Depois da demissão de Josep Bartomeu da direção do FC Barcelona, já foram convocadas novas eleições para um dos cargos mais importantes do mundo do futebol. A próxima direção do clube catalão terá vários desafios complexos pela frente, entre eles, a crise económica provocada pela pandemia de Covid-19, o plantel, os patrocinadores e o escândalo ‘Barçagate’, segundo o portal “Palco 23”.
O impacto da pandemia de Covid-19 será, inevitavelmente, um dos pontos em foco da próxima direção do FC Barcelona. O clube ‘blaugrana’ encerrou a temporada de 2019/20 com perdas de 97 milhões de euros. Ainda assim, a faturação cifrou-se nos 855 milhões de euros, o que representa uma queda de 13% face à temporada anterior.
Além de um cenário complexo em termos de receitas (aguardando a reabertura ao público do Camp Nou, principalmente) e despesas (com corte de salários para equipas desportivas e não desportivas em andamento), a nova direção terá de assumir alguns legados de Bartomeu – da Espai Barça ao Barçagate, passando pela procura de patrocinadores, governação corporativa ou contencioso judicial. A última surpresa adicionada, o envolvimento do Barça no conflito geopolítico do futebol europeu, após Bartomeu ter concordado em apoiar o clube para a Superliga Europeia.
Nova direção com orçamento reestruturado
Depois de, na segunda-feira dia 26 de outubro, Josep Bartomeu ter anunciado a aprovação de receitas de 828 milhões de euros para a temporada em curso e despesas operacionais de 796 milhões de euros, as previsões apontam para um lucro líquido do clube de um milhão de euros. Ainda assim, a nova direção, previsivelmente, acabará por apresentar um novo orçamento para a temporada 2020/21 em vez de continuar com o da ex-direção do FC Barcelona.
Reforma do estádio
O acordo assinado entre o clube e a Goldman Sachs, no âmbito da renovação do estádio do clube, o mítico Camp Nou, fará com que 815 milhões de euros entrem diretamente nos cofres do FC Barcelona. O acordo entre as partes, com uma validade de 30 anos, prevê que o grupo de investimento se encarregue de gerir o estádio durante 25 anos e que seja o principal interveniente no financiamento da renovação do estádio, previsto para estar terminado até à temporada 2024/35.
‘Barça Corporate’ – um projeto em andamento
Outro dos legados inacabados do conselho de administração de Jose Bartomeu chama-se Barça Corporate – um projeto que tem como objetivo encontrar um parceiro externo para negócios estratégicos como o ‘Barça Studios’, ‘Barça Licensing e Merchandising’ (BLM), ‘Barça Innovation Hub’ (Bihub) e o ‘Barça Academies’.
As quatro unidades de negócios para as quais o clube catalão está ativamente à procura de um parceiro fazem parte do plano estratégico do clube de 2015, que estabeleceu uma política de diversificação de receitas para tornar a entidade o primeiro clube de futebol do mundo a obter receitas de mil milhões de euros. Se o projeto for levado adiante, a nova direção deverá criar uma estrutura corporativa para realizá-lo, já que atualmente apenas o ‘Barça Licensing and Merchandising’ tem uma empresa independente, enquanto as outras três divisões fazem parte da estrutura do clube.
Patrocínios em risco
A nova administração terá de assumir as negociações de um dos principais canais de receita do clube, os patrocínios. Embora o processo em andamento mais lucrativo para o clube seja o direito ao naming do estádio, o Barça ainda não renovou os acordos com os seus dois principais patrocinadores – a Rakuten e a Beko.
O acordo com a Rakuten foi celebrado em 2016 com a duração de quatro anos no valor de 55 milhões de euros por ano. Além disso, o contrato, que já apresentava a opção de prolongar a relação por mais uma temporada, incluía um pagamento extra de 1,5 milhões de euros por ser campeão da liga (dois títulos nestes quatro anos) e cinco milhões de euros pela vitória na ‘Champions’, algo que ainda não aconteceu desde a chegada da empresa asiática.
Negociações com o plantel são ponto chave da nova direção
O FC Barcelona precisa de cortar cerca de 200 milhões de euros em custos em relação à temporada passada para atingir o equilíbrio do orçamento na campanha de 2020-2021, segundo a direção de Josep Bartomeu. Em cima da mesa já estaria uma renegociação salarial com os jogadores e um arquivo de regulamento de trabalho (Erte) para os funcionários não desportivos.
Especificamente, foi levantada a possibilidade de levar a cabo algumas suspensões temporárias de contratos, embora isso só fosse feito nas áreas onde a pandemia obrigou a cessar a atividade. A mesa de negociações estará reunida na próxima sexta-feira, dia 30 de outubro, com a ambição de chegar a um acordo nas próximas semanas.
Escândalo judicial ‘Barçagate’
Outra das crises abertas da direção cessante é o chamado Barçagate. O escândalo, revelado pela “Cadena Ser” em fevereiro, teve como alvo direto o diretor da área da presidência, Jaume Masferrer, que teria contratado a I3 Ventures para fazer a gestão das redes sociais do clube, bem como para atacar adversários da direção e vários jogadores e pessoas de referência no mundo ‘culé’.
O surto causou uma crise institucional no Camp Nou e forçou a diretoria de Bartomeu a abrir uma auditoria interna realizada pela PwC, que descartou que o clube tivesse ordenado a criação de contas nas redes sociais para desacreditar adversários políticos ou jogadores como Lionel Messi e Gerard Piqué. Ainda assim, o escândalo levou à renúncia de seis membros do conselho administrativo.
Limpar a imagem da gestão interna das finanças do clube
O departamento de compliance do Barça, que supervisiona a boa governança da entidade, teve três gestores em apenas quatro anos de existência. Sabine Paquer, Compliance Officer desde 2016 e responsável pelo criação do departamento, pediu demissão em 2019. A executiva ingressou no Barça após uma longa carreira em empresas como a EY ou a Sanofi. Durante o período em que exerceu o cargo, o Barça enfrentou diversos processos judiciais, como a contratação de Neymar, bem como pedidos internos de investigação a alguns membros do conselho de administração.
O seu sucessor durou ainda menos no cargo. Paquer foi substituído em 2019 por Noelia Romero, que foi demitida em 2020 a meio do escândalo ‘Barçagate’. Romero, que tinha como função alertar a direção sobre potenciais violações às regras de diretores e funcionários, colocou-se à disposição do juiz do caso e incentivou os sócios a “garantirem a indeminização pelos prejuízos que possam advir da ação da I3 Ventures, bem como aplicar as medidas disciplinares pertinentes”. Desde julho, o cargo de Compliance Officer é ocupado por Mireia Simona, que ingressou no clube após sete anos na Thompson Reuters.
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