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Turismo exige plano de apoio para iniciar reconquista em 2021

É crescente a pressão da Confederação do Turismo de Portugal ou da AHRESP para que o Governo avance o mais rapidamente com a atribuição de um programa específico de apoio às empresas do setor antes de chegar a vacina ou a ‘bazuca’ de Bruxelas.
13 Setembro 2020, 15h00

O Jornal Económico celebra no dia 16 de setembro o seu quarto aniversário. Nos quatro anos, todos eles de crescimento, o jornal visou sempre noticiar os principais acontecimentos na economia, na política, e no mundo. O olhar mais importante foi sempre, no entanto, para a frente – o que é que vai acontecer a seguir?  Numa altura de incertezas devido à pandemia, decidimos marcar o aniversário com trabalhos sobre o futuro. Oferecemos aos nossos leitores análises sobre as perspetivas da economia, dos mercados e da política (nacional e externa). Temos uma grande entrevista com o presidente da AICEP e também um Forum no qual 33 líderes sugerem as receitas para ajudar Portugal sair de uma crise inesperada. Obrigado pela preferência!

 

“Do lado da CTP, não vamos largar, o setor do turismo exige medidas perfeitamente concretas, em estreita cooperação com o Governo, com quem estamos a trabalhar, quer no Plano de Estabilização Económica, quer com o programa do Professor Costa e Silva, no sentido de ser criado um programa específico de apoio ao setor”, revelou esta semana Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal, durante uma web conference de preparação da V Conferência Anual do Turismo Português, agendada para o próximo dia 28 de setembro, Dia Mundial do Turismo.

A criação de um pacote específico de apoio às empresas do setor do turismo antes de chegar a vacina contra a Covid-19 e de entrarem nos cofres do Estado as largas centenas de milhões de euros de apoio proporcionadas pela famosa bazuca criada pela Comissão Europeia é também defendida por Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal. “Julgamos fundamental redefinir-se e criar-se um plano específico para o turismo, sustentável ao nível ambiental, mas sobretudo económico e social, e que já tenha em conta a situação que se vive”, defende Ana Jacinto, em declarações ao Jornal Económico. Só assim, com apoios financeiros e com a recuperação da confiança e da segurança, será possível transformar 2021 num ano de reconquista para o setor, depois da queda abrupta verificada desde março deste ano.

Em declarações ao Jornal Económico, Francisco Calheiros recorda que, em junho último, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, numa mensagem de vídeo dirigida ao mundo, sublinhou que o turismo é um pilar essencial da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e que pode ser uma plataforma para ultrapassar a pandemia, unindo pessoas e promovendo a solidariedade e a confiança.

“Indiscutivelmente, o turismo reforçou nos últimos anos a sua importância no desenvolvimento socioeconómico das sociedades, na criação de riqueza e de postos de trabalho e no estímulo a outros setores económicos. Hoje, não é possível imaginar um mundo sem turismo. Não é possível, nem desejável e, neste contexto de pandemia em que nos encontramos, é mesmo urgente defendê-lo como atividade essencial à recuperação das economias mundiais”, assinala o presidente da CTP. No entender de Francisco Calheiros, “não será fácil nem imediato regressar ao ciclo virtuoso de crescimento em que nos encontrávamos no início deste ano”, mas “2021 será um ano de reconquista para o turismo, o que, em boa verdade, não é novo para os seus empresários, habituados a lidar com a adversidade”.
“Assim haja também vontade dos nossos governantes para seguir o conselho do secretário-geral da ONU.

Já Ana Jacinto refere que “os últimos meses foram exemplo de como um motivo, do tamanho microscópico, como é o caso dos vírus, pode provocar ondas de choque com efeitos absolutamente devastadores, que geram em nós um efeito de uma assustadora impotência, mas que não nos pode dominar, mas antes obrigar-nos a reinventar-nos”.
“Para as empresas portuguesas que trabalham no turismo, o momento é porventura o mais peculiar e difícil que já enfrentaram. Desde cedo viram decretada a suspensão das suas atividades, ou depararam-se com uma redução abrupta da sua faturação, muito perto dos zero euros e durante os meses que durou o confinamento…e quando puderam retomar a sua atividade (que ainda não aconteceu para todos), as empresas veem-se confrontadas com uma queda drástica no número dos seus habituais clientes. E sem clientes, e dispostos a consumir, não há recuperação possível”, lamenta a secretária geral da AHRESP.

Por isso, Ana Jacinto pergunta-se sobre “o que é preciso para que os nossos clientes regressem e ajudem os negócios e a economia que, no fundo, é para todos nós?” “A resposta está na confiança. Só voltará a haver consumidores quando houver confiança, e para haver confiança é necessário haver segurança na operação e no negócio. E aqui, os setores que representamos têm sido um verdadeiro exemplo, mas que não chega para que as dificuldades se comecem a dissipar”, diz esta responsável.

Para Ana Jacinto, “hoje, mais do que nunca, as empresas precisam de ajuda, de toda a ajuda, para que possam dispor dos ‘curativos’ adequados à ‘ferida de bala’ que as atingiu”.

“A AHRESP sabe disso melhor do que ninguém e tem estado a trabalhar ininterruptamente desde que esta crise se instalou, e em várias frentes, tal como a situação exige: temos mantido conversações constantes com o Governo, mas também apresentámos medidas e soluções específicas para ajudar as nossas empresas a enfrentar o futuro com maior confiança e segurança, tendo algumas delas visto ‘a luz do dia’, destaca.

Ana Jacinto reconhece que “este é um trabalho inacabado e que exige de todos nós uma astúcia e uma agilidade quase permanente, para irmos encontrando as melhores respostas a cada desafio que surge”. E frisa: “há respostas que também dependem de nós, AHRESP, e que passam pela disponibilização de serviços inovadores que sabemos podem contribuir para uma retoma mais rápida e sustentada”.

“Um desses serviços passa pela disponibilização de um marketplace online, que designámos de ‘Mercado Global Online AHRESP’, e que põe em contacto fornecedores e clientes em busca de produtos e serviços em condições únicas e com garantia de qualidade. Mas também sabemos que muitas vão ser as empresas que vão entrar numa espiral de dificuldades e que irão precisar de alguns ‘cuidados intensivos’, por isso, em breve, iremos apresentar às empresas a possibilidade de disporem de um serviço que compreende um diagnóstico sério e profissional sobre a situação real e que será acompanhado de um plano de recuperação económico-financeira do negócio, ao estilo tailor made”, revela Ana Jacinto.

Além disso, no entender da secretária geral da AHRESP, existem também medidas, numa vertente mais macro, “que nos ultrapassam, mas que são fundamentais para que a recuperação se dê, ou pelo menos, se vá dando”.
“Assim, outra – entre muitas – das medidas que seriam bem-vindas seria a redução temporária do IVA como forma de incentivar o consumo. Muito pouco se tem falado em medidas que impulsionem o consumo mas como já referimos, sem consumo não há retoma. E por fim o tão desejado ‘filão’ que esperemos chegue da União Europeia, e que queremos seja distribuído com o envolvimento das empresas e seus representantes, e não de costas voltadas para estes. A AHRESP está, como sempre esteve, disponível para um debate aberto e sério sobre o futuro desta atividade, e que já se impõe”, conclui Ana Jacinto.

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