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Sara Sampaio: “As redes sociais vieram dar uma voz para as modelos denunciarem abusos”

A supermodelo portuguesa falou na Web Summit sobre como usa a conta no Instagram para tentar convencer a indústria a proteger as modelos. Numa altura em que os escândalos relacionados com assédio já chegaram ao mundo da moda, Sampaio criticou os agentes, as revistas e as marcas por terem ignorado os abusos durante tanto tempo.
  • António Cotrim/Lusa
9 Novembro 2017, 14h08

É uma das Angels da Victoria’s Secret e o estatuto como supermodelo a nível global é refletido no enorme número de seguidores que têm nas redes sociais: no Instagram são quase 6 milhões e no Facebook 2,6 milhões. Sara Sampaio realça, contudo, que as redes sociais não servem apenas para colocar selfies e promover a carreira, vieram também ajudar as modelos a denunciarem abusos.

“Costumávamos não ter voz, tínhamos de aparecer, estar bonitas, ficar caladas e ir para casa. Agora estamos a ver uma mudança, as modelos têm uma voz que chega a milhões de pessoas, e isso é muito poderoso”, referiu, num painel da Web Summit em Lisboa esta quinta-feira.

Sampaio salientou que essa exposição traz bastante responsabilidade “pois há coisas boas e más”, adiantando que optou por utilizar as redes sociais para tentar mostrar à indústria da moda que não pode continuar a ignorar os abusos.

“Já tive ocasiões na minha carreira em que fui forçada a fazer coisas que não não queria, coisas que as pessoas diziam fazer parte do business, mas que não deveria fazer”, explicou. “No último ano ou dois tenho enfrentado algumas situações. Sempre estive muito confortável com o meu corpo e sempre fui muito seletiva, todas as fotos com nudez que fiz foram muito controladas e pensadas, mas tenho tido muitas sessões às quais chego e esperam que eu me dispa, e é isso que tenho tentado denunciar”.

No mês passado Sampaio publicou um longo post nas redes sociais, a acusar a revista francesa Lui de ter publicado fotos da modelo nua na capa e nas páginas interiores, contrariando uma clausula que tinha sido acordada no contrato.

“Há trabalhos nos quais é demonstrado respeito, depois há trabalhos como o da Lui”, vincou. “Numa sessão, é difícil estar se sempre tapada, a pessoa que ser natural, e tem de se confiar na equipa, porque há acidentes, mas o que eles fizeram foi usar essas fotos mesmo depois de terem dito que não o fariam”.

“Demorei um bocado a decidir o que fazer, mas decidir que denunciar este tipo de coisa é precisamente o que esta indústria precisa, por isso avancei, trabalhando com uma equipa para garantir que fosse feita da forma certa”.

Adiantou que o objectivo era evitar que isso acontecesse a outras modelos, especialmente mais jovens e que a reação nas redes foi impressionante.

Sara Sampaio fez referência ainda a Terry Richardson, um fotógrafo americano que foi acusado de assédio no mês passado e já foi banido por várias revistas. Mas as críticas da modelo portuguesa estendem-se a várias partes da cadeia de produção.

“As pessoas têm de deixar de fechar os olhos e fingir que as coisas não aconteceram. Os agentes têm de parar de enviar as modelos para fotógrafos problemáticos, as revistas e as marcas também têm de fazer isso”, alertou.

“Toda a gente sabia sobre o Terry Richardson e ninguém fez nada, continuaram a trabalhar com ele. Agora é um bode expiatório, mas é um bocado hipócrita da parte da indústria que não fez nada, apenas colocou as miúdas nessa posição”, concluiu.

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