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Pandemia impactou “perceções de segurança na vida quotidiana” dos jovens portugueses

“Os jovens portugueses sentem-se menos confortáveis com as medidas restritivas porque estão menos preocupados com a doença”, afirma Cláudia Seabra, investigadora principal do estudo e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
  • Cristina Bernardo
22 Junho 2021, 12h04

Um estudo realizado pela Universidade de Coimbra com jovens de Portugal, Egito e Turquia concluiu que a pandemia da Covid-19 teve um “forte impacto nas suas rotinas quotidianas e nos seus planos de viagens futuras” e revela que os jovens portugueses são os que menos aceitam as medidas restritivas impostas pelo governo.

No que respeita às medidas e restrições que os respetivos governos impuseram no contexto da pandemia, em geral, os jovens residentes nos três países concordam com a sua imposição.  No entanto, para Cláudia Seabra, investigadora principal do estudo e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), as medidas adotadas tiveram impactos diferentes nos millennials (nascidos entre 1980 e 1994) e geração Z (nascidos entre 1995 e 2015) dos três países.

“Os residentes na Turquia apresentam níveis de concordância mais elevados e preocupam-se mais com a doença do que os egípcios e os portugueses. Em contrapartida, os jovens portugueses sentem-se menos confortáveis com as medidas restritivas porque estão menos preocupados com a doença. Este facto confirma a existência de padrões de descuido e uma certa dificuldade em aceitar o distanciamento social que os jovens europeus têm de enfrentar nos dias de hoje”, detalha a investigadora.

Em relação às limitações ou impedimento de entrada de estrangeiros no seu país Cláudio Seabra explica que os jovens turcos apresentam níveis de aceitação “superiores aos portugueses ou egípcios”. “Aliás, para os jovens portugueses esta medida específica revelou ser a dimensão que teve os níveis de aceitação mais baixos, eventualmente devido ao facto de estas gerações, durante a sua vida, nunca terem testemunhado o encerramento das fronteiras do seu país”.

Já a medida de “controlo e quarentena”, imposta pela maioria dos países, foi mais aceite pelos jovens residentes portugueses e menos pelos jovens egípcios. “Esta medida foi considerada necessária e a única possível para conter o alastramento da doença. Isto pode explicar a elevada aceitação por parte dos jovens portugueses”, refere Cláudia Seabra. Mesmo assim, acrescenta que “os resultados mostraram que esta medida se revelou muito significativa na relação com a dimensão ‘Mudança de Rotinas Diárias e Planos de Viagem’ para os três países”.

Numa altura em que se questiona o futuro da indústria do turismo, a especialista da UC considera que é fundamental “estudar os comportamentos e perceções das gerações mais novas que serão o futuro desta indústria, pois serão não só os futuros consumidores, mas também as comunidades de acolhimento dos turistas nos seus países de origem”.

Cláudia Seabra defende ainda a aposta “numa comunicação específica adaptada a estas gerações que acreditam que poderão contrair a Covid-19, mas demonstram uma baixa preocupação com a doença e dificuldades em aceitar algumas medidas de restrição pelo impacto que têm nas suas vidas sociais. Especialmente num momento em que os níveis de contágio registam uma nova subida em Portugal, sobretudo nas idades mais jovens, importa perceber como chegar a estes indivíduos que têm uma responsabilidade tão grande na difusão da doença devido aos seus comportamentos sociais e que ainda não estão vacinados”.

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