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Do Luanda Leaks ao Football Leaks: os casos que Rui Pinto ajudou a revelar

Os documentos do Football Leaks ajudaram a expor fraude fiscal e corrupção no mundo do futebol. Já o Luanda Leaks expôs o império e a rede de negócios criada pela empresária angolana Isabel dos Santos.
4 Setembro 2020, 09h33

Arranca hoje o julgamento do Rui Pinto, acusado de  93 crimes. O Ministério Público acusa o denunciante de 68 crimes de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis por acesso ilegítimo e um de sabotagem informática.

O hacker é acusado de ter invadido entre 2015 e 2019 a Procuradoria-Geral da República (PGR), a sociedade de advogados PLMJ, o Sporting, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e o fundo de investimento Doyen, que o acusa de extorsão.

Os ficheiros revelados pelo hacker português de Vila Nova de Gaia deram origem a dois dos maiores casos de denúncia dos últimos anos: o Football Leaks e o Luanda Leaks.

“Não me considero um hacker”, disse recentemente Rio Pinto, preferindo ser considerado um denunciante. “Alguém que procura, recebe e analisa informação relativa a crimes relevantes como corrupção e fraude fiscal e decide partilhá-la com media internacionais ou diretamente com as autoridades deve ser considerado um whistleblower [denunciante]. Tomemos os Panama Papers como exemplo. Hoje a maior parte das pessoas já se esqueceu de que foi um ato de hacking” [pirataria informática], afirmou em entrevista à Der Spiegel, citado pelo Expresso.

O Football Leaks abalou o mundo do poderoso futebol europeu nos últimos anos. Este caso revelou 18,6 milhões de documentos condensados em 18,6 terabytes de informação. Um total de 60 jornalistas em 12 países estiveram a analisar a montanha da informação ao longo de sete meses para revelar um mundo de corrupção e de fuga ao fisco que envolve jogadores, clubes, agentes.

Rui Pinto, sob o pseudónimo John, foi a fonte que revelou estes documentos e os entregou a jornalistas para exporem os negócios que alguns mo mundo do jogo bonito querem que fiquem longe dos holofotes.

Os ficheiros revelaram várias histórias sobre várias personalidades do futebol mundial como Cristiano Ronaldo, José Mourinho ou o superagente Jorge Mendes.

No caso de CR7, as revelações levaram a que o fisco espanhol o acusasse de uma fraude fiscal no valor de 14,7 milhões de euros. Para fechar o caso o futebolista português teve de pagar uma multa de 18,8 milhões de euros, escapando assim a uma pena de prisão de 23 meses.

A justiça espanhola acusou o jogador português de ter criado de forma “consciente” empresas na Irlanda e nas Ilhas Virgens britânicas para defraudar o fisco espanhol no valor de 14,7 milhões de euros entre 2011 e 2014.

Em janeiro de 2019, Cristiano Ronaldo teve de se deslocar ao tribunal de Madrid em pessoa, depois de ter sido recusado que o acordo fosse assinado por procuração. O magistrado espanhol também não aceitou o pedido dos advogados do jogador para entrar pela garagem, com o objetivo de evitar os jornalistas.

Mas o pirata informático não ficou por aqui. No início de 2020, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês) expunha um novo caso: Luanda Leaks e as ligações da empresária angolana, filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos: “Isabel dos Santos fez uma fortuna às custas do povo angolano, revela o Luanda Leaks”, segundo o ICIJ.

Rui Pinto disse recentemente que considera “revoltante que Portugal se tenha tornado uma lavandaria das elites angolanas”, afirmou na entrevista ao Der Spiegel.

Em consequência, o Ministério Público português abriu investigações por suspeitas de branqueamento de capitais e de fraude fiscal relacionadas, entre outras operações, com transferências de mais de 100 milhões de euros da Sonangol para uma consultora no Dubai.

Os cidadãos portugueses Sarju Raikundalia, Nuno Ribeiro da Cunha, Mário Leite da Silva e Paula Oliveira foram constituídos arguidos em Angola devido a este caso. “São pessoas cujos nomes aparecem sim, mas são de fachada, já que as empresas pertencem de facto a Isabel dos Santos”, disse Helder Pitta Grós em janeiro de 2020.

Na sequência da divulgação deste caso, Isabel dos Santos anunciou a sua saída de várias empresas em Portugal: Efacec, o banco Eurobic e a empresa de telecomunicações NOS.

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