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Os viajantes e o ‘livro dos museus’

Neste livro, reúnem-se olhares de viajantes estrangeiros. Umas vezes mais excêntricos, outras cruéis e certeiros, a verdade é que nos dão um retrato da cultura setecentista e oitocentista em Portugal. Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
  • Marta Teives
11 Janeiro 2020, 10h51

 

 

O aumento exponencial do turismo em Portugal tem sido tema recorrente nos últimos tempos e prevê-se que a situação se mantenha. Para tal, têm contribuído os diversos prémios que Portugal vem acumulando, nomedamente de “Melhor Destino do Mundo” (os World Travel Awards são chamados os “Óscares do Turismo”).

Mas já ao longo dos séculos XVIII e XIX, numerosos viajantes estrangeiros percorreram os caminhos portugueses. Alguns, mais instruídos, visitaram coleções e museus do nosso país e deixaram relatos dessas visitas. Este livro recolhe e sistematiza esses textos, escritos maioritariamente em língua inglesa, francesa ou castelhana, por homens e mulheres que se ocupavam com a escrita, a diplomacia, as artes da guerra ou a erudição naturalista. E o interesse destes viajantes tanto se reteve nos coches e outros carros e carruagens, ainda que desengraçados (Felix Lichnowsky, 1842), como nos “dois grandes e belíssimos jardins” (um do Marquês da Fronteira e o outro do Marquês de Abrantes, referidos com admiração pelo clérigo sueco Carl Israel Ruders) ou no Museu e Jardim Botânico referido por Rafael Rodríguez Mohedano, viajando em Portugal em 1773.

Esta antologia ajuda a fixar, com maior nitidez, a ideia que temos vindo a construir dos primeiros museus portugueses, caracterizando a integração dos jardins e dos edifícios na paisagem urbana, a dimensão das áreas de exposição, as propriedades físicas dos espécimes, os métodos de classificação e de exibição, a importância das colecções e sua função didática, os discursos científicos adotados, a competência e o desempenho profissional dos responsáveis, a ligação entre o funcionamento dos museus e a situação política do país.

Através dos olhares destes viajantes, muitas vezes excêntricos, quase sempre preconceituosos e cruéis, por vezes judiciosos e certeiros, obtém-se um retrato da cultura setecentista e oitocentista que, dada a natureza multidisciplinar dos textos – da literatura, da história, da crítica de arte, da ciência e da antropologia –, se oferece à descoberta da paisagem museológica portuguesa.

Um livro coeditado pela portuense Dafne e o Centro de História de Arte e Investigação Artística (CHAIA), com o apoio do Centro de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Évora, onde o autor, João Carlos Brigola, se doutorou em História e onde leciona.

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