Luís Marques Mendes, no seu habitual comentário da SIC, aos domingos, analisou mais uma vez o caso da semana, ou seja, o discurso do Presidente da República sobre a nova tragédia dos incêndios, discurso esse que antecedeu à aceitação pelo primeiro-ministro da carta de demissão da Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
Sobre a moção de censura do CDS ao Governo que vai ser votada no Parlamento na próxima terça-feira, disse que “é mais fogo de artifício. Não tem nenhum resultado prático. Sobretudo porque a moção de censura foi anunciada na passada terça-feira de manhã e morta na terça-feira à noite. Ou seja, o discurso do Presidente da República na terça-feira à noite matou a moção de censura”. Marques Mendes, que diz compreender a atitude do CDS como partido da oposição, considera que a verdadeira moção de censura ao Governo “foi o discurso do Presidente da República”.
“O Governo está fragilizado perante o país real e não vai sair reabilitado da moção”, diz Marques Mendes que considera ao mesmo tempo que a continuidade do Governo não está em risco.
“O país precisa de um Presidente da República nesta linha, que é fiel da balança”, disse ainda.
Sobre a carta de demissão de Constança Urbano de Sousa, Marques Mendes duvida dos argumentos apresentados. “A Ministra não saiu bem, porque saiu empurrada”, disse o comentador. Sobre o argumento apresentado de que tinha tentado sair a seguir ao incêndio de Pedrógão, mas que o primeiro-ministro não deixou, Marques Mendes foi contundente: “Não sei em que acreditar, se naquilo que a Ministra disse na carta ou se naquilo que a Ministra tinha dito antes. São versões contraditórias”.
Sobre a remodelação do Governo (entrada de Eduardo Cabrita para Ministro da Administração Interna e de Pedro Siza Vieira para Ministro-Adjunto e mais quatro secretários de Estado) Marques Mendes disse que “foi frouxinha”, independentemente da qualidade das pessoas, acrescentou. O comentador político explicou: “É uma remodelação feita em circuito fechado, entre amigos. De resto é um vício de António Costa que é escolher essencialmente os amigos”.
Marques Mendes é também da opinião que a remodelação já estava pensada há muito tempo, e por isso a conseguiu aplicar em poucas horas.
O comentador diz que António Costa vai fazer uma nova remodelação no próximo ano para reforçar o seu núcleo político.
Marques Mendes acredita que Eduardo Cabrita, “por ter mais peso político e mais experiência”, vai fazer um bom lugar no MAI, “melhor do que Constança Urbano de Sousa”.
Foi criada a Secretaria de Estado da Proteção Civil, que fica a cargo do ex-autarca José Artur Neves, que Marques Mendes considera ser “uma boa escolha. Tenha ele os meios para desempenhar bem a função”.
“As decisões do Governo são positivas e vão na direção certa”, disse Marques Mendes sobre as medidas adotadas no Conselho de Ministros de sábado.
Recorde-se que o Executivo anunciou a criação de uma unidade de missão para mudar sistemas de prevenção e combate aos fogos.
“Profissionalizar a Proteção Civil também vai na boa direção”, disse Marques Mendes, salvaguardando que ainda não se conhece o modelo final.
Também positiva é a medida de “entregar à Força Aérea a responsabilidade dos meios aéreos para combater aos fogos”.
Marques Mendes questiona, no entanto, porque é que muitas dessas medidas não foram tomadas mais cedo? Lembrando que o Governo está em funções há dois anos. Para o comentador a resposta não está nas limitações orçamentais, mas sim na falta de liderança da Ministra.
“Há um dado importante, finalmente resolveu-se o dossier das indemnizações às vítimas de Pedrógão”, disse o comentador que não deixou de dizer que demorou desnecessariamente três meses. O que reflete uma “visão muito burocrática e menos humana”, apontou.
Aliás Marques Mendes começou a sua intervenção deste domingo dizendo que esta tragédia gerou uma crise séria, com sequelas fortes e provavelmente muito longa – uma crise de confiança no Estado, nas instituições, na Proteção Civil. “Pela segunda vez em pouco tempo, o Estado falhou de forma generalizada. As pessoas não compreendem que depois de Pedrógão não se tenha aprendido nada e não se tenha corrigido nada”, afirmou ainda.
“Daí a importância do roteiro que o Presidente da República está a fazer pelos concelhos afetados por esta calamidade”, disse reconhecer ter sido este o momento mais marcante do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa.
Marques Mendes lançou um repto: “é preciso uma unidade de missão, para dirigir, coordenar e monitorizar no terreno os apoios às famílias e empresas, na reconstrução” pós-incêndios, sugeriu ao mesmo tempo que explica que é preciso coordenação quando está em causa a intervenção de vários Ministérios.
Sobre a candidatura de Pedro Santana Lopes, disse que “fez uma apresentação com um bom impacto e com muitos apoiantes”. Marques Mendes sugeriu que quer Santana quer Rui Rio devem falar mais do futuro e menos do passado.
Sobre o negócio da Altice (compra da dona da TVI), Marques Mendes lembrou que tal como tinha dito, a ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social, apresentou um parecer técnico negativo, e uma divisão da opinião dos membros do Conselho Regulador. “Carlos Magno devia vir a público explicar a sua decisão, a sua declaração de voto”, disse Marques Mendes.
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