as contas às promessas da campanha eleitoral tanto do Movimento 5 Estrelas como da Lega – que estão a ‘cozinhar’ o próximo governo, entre aumentos da despesa e cortes na receita, chega-se aos 124 mil milhões de euros.
  • Itália
15 Maio 2018, 07h10

As negociações para a formação de um governo em Itália continuam – os prazos já foram todos queimados e mesmo os que anteviam a possibilidade de, no passado fim-de-semana, haver um primeiro-ministro, um elenco governativo (mesmo que não totalmente fechado) e um esboço de programa de governo, viram as suas expectativas reduzidas a pó.

Enquanto a coligação entre o Movimento 5 Estrelas e a extrema-direita da Lega tentam chegar a um acordo que parece ainda mais difícil que as piores previsões, há quem já tenha começado a fazer as contas sobre quanto poderá o novo governo custar ao país.

Os dois partidos políticos são claramente pouco entusiastas da União Europeia, principalmente a Lega – e ambos alicerçaram as suas campanhas de há meio ano atrás na reserva face à Comissão Europeia e na promessa de que muito do que os últimos governos italianos fizeram em obediência à União Europeia seria, pura e simplesmente, para atirar ao lixo. A acrescentar a esse cenário, as duas formações ainda prometeram uma série de medidas adicionais de caráter social, que podem inflacionar de forma assustadora o défice do Estado.

Neste quadro, a União Europeia terá que batalhar duramente para manter o que conseguiu implantar em Itália e opor-se com vigor às novas medidas que aí virão. Entretanto, já houve quem fizesse as contas – ou algumas delas – para perceber o que poderá custar a coligação, num cenário em que tanto o líder da Lega, Matteo Salvini, como seu colega de coligação Luigi Di Maio (M5E), já afirmaram que parte das medidas de austeridade serão difíceis, se não impossíveis, de manter, até porque ambos convergem na opinião segundo a qual são precisamente essas regras que obrigam os italianos a suportar um crescimento cronicamente fraco.

Num cenário em que ambas as partes cumpram as suas promessas pré-eleitorais, o futuro governo italiano terá de criar um rendimento mínimo para os mais pobres, quer irá custar cerca de 17 mil milhões de euros por ano; a Lega prometeu um corte nos impostos da ordem dos 15%, tanto para as empresas como para os particulares, que poderá retirar dos cofres do Estado italiano 80 mil milhões por ano; a eliminação do aumento do IVA, já previsto, retiraria mais 12,5 mil milhões: eliminar a impopular reforma das pensões custaria 15 mil milhões de euros) ao ano.

Feitas as contas todas por especialistas do think-tank Eurointelligence (com sede em Londres), os cortes prometidos em campanha e os acrescentos igualmente previstos nas palavras dos líderes partidários que estão a ‘cozinhar’ o próximo governo italiano, podem ter um impacto de…124 mil milhões de euros, para um produto que está em valores próximos dos 450 mil milhões.

Claro que a Comissão Europeia se vai opor a estes avatares que Salvini e Di Maio poderão querer introduzir, mas Mário Centeno, presidente do Eurogrupo, tem pela frente uma enorme dor de cabeça.

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