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Nuno Lobo: “Não se podem dar prémios a gestores quando apresentam contas negativas”

Em entrevista ao JE, Nuno Lobo (Lista B, empresário, 48 anos e sócio há 28) confessa que está na corrida à presidência do FC Porto pelo que assistiu nos últimos seis anos no seu clube do coração.
18 Maio 2020, 07h10

Em mais de trinta anos, Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do clube há 38 anos, não teve concorrência nos atos eleitorais no FC Porto. A 6 e 7 de junho, Nuno Lobo e José Fernando Rio desafiam o presidente de clube mais titulado do mundo (60 títulos no futebol e mais umas largas centenas nas modalidades) e apresentam-se a escrutínio nos ‘dragões’ quando o último a fazê-lo tinha sido o médico e empresário José Martins Soares nas eleições de 1988 e 1991.

Entre a possibilidade de acumular no próximo ano o pagamento de dois empréstimos obrigacionistas, os prejuízos de quase 52 milhões de euros no primeiro semestre da presente temporada e alguns sinais de desunião na estrutura, já evidenciados publicamente por o treinador Sérgio Conceição, são fraturantes os temas ‘quentes’ que prometem aquecer uma campanha eleitoral que vai decorrer enquanto o FC Porto tenta manter a magra vantagem que tem na I Liga.

Em conversa com o JE, Nuno Lobo (Lista B, empresário, 48 anos e sócio há 28) confessa que está na corrida à presidência do FC Porto pelo que assistiu nos últimos seis anos no seu clube do coração.

Porque é que decidiu candidatar-se à presidência do FC Porto?

Pela forma como o FC Porto tem sido gerido nos últimos seis anos de presidência de Jorge Nuno Pinto da Costa, período no qual existiu um depauperamento económico. Além disso, um dos fatores que me fez avançar foi a situação desportiva: uma Liga em seis anos e resultados constantemente negativos. Também sentimos que o FC Porto tem vindo a decair nas modalidades, sentimos que é importante que este clube tenha futsal.

Como qualifica a gestão do futebol profissional no FC Porto?

Isto é do conhecimento público: as contas da FC Porto SAD estão na CMVM, todos podem consultar os números. Pergunto-me como é possível que tenham saído a custo zero alguns jogadores cruciais da equipa, é gritante a forma como tem sido feita a gestão desportiva. Dou o exemplo do jogador Ivan Marcano que saiu a custo zero para a AS Roma e na época seguinte, volta a troco de 3 milhões de euros. O FC Porto era campeão de vendas e agora vende jogadores por valores que ninguém entende. Houve um adormecimento por parte de quem está a gerir o futebol.

O FC Porto raramente deixava sair jogadores a custo zero? O que se passa?

É surpreendente a quantidade de jogadores que têm saído a custo zero. Não percebo porque é que o Tomás Esteves não assina a renovação. Porque é que o Alex Telles não renovou ainda. Estes jogadores estão só à espera que acabe o contrato para irem embora. Não sei o que passa com a capacidade negocial da SAD do FC Porto, parámos no tempo. Há dois anos fomos campeões da Europa na Youth League: que aproveitamento foi feito dos jogadores da formação?

Existe desunião no seio do FC Porto como disse Sérgio Conceição?

Essa frase proferida pelo treinador é o que se passa na realidade no FC Porto. Onde é que está a direção quando as coisas correm mal? Onde estão aqueles dirigentes que se revoltavam quando havia algo que nos prejudicava? Não os vejo. Estamos a perder muita força.

O FC Porto teve prejuízos de 52 milhões no primeiro semestre desta época. Como vê estes resultados?

Olho para esses resultados e lembro-me do que foi o desastre desportivo com o Krasnodar, que impediu a entrada do FC Porto na Liga dos Campeões. Não podemos dar nada como adquirido. De quem é a culpa? Foi tudo muito mal preparado, tudo em cima do joelho. Existe um mau planeamento que não vem de agora. Não se podem dar prémios a gestores quando apresentam contas negativas.

Estava previsto para junho o reembolso de uma dívida de 35 milhões. À partida, irá passar para junho de 2021 e nesta data terão que ser devolvidos agora 70 milhões de euros. Isto é comportável?

Inevitavelmente, uma das soluções passará pela venda de alguns dos nossos ativos; outra das possibilidades é a injeção de mais capital ou a reestruturação da dívida. Isto tudo é agravado pela situação de pandemia que vivemos que irá inevitavelmente mexer com o poder negocial dos jogadores que tiverem que vender. Isto é uma ‘bola de neve’ gigantesca. Temos uma equipa muito competente a trabalhar neste processo, iremos criar soluções para que o FC Porto cumpra o pagamento dessas dívidas.

Qual o papel de Pinto da Costa no atual FC Porto?

Quero acreditar que ainda manda mas no fundo do coração não acredito. Já não vejo aquela imagem de entrega, de provocação, de ironia há muitos anos. O FC Porto tem-se colocado à margem sobre alguns dos temas mais importantes do futebol português.

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