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José Mourinho: “Tive sucesso algumas vezes e ajudei jogadores a atingir um nível elevado mas não faço milagres”

O treinador do Tottenham foi entrevistado durante a Web Summit onde recebeu o prémio “Inovação no Desporto” entregue pelo primeiro-ministro António Costa.
  • José Mourinho – Chelsea FC e Real Madrid
3 Dezembro 2020, 16h17

José Mourinho recebeu esta quinta-feira, 3 de dezembro o prémio “Inovação no Desporto” durante a Web Summit, tendo o troféu sido entregue pelo primeiro-ministro António Costa. Este galardão que no ano passado foi entregue ao brasileiro Ronaldo, distingue “pessoas e organizações que incorporaram com sucesso a tecnologia na busca pela excelência”.

O técnico português que atualmente orienta o Tottenham assumiu o orgulho pela Web Summit ser realizada no seu país. “Como português, sobretudo como português que vive no estrangeiro, costumava ter muito orgulho nele, mas agora é muito mais que isso. Muito obrigado por me darem este prémio, que obviamente aceito”, afirmou.

José Mourinho foi posteriormente entrevistado por um jornalista do “Financial Times” onde falou sobre a linha que separa o sucesso do insucesso com os jogadores. “Os jogadores são os principais responsáveis pelas suas carreiras. Podemos ajudá-los a desenvolverem-se e mostrar-lhes a direção certa como jogadores e homens, mas no fim a decisão é deles. Nunca senti que fiz milagres no futebol. Tive sucesso algumas vezes e ajudei jogadores a atingir um nível elevado, mas não faço milagres”, afirmou.

O técnico abordou também as diferenças quando começou a sua carreira que não vê terminar tão cedo. “Não tento passar nenhuma lição, apenas tento disfrutar da minha vida e isso passa por ter o privilégio de uma profissão que é também uma paixão. Foi neste mundo que nasci e pertenço. Muitos dizem que já tenho uma longa carreira, o que é verdade, mas ainda não vejo o fim. Tenho 57 anos e vejo-me a treinar durante mais 10 ou 15 anos. Continuo com a mesma paixão e desejo de aprender todos os dias. Os meus cabelos brancos não são provocados pelo stresse do trabalho”, referiu o técnico.

José Mourinho falou também das diferenças e barreiras que encontrou na altura em que pensou ser treinador. “Era um período completamente diferente. Hoje as pessoas acreditam em formas diferentes de ser treinador de futebol e há 30 anos a maior barreira era precisamente o facto de as pessoas estarem totalmente focadas em que antigos jogadores podiam ser treinadores de sucesso, e esqueceram-se de evoluir e encontrarem um perfil diferente”.

O técnico acredita que hoje qualquer criança que adore futebol, mesmo que não tenha qualidade para se tornar um jogador de classe mundial, pode seguir uma carreira académica e serem treinadores de topo. “Tenho orgulho por ter ajudado a quebrar essa barreira. Na minha geração todos pensavam em ser jogadores e não treinadores. Hoje em dia sei que muitas crianças sonham em ser treinadores e se as ajudei a seguir esse sonho de alguma forma, é algo ainda mais importante que uma medalha ou troféu”, frisa.

Os títulos europeus conquistados no FC Porto foram também tema de conversa. Para José Mourinho a conquista da Liga Europa e Liga dos dos Campeões ao serviço dos azuis e brancos, foi o “clique” na mudança da sua carreira como treinador. “O meu orgulho foi conseguir fazer aquilo que um clube português fez em 2003 e 2004, que foi chegar ao topo do futebol mundial, com uma equipa cheia de jogadores portugueses. Esse foi o momento em que se deu o clique na minha carreira. O trabalho no meu país foi feito de uma maneira histórica e depois disso era altura de ser português, e ser português é ser aventureiro, arriscar e não ter medo de ir contra as probabilidades”, explicou.

O atual líder da Premier League fez também a distinção sobre entre ter sucesso e uma carreira de sucesso. “O sucesso é uma coisa do momento, de estares na hora certa no local certo. Uma carreira de sucesso é feita ano após ano e isso faz parte do meu ADN. Sei que muitos não olham para mim dessa forma, mas considero-me uma pessoa humilde”, realçou.

Foi com base nesta mentalidade que José Mourinho se mostrou sempre pronto a encarar os desafios mais aliciantes da sua carreira. “Não gosto da zona de conforto. Deixei Portugal para rumar à liga mais difícil do mundo, a inglesa. Falava-se muito da dificuldade em treinar em Itália para treinadores com outra forma de pensar, mas também tentei lá. O Barcelona dominava Espanha e o mundo, e por isso nada melhor do que desafiar os melhores. A minha vida tem sido desafiar-me a mim mesmo”, salientou.

A finalizar, o técnico abordou também a questão da pandemia que tem levado a que os adeptos não possam estar presentes nos estádios. “Tenho muita pena de estar num clube há 11 meses e em mais de metade do tempo não tive oportunidade de estar com os adeptos. Em todos os clubes por onde passei, eles são a base do nosso sucesso. Eles fazem parte do nosso trabalho e claro que sentimos a falta deles, mas nesta altura o mundo é muito mais importante”, sublinhou.

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