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CGD reduziu em 7,9 mil milhões o malparado desde a recapitalização

Este é o último ano do Plano Estratégico e a CGD vai ter de prestar contas a Bruxelas. A atuação sobre o malparado permitiu à reduzir 7,9 mil milhões de euros de NPL (-75%) desde dezembro de 2016, altura em que o rácio era de 15,8% e o volume de 10,6 mil milhões de euros. Paulo Macedo, nas contas de 2019, piscou os olhos às agências de rating.
  • Cristina Bernardo
3 Fevereiro 2020, 07h15

A Caixa Geral de Depósitos entra em 2020 – ano em que irá prestar contas definitivas a Bruxelas do Plano Estratégico assumido em 2016 – com um rácio de Non-Performing Loans (NPL) de 4,7%. Se olharmos apenas para o crédito vencido a mais de 90 dias, o rácio é de 2,8%. A melhoria da qualidade da carteira de crédito é assim a pedra de toque de Paulo Macedo.

O CEO do banco vai ter de prestar contas com a DGComp (Direção Geral de Concorência europeia) no final deste ano, depois da CGD ter sido recapitalizada (em 2017)  num processo que foi autorizado por Bruxelas no ano , com quase 5.000 milhões de euros, dos quais 2.500 milhões de euros de injeção direta do Estado. Nessa altura o banco público tinha 1.672 milhões de euros em imparidades e 1.910 milhões de euros em outras perdas, de uma exposição total de 2.859 milhões de euros.

Só em grandes devedores com crédito malparado a CGD tinha em 2017, aquando da última recapitalização, 1.242 milhões de euros em imparidades e 1.334 milhões de euros em outras perdas geradas por 16 grandes devedores (que tinham créditos iniciais de 3.991 milhões), segundo a informação divulgada então pelo Banco de Portugal.

A atuação sobre os NPL permitiu à CGD reduzir 7,9 mil milhões de euros de crédito malparado (-75%) desde dezembro de 2016, altura em que o rácio era de 15,8% e o volume de NPL era de 10,6 mil milhões de euros.

O banco tinha em dezembro de 2019 um stock de crédito malparado de 2,7 mil milhões o que representava 4,7% do total da carteira, portanto abaixo da meta que a EBA (autoridade bancária europeia) exige e que é de 5%, e bastante abaixo da média da banca em Portugal, que está nos 8,3%. No entanto este rácio ainda está muito acima da média da União Europeia que é de 2,9%.

O rácio de Non-Perfoming Loans (NPL) líquido de imparidades está já em apenas 1,1%. O rácio de NPE (non-performing exposure) que inclui outras coisas como crédito em risco, e garantias prestadas, está em 3,9%.

O banco revelou ainda que em 2019 a cobertura dos NPL com imparidades está nos 77,4% e a dos NPE nos 71,9%, sem contar com os colaterais inerentes aos créditos.

Em 2019, a explicar esta melhoria do malparado estão as curas (700 milhões de euros ), ou seja crédito que deixa de estar em NPL e passa a crédito performante; há 600 milhões em recuperações de crédito; 600 milhões em vendas de carteiras de NPL (entre 2017 e 2018 tinham sido de 2 mil milhões); e 600 milhões de euros foi abatido ao ativo (write-off) por ser incobrável.

As vendas de carteiras de NPL em 2019 foram responsáveis em parte pela queda de 7,9% da carteira de crédito, mas o maior impacto deve-se ao reembolso de empréstimos de empresas do setor público (2,5 mil milhões de euros, dos quais 2,1 mil milhões foram reembolsos antecipados). Os depósitos subiram 4,9%. O rácio de transformação dos depósitos em crédito está em 73%.

O reembolso de 2 mil milhões de euros do crédito de entidades publicas também explica a queda do volume da receita em juros (a margem financeira caiu 4,3% no consolidado e 7,1% em Portugal).

O banco continua também a baixar o número de imóveis por recuperação de crédito detido para venda. Em 2019 tinha 560 milhões de euros de imóveis detidos para venda (menos 206 milhões do que em 2018) e um particular impulso com a venda do Centro Comercial Nova Arcada no último trimestre do ano. A cobertura por imparidades reforçou-se para 47%.

No que toda a Propriedades de Investimento (que inclui fundos de investimento imobiliário e imóveis que não resultam da recuperação de crédito) houve uma queda de 77% para 186 milhões de euros (compara com 810 milhões em 2018) e que advém sobretudo da redução da posição da CGD em fundos de investimento imobiliário. Ao nível da exposição a fundos de reestruturação a Caixa baixou 14% para 549 milhões.

A CGD está determinada a atingir da rating de Investment Grade em 2020 e espera que as agências reconheçam a melhoria da atividade do banco que entra agora no seu último ano do Plano Estratégico assinado com a Direção Geral da Concorrência europeia.

A CGD quer reembolsar o Estado com dividendos, mas também quer livrar-se da emissão de 500 milhões de euros dívida subordinada do AT1 [emissão de ‘additional tier 1’] que a Caixa teve de contrair a uma taxa de 10,75%.

“Obviamente é uma prioridade para este banco pagar essa dívida que não tem nada a ver com os contribuintes, mas não deixou de ser parte da capitalização. Até o Estado tem interesse em que a Caixa o faça”, disse o CEO na apresentação de contas anuais.

A opção de reembolso é a cinco anos. Portanto “se a Caixa tiver, dentro de dois anos, as condições que tem hoje, seria totalmente reembolsado“, afirmou Paulo Macedo.

Em 2022 a CGD vai reembolsar essa dívida depois de devidamente autorizada pelo BCE, o que poderá ser linear (e assim seria usado dinheiro em caixa) ou através de uma exigência de uma emissão idêntica a juros mais baixos (sujeita às condições de mercado).

