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Trump: 100 dias de solidão do presidente com a menor taxa de aprovação

O atual líder dos Estados Unidos regista um feito único: é o primeiro líder em que a taxa de reprovação é maior que a taxa de aprovação nos primeiros cem dias de mandato. Trump já veio declarar através da sua conta no Twitter que os dados da sondagem são falsos e que ainda assim continuaria à frente da democrata Hillary Clinton no voto popular.
29 Abril 2017, 12h00

Acho que os cem dias são uma barreira artificial. Não é muito significativo”. Para Trump, o balanço dos 100 primeiros dias de mandato seria uma avaliação “ridícula”, uma métrica estabelecida pelos media que mais uma vez aproveitariam a oportunidade de o criticar.

Contudo, a uma semana de atingir o marco, registou-se um acelerar da aprovação das ordens executivas que haviam ficado pendentes. Afinal o marco “ridículo” foi o ímpeto necessário para a concretização de America First ou uma luta para o título de Trump First, no balanço dos primeiros cem dias de mandato?

A grande vitória de Trump no arranque do mandato foi conseguir eleger o conservador Neil Gorsuch para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos. Abandonou o acordo comercial Trans-Pacífico, lançou um ataque na Síria e reverteu várias medidas de Obama, principalmente sobre o meio ambiente. A possibilidade de Trump estar a ceder e a transformar a sua imprevisibilidade política no desempenho das funções de um chefe de Estado parece também ainda distante. E o resto?

“Make America Great Again”: mercados rejubilam
Personificação do capitalismo, Trump não teve pudor em assumir que a experiência a liderar o império que detém seria uma mais-valia na hora de cumprir o desígnio norte-americano: ser uma potência económica.
Os críticos troçam da comparação, lembrando que um país não é uma empresa, os apoiantes aplaudem a visão de CEO, na esperança que a economia acelere. Quando Trump deixou de ser ‘Trump, o magnata’ para se tornar ‘Trump, o todo -poderoso presidente’ de uma potência internacional, ao fazer o primeiro discurso presidencial garantiu que a casa arrumada significava um terramoto de crescimento económico e que iria ser “o maior produtor de empregos que Deus já criou”.
Os dados sobre a criação de novos postos de trabalho têm sido animadores, assim como o decréscimo do número de novos pedidos de subsídio de desemprego, o que tem aumentado a confiança dos mercados.

Desde que assumiu a presidência que o ‘rally’ Trump tomou conta de Wall Street, com os principais índices norte-americanos a bater máximos históricos e a escalar para território desconhecido. O tecnológico Nasdaq ultrapassou esta semana, pela primeira vez, a marca dos 6 mil pontos. Também o índice industrial Dow Jones 30 ultrapassou pela primeira vez a marca dos 20 mil pontos a 25 de janeiro, 120 anos depois de ter sido criado. Em março escalou para novos recordes ao alcançar os 21 mil pontos, com os investidores expectantes sobre o plano de fomento económico anunciado, com o estímulo através de um plano de investimento em infra-estruturas e reforma fiscal, assim como alterações na regulamentação do sector bancário.
Os pormenores têm sido sucessivamente adiados e apenas esta quarta-feira, a poucos dias do marco dos 100 dias, Trump anunciou a “fenomenal” e “histórica” reforma fiscal nos impostos para as empresas e um “alívio fiscal massivo para a classe média”. O secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, confirmou a redução de impostos das empresas de 35% para 15% e para os contribuintes individuais a redução de escalões de sete para três e a diminuição da taxa mínima de 39,62% para 35%, com os casais com rendimentos anuais até 24 mil dólares a ficarem isentos do pagamento de impostos.
Já sobre o plano de investimento em infra-estruturas, ainda não existem pormenores sobre o esforço orçamental que representa o plano de investimento de 1 mil milhão de dólares proposto pela administração.

A contribuir para a confiança dos investidores no crescimento económico têm estado também os sinais da Fed. As divergências entre Janet Yellen, líder da Fed, e Trump não são segredo e desde a campanha que o clima é de tensão. Yellen tem-se mantido longe de confrontos em praça pública, no entanto, já sinalizou que uma política de impostos expansionista poderá levar a um desacelerar da economia.

Mas até ao momento, os sinais da Fed continuam positivos. Em março concretizou a tão aguardada subida da taxa de juros, aguardada pelos mercados, justificando a decisão com os dados de confiança na economia.
A última semana antes dos 100 dias foi tensa e de pressão. Embora existam expectativas que o orçamento passe, o receio que o governo seja bloqueado como aconteceu em 2013, em que o governo ficou suspenso durante 17 dias, levou Trump a aguçar o instinto natural de sobrevivência e de manutenção do poder que conquistou.

“O orçamento vai ser um momento decisivo. Se não conseguir passar o orçamento com o mínimo de medidas que pretende, significa uma pesada derrota após a questão do Obamacare”, explica Tiago Moreira de Sá, especialista em relações transatlânticas.
Uma das primeiras cedências foi que não vai incluir o polémico imposto de “ajuste de fronteira” sobre as importações, apresentado pelos republicanos como uma forma de compensar as perdas de receitas resultantes do corte de impostos.
Desde os anos 80 que Trump é um feroz crítico do comércio global e, ao ensaiar o espírito nacionalista isolacionista, prometeu criar um imposto para os produtos importados. A medida enquadrava-se na proposta de revitalizar a industria norte-americana, trazendo de volta as empresas que se deslocalizaram para países com mão-de-obra mais barata. No início dos 100 dias jogava esta cartada, no fim das sucessivas reuniões com empresários, o discurso continua neste sentido.

Mas para o líder norte-americano parte do problema reside nos tratados internacionais de comércio e uma das primeiras promessas efectivamente cumpridas foi a revogação do Tratado Transpacífico de livre comércio. Moreira de Sá sublinha que o chefe de Estado “vê as relações internacionais como relações comerciais e não contempla a dimensão geopolítica”.

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