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“Viagem à Volta do Meu Quarto”

Este livro naturalmente inspirador, é-o ainda mais em tempos de isolamento social. Escrito durante a prisão domiciliária do autor em Turim, na sequência de um duelo, será uma excelente companhia nos dias que temos pela frente.
  • Marta Teives
21 Março 2020, 11h32

 

 

“Quando viajo no meu quarto, raramente percorro uma linha recta: vou da mesa até um quadro que está colocado a um canto; daí parto em diagonal até à porta; mas ainda que, ao partir, a minha intenção seja a de me dirigir para lá, se encontro a poltrona no caminho não estou com cerimónias e instalo‑me de imediato nela”.

Dadas as restrições de movimentos a que o mundo está sujeito atualmente, quase que poderíamos dizer que o autor era um homem à frente do seu tempo. Mas não, Xavier de Maistre pretendia apenas fazer alguma ironia com o sucesso que a literatura de viagens gozava na altura (inspirando-se, em particular, em “Uma Viagem Sentimental”, de Laurence Sterne), relatando uma viagem de 42 dias dentro do seu quarto.

Xavier de Maistre (1763 – 1852), oriundo de uma família de Nice, nasceu em Chambéry, na Sabóia, então parte do reino da Sardenha. Como décimo segundo filho num total de quinze (dos quais dez sobreviveram aos primeiros meses de vida), a sua educação foi responsabilidade dos irmãos mais velhos, em particular do filósofo e célebre contra-revolucionário Joseph de Maistre, sobretudo depois da morte da mãe, quando Xavier tinha apenas dez anos.

Em 1790, escreveu “Viagem à Volta do Meu Quarto”, enquanto se encontrava em prisão domiciliária na cidade de Turim, na sequência de um duelo. Em 1792, com a invasão do Piemonte e posterior anexação pelas tropas francesas, de Maistre decidiu deixar o exército de Piemonte-Sardenha, ao qual se juntara em jovem. Pouco depois, o príncipe russo Bagration procurava um ex-oficial do exército sardo com experiência de guerra de montanha e o capitão de Maistre era a escolha óbvia. Serviria mesmo sob o comando do lendário marechal Suvarov, a quem permaneceu fiel mesmo após este ter caído em desgraça junto do czar Paulo I.

Instala-se em São Petersburgo onde se torna director da Biblioteca e do Museu do Almirantado. Volta a incorporar-se no exército, já como coronel, e combate no Cáucaso, onde é ferido com gravidade. Em 1813, casa com Sofia Zagriatzky, dama de honor da corte imperial (já com Alexandre I como czar) e tia da mulher de Pushkin.

Devido ao clima político após a fracassada revolta de Dezembro de 1825 e ao clima atmosférico, particularmente nefasto para as suas duas crianças, a família parte para Itália. Mas, nem as temperaturas amenas de Nápoles serão benéficas e os dois filhos acabam por morrer. De Maistre e a mulher decidem regressar à Rússia e chegam a São Petersburgo em 1839, cidade onde o escritor permanece até à sua morte, em 1852.

“Viagem à Volta do Meu Quarto” (publicado em 1795) e a sequela “Expedição Nocturna à Volta do Meu Quarto” (publicado em 1825, mas escrito muitos anos antes) foram reunidos num só volume, inserido na coleção de viagens da Tinta da China.

 

Nota: A livraria Palavra de Viajante encerrou ao público no âmbito do plano de contenção da pandemia Covid-19. Como não iremos receber as próximas novidades – livros físicos, entenda-se – decidimos suspender temporariamente a colaboração com o Jornal Económico. Esperamos regressar em breve com novas sugestões de leitura.

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