O CEO do banco diz que em dois anos vai devolver, em dividendos, ao Estado 500 milhões de euros dos 2.500 milhões que foram postos, em dinheiro, na Caixa em 2017.

Onde é que está a CGD no penúltimo ano do Plano Estratégico que foi negociado em 2016 com Bruxelas?

Os objetivos estratégicos do Plano Estratégico (2020) são ao nível da eficiência: Redução de custos operacionais em cerca de 20% até 2020 (um rácio de cost-to-income abaixo dos 43%); ao nível da prudência: Custo do risco abaixo dos 0,6%; ao nível da Resiliência: CET1 acima de 14% e ao nível da Rentabilidade: RoE acima de 9%.

Em termos e rentabilidade a CGD está em linha com o projetado para 2019, mas ainda abaixo da meta do Plano de Bruxelas. Os resultados líquidos de 776 milhões de euros representam um ROE (rentabilidade dos capitais próprios) de 8,1%, ligeiramente acima do que estava previsto no Plano Estratégico para 2019, mas aquém da meta para 2020 prevista no plano estratégico.

Em termos de rácio de eficiência (custos/proveitos) está em 47% ainda acima do que foi estipulado (43%) para 2020. “Pela primeira vez abaixo dos 50%”, realçou a administração do banco.

Mas a Caixa já superou as metas do Plano no que toca ao rácio dos NPL. Nesse documento acordado com a DGComp, a CGD comprometia-se baixar o rácio de malparado para 7% em 2019 e em 5% para 2020, e já conseguiu ter 4,7%.

Também a meta do custo do risco está a cumprir. A CGD apresentou este ano pela primeira vez um custo do risco (as imparidades do exercício, deduzidas de recuperações de crédito) negativo de -0,09% (peso no total da carteira de crédito).

As novas imparidades líquidas tiveram assim pouca expressão (27 milhões) e foram suportados no baixo custo do risco de crédito.

Também no rácio de capital o CET1 supera os 14% fixados no Plano para 2019, e já cumpre a meta de 2020, que é um rácio de capital core acima desse limiar (tem 16,8%).

Paulo Macedo lembrou que o elevado rácio de capital (CET1 de 16,8% e rácio total de 19%) é importante tendo em atenção que há a perspetiva de distribuição de dividendos de 300 milhões e a dotação extraordinária para o Fundo de Pensões e que foi 301,1 milhões de euros. Isto foi provocado pela atualização das tábuas de mortalidade, mas também pelo contexto de juros baixos que afetam a rentabilidade dos ativos do Fundo.

Este rácio de capital beneficiou sobretudo da redução dos ativos ponderados pelo risco com a venda das subsidiárias internacionais, mas incorpora também já os resultados do ano.

O rácio de capital é daquela magnitude apesar do impacto negativo no capital advém os desvios atuariais do fundo de pensões que desde 2017 superam já os 500 milhões de euros, dos quais 300 milhões em 2019. Este custo não estava previsto no Plano Estratégico assinado com a Direção Geral da Concorrência Europeia (DGComp).

Paulo Macedo acredita que o BCE acomode a melhoria do nível da qualidade dos ativos, nas próximas exigências de capital, no âmbito do Supervisory Review and Evaluation Process (SREP), ao nível do Pilar 2 do rácio de capital, o que até agora não aconteceu.

O banco viu os custos de estrutura do grupo caírem 22,5% desde 2017, dos quais os custos com pessoal baixaram 22%.

Desde dezembro de 2016 o número de colaboradores na atividade doméstica caiu 20% para 7.100 em dezembro de 2019 (num ano o número de empregados da CGD caiu 575). Também isto estava no Plano Estratégico.

A execução do Plano Estratégico passa também pela venda de subsidiárias no estrangeiro. O balanço dessas vendas está feito: as sucursais de Londres Cayman, Macau Offshore, Zhuhai e Nova Iorque foram todas encerradas. O CEO do banco destacou o facto de este ser o primeiro banco a encerrar todas as sucursais offshore. Está também feita a venda do Banco Caixa Geral em Espanha e a venda do Mercantile Bank na África do Sul.

Até ao fim do ano a CGD tem de fechar a venda do Banco Caixa Geral Brasil e o Banco Comercial do Atlântico em Cabo Verde, cujos processos estão a decorrer.

As sucursais de Espanha e Luxemburgo têm os processos de encerramento na fase final.

Quais foram os impactos das Provisões e Imparidades no resultado líquido?

Nas contas de 2019, no resultado corrente verifica-se o reforço de 27 milhões de euros em provisões que impactou nos resultados.  Este aumento é o saldo de novas imparidades e reversão de outras que já tinham sido constituídas e que afinal se mostraram desnecessárias.

Há uma reversão de 48 milhões nas imparidades para crédito (esta tem efeito no custo do risco do crédito) e uma reversão de provisões para garantias de 10 milhões. Mas o banco teve de reforçar provisões de 40 milhões para ativos financeiros, nomeadamente para fundos de reestruturação. A CGD apresentou ainda 36 milhões de outras provisões relacionadas com reestruturações internas e remodelações, e com alguns processos judiciais que não o da Autoridade da Concorrência.

Há dois movimentos consideráveis que surgem na rubrica de provisões e imparidades que não estão considerados no resultado corrente. A saber: A reversão de imparidades que entra como resultado extraordinário. Há 160 milhões de euros de provisões para venda de subsidiárias internacionais que foram revertidas (tinham sido constituídas no final de 2017) e subiram os lucros consolidados. Também a provisão para os programas de reforma que tem impacto neutro no resultado líquido porque foi compensada por um incremento da mesma dimensão na rubrica de custos com pessoal.  Esta é de 40 milhões.

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