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Tomás Correia: “Se eu tivesse pelo menos sido ouvido estaríamos numa posição completamente diferente”

O ex-administrador da CGD renunciou ao cargo antes do término do mandato por “discordâncias quanto ao rumo que a Caixa estava a trilhar”. Tomás Correia alegou não apenas a política de crédito, “que não era a mais adequada”, mas também a decisão do banco do Estado ter decidido vender a operação no Brasil.
  • Cristina Bernardo
28 Maio 2019, 19h35

Tomás Correia, atual presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, está a ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. O presidente da Associação foi administrador do banco público entre 2000 e 2003. O relatório da EY sobre a gestão ao banco público abrange o período entre 2000 e 2015.

O antigo administrador do banco público explicou que terminou as funções na CGD no dia 31 de agosto de 2003 antes de terminar o seu mandato. Fez uma “primeira tentativa de saída logo em 2002” e dirigiu uma carta à ministra das Finanças de então, Manuel Ferreira Leite, “a pedir para sair, mas ela não aceitou”.

Questionado pelos deputados presentes na CPI porque razões Tomás Correia quis renunciar, o antigo administrador do banco do Estado falou em “discordâncias” quanto ao rumo que a Caixa estava a tomar, mas também por causa da operação da CGD no Brasil.

Quanto às “discordâncias em relação ao caminho que a Caixa Geral de Depósitos estava a trilhar”, essas tinham que ver “com a politica de crédito não ser a mais adequada”, disse Tomás Correia. Mais tarde, sobre o mesmo assunto, frisou: “A minha visão antecipada do que poderia ser o caminho da Caixa foi demonstrada. A visão de António Sousa (CEO da Caixa) não teve essa demonstração”.

Tomás Correia afirmou que, perante os deputados, “se tivesse pelo menos sido ouvido (…) estaríamos numa posição completamente diferente”.

Um dos assuntos que voltou a salientar foi precisamente a operação no Brasil, onde a Caixa deteve participações nos bancos Unibanco e Itau. Neste contexto, Tomás Correia revelou discordar da visão do “doutor Sousa” sobre o rumo da operação da CGD no Brasil.

Tomás Correia disse não compreender “vender-se o Brasil para realizar 1.100 milhões de mais-valias para depois aplicar no maior banco concorrente privado (o BCP)”.  “Isso tem uma lógica de banco publico?”, questionou o ex-administrador da Caixa, para depois responder: “não tem, porque os recursos de um banco público são escassos”. “Eu tive um sentido premonitório e teria muito gosto de estar enganado”, disse. “Há uma coisa que eu sei, é que eu antecipei melhor o futuro do que o Dr. Sousa”.

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