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FC Barcelona em crise. Sete desafios que se colocam à próxima direção ‘blaugrana’

A nova direção terá de assumir alguns legados de Bartomeu – da Espai Barça ao Barçagate, passando pela procura de patrocinadores renovação do estádio, governação corporativa ou os processos em tribunal.
28 Outubro 2020, 18h15

Depois da demissão de Josep Bartomeu da direção do FC Barcelona, já foram convocadas novas eleições para um dos cargos mais importantes do mundo do futebol. A próxima direção do clube catalão terá vários desafios complexos pela frente, entre eles, a crise económica provocada pela pandemia de Covid-19, o plantel, os patrocinadores e o escândalo ‘Barçagate’, segundo o portal “Palco 23”.

O impacto da pandemia de Covid-19 será, inevitavelmente, um dos pontos em foco da próxima direção do FC Barcelona. O clube ‘blaugrana’ encerrou a temporada de 2019/20 com perdas de 97 milhões de euros. Ainda assim, a faturação cifrou-se nos 855 milhões de euros, o que representa uma queda de 13% face à temporada anterior.

Além de um cenário complexo em termos de receitas (aguardando a reabertura ao público do Camp Nou, principalmente) e despesas (com corte de salários para equipas desportivas e não desportivas em andamento), a nova direção terá de assumir alguns legados de Bartomeu – da Espai Barça ao Barçagate, passando pela procura de patrocinadores, governação corporativa ou contencioso judicial. A última surpresa adicionada, o envolvimento do Barça no conflito geopolítico do futebol europeu, após Bartomeu ter concordado em apoiar o clube para a Superliga Europeia.

Nova direção com orçamento reestruturado

Depois de, na segunda-feira dia 26 de outubro, Josep Bartomeu ter anunciado a aprovação de receitas de 828 milhões de euros para a temporada em curso e despesas operacionais de 796 milhões de euros, as previsões apontam para um lucro líquido do clube de um milhão de euros. Ainda assim, a nova direção, previsivelmente, acabará por apresentar um novo orçamento para a temporada 2020/21 em vez de continuar com o da ex-direção do FC Barcelona.

Reforma do estádio

O acordo assinado entre o clube e a Goldman Sachs, no âmbito da renovação do estádio do clube, o mítico Camp Nou, fará com que 815 milhões de euros entrem diretamente nos cofres do FC Barcelona. O acordo entre as partes, com uma validade de 30 anos, prevê que o grupo de investimento se encarregue de gerir o estádio durante 25 anos e que seja o principal interveniente no financiamento da renovação do estádio, previsto para estar terminado até à temporada 2024/35.

‘Barça Corporate’ – um projeto em andamento

Outro dos legados inacabados do conselho de administração de Jose Bartomeu chama-se Barça Corporate – um projeto que tem como objetivo encontrar um parceiro externo para negócios estratégicos como o ‘Barça Studios’, ‘Barça Licensing e Merchandising’ (BLM), ‘Barça Innovation Hub’ (Bihub) e o ‘Barça Academies’.

As quatro unidades de negócios para as quais o clube catalão está ativamente à procura de um parceiro fazem parte do plano estratégico do clube de 2015, que estabeleceu uma política de diversificação de receitas para tornar a entidade o primeiro clube de futebol do mundo a obter receitas de mil milhões de euros. Se o projeto for levado adiante, a nova direção deverá criar uma estrutura corporativa para realizá-lo, já que atualmente apenas o ‘Barça Licensing and Merchandising’ tem uma empresa independente, enquanto as outras três divisões fazem parte da estrutura do clube.

Patrocínios em risco

A nova administração terá de assumir as negociações de um dos principais canais de receita do clube, os patrocínios. Embora o processo em andamento mais lucrativo para o clube seja o direito ao naming do estádio, o Barça ainda não renovou os acordos com os seus dois principais patrocinadores – a Rakuten e a Beko.

O acordo com a Rakuten foi celebrado em 2016 com a duração de quatro anos no valor de 55 milhões de euros por ano. Além disso, o contrato, que já apresentava a opção de prolongar a relação por mais uma temporada, incluía um pagamento extra de 1,5 milhões de euros por ser campeão da liga (dois títulos nestes quatro anos) e cinco milhões de euros pela vitória na ‘Champions’, algo que ainda não aconteceu desde a chegada da empresa asiática.

Negociações com o plantel são ponto chave da nova direção

O FC Barcelona precisa de cortar cerca de 200 milhões de euros em custos em relação à temporada passada para atingir o equilíbrio do orçamento na campanha de 2020-2021, segundo a direção de Josep Bartomeu. Em cima da mesa já estaria uma renegociação salarial com os jogadores e um arquivo de regulamento de trabalho (Erte) para os funcionários não desportivos.

Especificamente, foi levantada a possibilidade de levar a cabo algumas suspensões temporárias de contratos, embora isso só fosse feito nas áreas onde a pandemia obrigou a cessar a atividade. A mesa de negociações estará reunida na próxima sexta-feira, dia 30 de outubro, com a ambição de chegar a um acordo nas próximas semanas.

Escândalo judicial ‘Barçagate’

Outra das crises abertas da direção cessante é o chamado Barçagate. O escândalo, revelado pela “Cadena Ser” em fevereiro, teve como alvo direto o diretor da área da presidência, Jaume Masferrer, que teria contratado a I3 Ventures para fazer a gestão das redes sociais do clube, bem como para atacar adversários da direção e vários jogadores e pessoas de referência no mundo ‘culé’.

O surto causou uma crise institucional no Camp Nou e forçou a diretoria de Bartomeu a abrir uma auditoria interna realizada pela PwC, que descartou que o clube tivesse ordenado a criação de contas nas redes sociais para desacreditar adversários políticos ou jogadores como Lionel Messi e Gerard Piqué. Ainda assim, o escândalo levou à renúncia de seis membros do conselho administrativo.

Limpar a imagem da gestão interna das finanças do clube

O departamento de compliance do Barça, que supervisiona a boa governança da entidade, teve três gestores em apenas quatro anos de existência. Sabine Paquer, Compliance Officer desde 2016 e responsável pelo criação do departamento, pediu demissão em 2019. A executiva ingressou no Barça após uma longa carreira em empresas como a EY ou a Sanofi. Durante o período em que exerceu o cargo, o Barça enfrentou diversos processos judiciais, como a contratação de Neymar, bem como pedidos internos de investigação a alguns membros do conselho de administração.

O seu sucessor durou ainda menos no cargo. Paquer foi substituído em 2019 por Noelia Romero, que foi demitida em 2020 a meio do escândalo ‘Barçagate’. Romero, que tinha como função alertar a direção sobre potenciais violações às regras de diretores e funcionários, colocou-se à disposição do juiz do caso e incentivou os sócios a “garantirem a indeminização pelos prejuízos que possam advir da ação da I3 Ventures, bem como aplicar as medidas disciplinares pertinentes”. Desde julho, o cargo de Compliance Officer é ocupado por Mireia Simona, que ingressou no clube após sete anos na Thompson Reuters.

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