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Marques Mendes: “Discurso de Marcelo matou a moção de censura do CDS”

Marques Mendes considera que a remodelação já estava pensada antes do discurso de Marcelo, e por isso é que conseguiu implementá-la em poucas horas. O comentador dúvida ainda dos argumentos apresentados por Constança Urbano de Sousa na sua carta de demissão.
22 Outubro 2017, 22h50

Luís Marques Mendes, no seu habitual comentário da SIC, aos domingos, analisou mais uma vez o caso da semana, ou seja, o discurso do Presidente da República sobre a nova tragédia dos incêndios, discurso esse que antecedeu à aceitação pelo primeiro-ministro da carta de demissão da Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

Sobre a moção de censura do CDS ao Governo que vai ser votada no Parlamento na próxima terça-feira, disse que “é mais fogo de artifício. Não tem nenhum resultado prático. Sobretudo porque a moção de censura foi anunciada na passada terça-feira de manhã e morta na terça-feira à noite. Ou seja, o discurso do Presidente da República na terça-feira à noite matou a moção de censura”. Marques Mendes, que diz compreender a atitude do CDS como partido da oposição, considera que a verdadeira moção de censura ao Governo “foi o discurso do Presidente da República”.

“O Governo está fragilizado perante o país real e não vai sair reabilitado da moção”, diz Marques Mendes que considera ao mesmo tempo que a continuidade do Governo não está em risco.

“O país precisa de um Presidente da República nesta linha, que é fiel da balança”, disse ainda.

Sobre a carta de demissão de Constança Urbano de Sousa, Marques Mendes duvida dos argumentos apresentados. “A Ministra não saiu bem, porque saiu empurrada”, disse o comentador. Sobre o argumento apresentado de que tinha tentado sair a seguir ao incêndio de Pedrógão, mas que o primeiro-ministro não deixou, Marques Mendes foi contundente: “Não sei em que acreditar, se naquilo que a Ministra disse na carta ou se naquilo que a Ministra tinha dito antes. São versões contraditórias”.

Sobre a remodelação do Governo (entrada de Eduardo Cabrita para Ministro da Administração Interna e de Pedro Siza Vieira para Ministro-Adjunto e mais quatro secretários de Estado) Marques Mendes disse que “foi frouxinha”, independentemente da qualidade das pessoas, acrescentou. O comentador político explicou: “É uma remodelação feita em circuito fechado, entre amigos. De resto é um vício de António Costa que é escolher essencialmente os amigos”.

Marques Mendes é também da opinião que a remodelação já estava pensada há muito tempo, e por isso a conseguiu aplicar em poucas horas.

O comentador diz que António Costa vai fazer uma nova remodelação no próximo ano para reforçar o seu núcleo político.

Marques Mendes acredita que Eduardo Cabrita, “por ter mais peso político e mais experiência”, vai fazer um bom lugar no MAI, “melhor do que Constança Urbano de Sousa”.

Foi criada a Secretaria de Estado da Proteção Civil, que fica a cargo do ex-autarca José Artur Neves, que Marques Mendes considera ser “uma boa escolha. Tenha ele os meios para desempenhar bem a função”.

“As decisões do Governo são positivas e vão na direção certa”, disse Marques Mendes sobre as medidas adotadas no Conselho de Ministros de sábado.

Recorde-se que o Executivo anunciou a criação de uma unidade de missão para mudar sistemas de prevenção e combate aos fogos.

“Profissionalizar a Proteção Civil também vai na boa direção”, disse Marques Mendes, salvaguardando que ainda não se conhece o modelo final.

Também positiva é a medida de “entregar à Força Aérea a responsabilidade dos meios aéreos para combater aos fogos”.

Marques Mendes questiona, no entanto, porque é que muitas dessas medidas não foram tomadas mais cedo? Lembrando que o Governo está em funções há dois anos. Para o comentador a resposta não está nas limitações orçamentais, mas sim na falta de liderança da Ministra.

“Há um dado importante, finalmente resolveu-se o dossier das indemnizações às vítimas de Pedrógão”, disse o comentador que não deixou de dizer que demorou desnecessariamente três meses. O que reflete uma “visão muito burocrática e menos humana”, apontou.

Aliás Marques Mendes começou a sua intervenção deste domingo dizendo que esta tragédia gerou uma crise séria, com sequelas fortes e provavelmente muito longa – uma crise de confiança no Estado, nas instituições, na Proteção Civil. “Pela segunda vez em pouco tempo, o Estado falhou de forma generalizada. As pessoas não compreendem que depois de Pedrógão não se tenha aprendido nada e não se tenha corrigido nada”, afirmou ainda.

“Daí a importância do roteiro que o Presidente da República está a fazer pelos concelhos afetados por esta calamidade”, disse reconhecer ter sido este o momento mais marcante do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa.

Marques Mendes lançou um repto: “é preciso uma unidade de missão, para dirigir, coordenar e monitorizar no terreno os apoios às famílias e empresas, na reconstrução” pós-incêndios, sugeriu ao mesmo tempo que explica que é preciso coordenação quando está em causa a intervenção de vários Ministérios.

Sobre a candidatura de Pedro Santana Lopes, disse que “fez uma apresentação com um bom impacto e com muitos apoiantes”. Marques Mendes sugeriu que quer Santana quer Rui Rio devem falar mais do futuro e menos do passado.

Sobre o negócio da Altice (compra da dona da TVI), Marques Mendes lembrou que tal como tinha dito, a ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social, apresentou um parecer técnico negativo, e uma divisão da opinião dos membros do Conselho Regulador. “Carlos Magno devia vir a público explicar a sua decisão, a sua declaração de voto”, disse Marques Mendes.

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