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Investimento sustentável é oportunidade para alinhar finanças e política

Os emitentes portugueses de dívida verde consideram que a emergência da preocupação com critérios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) e a promoção do investimento sustentável, mais do que uma obrigação imposta pelo contexto, é uma oportunidade para as empresas alinharem a sua estrutura financeira com a própria natureza da organização […]
11 Setembro 2021, 13h30

Os emitentes portugueses de dívida verde consideram que a emergência da preocupação com critérios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) e a promoção do investimento sustentável, mais do que uma obrigação imposta pelo contexto, é uma oportunidade para as empresas alinharem a sua estrutura financeira com a própria natureza da organização e com a política que pretendem seguir na sua atividade.

“A estratégia de financiamento da REN tem de estar alinhada com a sua estratégia de sustentabilidade”, defende Gonçalo Morais Soares, administrador financeiro das Redes Energéticas Nacionais, dando o exemplo da empresa portuguesa de transporte de energia. “É mais um vetor que deve concorrer para um corpo que se quer integrado e coerente”, acrescenta.

Esta é a ideia generalizada entre os emitentes, que a emergência de produtos como as obrigações verdes permitiu a quem já tinha preocupações com a sustentabilidade expressar esse posicionamento e recolher benefícios.
“A estrutura financeira reflete, desde sempre, as preocupações que o grupo [Pestana] tem com a sustentabilidade”, afirma ao Jornal Económico (JE) Pedro Fino, administrador financeiro do Pestana Hotel Group, concretizando que se pretende “uma estrutura sólida, com visão de médio e longo prazo capaz de financiar o desenvolvimento de novas operações de forma responsável e sustentável, envolvendo as comunidades locais”.
Quando, em 2019, o grupo fez a “primeira emissão de green bonds [obrigações verdes] no sector hoteleiro, a nível mundial”, isso permitiu, segundo Pedro Fino, uma “maior visibilidade do grupo no mercado e capitalizar o interesse dos investidores” na emissão, de 60 milhões de euros. Ou seja, o interesse do mercado permite a concretização de agendas sustentáveis, que, por sua vez, aumentam a capacidade de diferenciação das empresas, que encontram num mercado um retorno positivo para esse posicionamento, num círculo virtuoso.

O mesmo defende José Pedro Pereira da Costa, administrador financeiro da NOS, apontando que os instrumentos de dívida verde permitem “alinhar a estratégia de financiamento com a estratégia corporativa de sustentabilidade e, dessa forma, contribuir para o seu cumprimento e para aprofundar o compromisso” que a operadora de telecomunicações assume com estes temas.

“Todas as emissões da EDP desde 2018 cumprem com critérios exigentes de sustentabilidade, são direcionadas para financiar projetos renováveis e, ao atraírem investidores ESG, estas operações contribuem para o cumprimento das ambiciosas metas traçadas pelo grupo EDP. Continuarão, assim, a ser uma prioridade na nossa política financeira”, afirma, na mesma linha, Rui Teixeira, administrador financeiro da empresa de energia.
Para a EDP, “o tema do financiamento sustentável continua a receber crescente atenção por parte de investidores, reguladores e emitentes, desempenhando um papel fundamental na mobilização do capital necessário ao cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável”.

 

Stakeholders atentos e ativos
João Dolores, administrador da Sonae, diz que o grupo tem um longo historial de compromisso com a sustentabilidade, pelo que vê com satisfação o movimento global em prol dos temas ESG. Considera, assim, que o que move a organização é uma força interna. “A pressão que temos para acelerar nestas frentes é, em primeira instância, autoimposta”, garante. Mas avisa que os investidores no mercado de capitais estão cada vez mais despertos para a importância do desenvolvimento sustentável e que a ação política, na União Europeia, aumentará “rapidamente o interesse da banca neste tipo de financiamentos”.

Facto é que a transformação que sustenta uma maior atenção ao investimento sustentável não se resume ao aproveitamento, interno, da oportunidade de alinhamento da estrutura financeira com a estratégia corporativa das organizações, mas é forçada, também, pela força exógena feita pelos diferentes stakeholders, as partes interessadas na atividade desenvolvida pelas empresas, que se revelam mais atentos e mais ativos, como comprova a multiplicação de casos de shareholder activism.
Quando perguntámos ao presidente-executivo da Corticeira Amorim se sentia a pressão dos investidores para a empresa ser mais sustentável, António Rios Amorim diz que a “relação intrínseca” da organização com objetivos de sustentabilidade é visível, até pelo “mérito das iniciativas que têm sido implementadas nesta área”, e que, “mais do que pressão, a empresa tem sentido um interesse crescente e um maior escrutínio por parte dos investidores sobre temas ESG ao longo dos últimos anos”.
“A estratégia de sustentabilidade e o compromisso com temas ESG gera muito interesse por parte de todos os stakeholders da empresa, e naturalmente os investidores atribuem também um peso relevante a estes temas em qualquer decisão de investimento”, afirma José Pedro Pereira da Costa.

Os investidores são, porém, apenas uma face, importante, como aponta Gonçalo Morais Soares, que diz que “a pressão para o desenvolvimento de práticas sustentáveis surge dos mais diversos quadrantes e atores”, mas que “todos sabemos o papel transformador que os incentivos e instrumentos financeiros direcionados podem ter neste contexto”.

“Acreditamos que, mais que uma tendência do mercado de capitais, este maior escrutínio [por parte dos investidores] é algo estrutural, e é também uma exigência crescente dos outros stakeholders da Corticeira Amorim, incluindo clientes e colaboradores”, afirma António Ramos Amorim.

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