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EY já entregou auditoria forense à CGD

Foram analisadas as atuações de seis administrações e vistos à lupa 15 anos de concessão de créditos, venda de ativos e decisões de negócios.
  • Cristina Bernardo
10 Maio 2018, 19h43

A auditoria forense aos atos de gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2000 e 2015 já foi entregue pela consultora EY à administração do banco público, revelou, nesta quinta-feira, o presidente do banco público, durante a apresentação de resultados da Caixa relativos ao primeiro trimestre de 2018.

Segundo Paulo Macedo, o relatório final está agora em verificação de qualidade (quality assessment) por parte de outra consultora, pela Price Waterhouse and Coopers (PwC).

O Jornal Económico avançou na edição de 27 de abril que a EY chegou a ter uma versão de relatório final que teve de ser alterada, após ter sido entregue pelo banco público documentação adicional relativa a créditos concedidos no início da década de 2000. Ainda assim, manteve-se a previsão de entregar até ao final de abril as conclusões à análise de 15 anos de concessão de créditos, venda de ativos e decisões de negócios, realizados por seis administrações, revelou ao Jornal Económico fonte próxima ao processo.

O Jornal Económico sabe que na base do atraso do relatório final da auditoria – que teve já uma versão preliminar concluída e teve de ser alterada face á entrega posterior de informações adicionais relativas a créditos concedidos pela CGD – está o horizonte temporal mais recuado que abrange os trabalhos dos auditores da EY que tem exigido um esforço adicional de pesquisa da informação por parte da CGD. Esta análise só ficou completa recentemente após a entrega de mais documentos à consultora que tem em mãos uma avaliação complexa aos atos de gestão de 15 anos do banco público.

Questionada sobre a necessidade de rever o relatório final de auditoria face à entrega adicional  de documentação, fonte oficial da EY afirmou que “por razões de confidencialidade“ a consultora “não pode comentar assuntos relacionados com clientes”.

Sobre o horizonte temporal , fonte próxima ao processo avançou, no entanto, ao JE que o facto de ser necessária documentação que já não existe e de vários trabalhadores já não estarem na CGD dificulta o processo de averiguação. Isto porque a análise a cargo da EY obrigou a também a contactos, entre outros, com os administradores e directores de crédito responsáveis por decisões que já não estão a trabalhar no banco o que dificultou ainda mais os trabalhos da auditoria forense,  pedida e acompanhada pelo supervisor, num processo em articulação com o Governo e que só foi desencadeada em maio do ano passado depois de concluído o processo de recapitalização da CGD.

A auditoria forense foi adjudicada à EY pelo facto de esta consultora não ter estado envolvida na auditoria das contas da CGD de entre 2000 e 2015, período em que terão sido tomadas decisões (de negócios e políticas) e concedido créditos que vieram a provocar as perdas que levaram à necessidade de recapitalizar a Caixa com um valor inédito de 4.900 milhões de euros.

Lista negra de maiores devedores vistos à lupa

Na mira dos auditores está a legalidade de atos de gestão praticados até 2015, bem como fragilidades na gestão da Caixa, já identificadas pelo actual governo e que passaram por uma deficiente gestão de risco. Os maiores devedores da CGD estão, aliás, a ser alvo de uma investigação judicial num inquérito do Ministério Público por suspeitas de gestão danosa e que está a analisar 2,5 mil milhões de créditos em incumprimento numa lista dos 100 maiores devedores (empresas e particulares), entre os quais os grupos Artlant, Espírito Santo, Lena, Efacec, Vale do Lobo, entre outros.

Os trabalhos da EY coincidem no tempo e no objeto com as investigações conduzidas no quadro na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa, em 2016, que acabou por esbarrar na recusa de entrega de documentação por parte da CGD e dos reguladores quanto aos maiores devedores e aos créditos de risco cuja reestruturação ou reconhecimento de imparidades estiveram na origem das perdas assumidas pelo banco nos últimos anos.

O presidente da CGD, Paulo Macedo, já avançou publicamente que os créditos que mais perdas causaram no banco do Estado foram concedidos a cerca de 200 empresas, as mesmas que foram responsáveis pelas imparidades registadas por outros bancos do sistema. 

Prazo de 15 semanas foi esgotado

A data-limite para a conclusão da auditoria da EY ao banco público chegou inicialmente a ser fixada em 15 semanas, ou seja até setembro do ano passado. Um prazo que acabou por não ser cumprido, face à complexidade dos trabalhos, para analisar as actuações das administrações de António de Sousa, Mira Amaral, Vítor Martins, Carlos Santos Ferreira, Fernando Faria de Oliveira e José de Matos.

Analisar 15 anos de gestão da CGD em 15 semana acabaria por revelar-se impraticável não só porque só em julho de 2017 os trabalhos começaram efetivamente  como também por se tratar de uma análise que exige recolha de informação não só relativa a clientes. É necessário saber quais foram as decisões tomadas e quais as estruturas existentes a cada momento no período entre 2000 a 2015. A administração da CGD sinalizou então outro prazo: final de 2017, que também não foi possível cumprir.

Já a 21 de março, quando foi ouvido no Parlamento sobre comissões e redução de trabalhadores no banco, Paulo Macedo avançou aos deputados esperar que estivesse concluída no próximo mês [abril] a análise aos 15 anos de gestão da CGD.

Também o ministro das Finanças sinalizou a mesma data, a 17 de abril, numa entrevista à TSF. “Estará concluída, creio eu, provavelmente até ao fim deste mês”, afirmou Mário Centeno, realçando que trata-se de “uma auditoria difícil porque tinha um período temporal muito grande” e que “permanecerá dentro do sigilo a que elas devem ser mantidas, enquanto as entidades responsáveis assim o considerem”.

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