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“Diário da Coreia do Norte”

No outono de 2016, Michael Palin recebeu um convite inesperado e algo insólito: apresentar uma série para a ITN, a ter lugar no ‘país dos Kim’. A Coreia do Norte, entenda-se. É sobre a visita a esse opaco país que versa este “diário”.
  • Marta Teives
14 Dezembro 2019, 10h20

“Estou mesmo na Coreia do Norte, e a empreender a longa viagem até ao salão de pequeno-almoço. O Nick [conhecedor profundo do país, organizando viagens há mais de vinte e cinco anos] já lá está, entretido com uma omeleta. O mistério da música matinal é desvendado. Segundo ele, o som que nos acorda é um hino patriótico intitulado ‘Onde estás tu, querido General?’, evocativo do Grande Líder Kim Il Sung.”

 

 

No outono de 2016, Michael Palin recebeu um convite inesperado e algo insólito: apresentar uma série para a ITN, uma das mais prestigiadas produtoras inglesas de conteúdos multimédia, a ter lugar na Coreia do Norte. Nessa altura, Kim Jong Un ocupava a cadeira do poder há já cinco anos. Onde permanece. O que mudou substancialmente desde então – o que garantiu a janela de oportunidade única para as filmagens – foram as relações entre o país e os Estados Unidos da América, depois da mudança de presidência (recorde-se que George W. Bush incluira o país asiático no seu Eixo do Mal). Pelo menos para já, enquanto Donald Trump não muda de ideias, possibilidade que deixou recentemente no ar.

A entrada na República Popular Democrática da Coreia, vindos de comboio desde Pequim, é antecedida de uma reunião onde são informados das regras a cumprir, das proibições absolutas, como quaisquer menções à ITN, contactos com os habitantes locais – com exceção dos guias que os acompanharão – ou piadas ao sistema político ou ao seu líder máximo. Também são informados sobre uma especialidade gastronómica a que os turistas estrangeiros são poupados: cão.

Apesar de tudo o que não se pode fazer, à equipa é permitido conhecer alguns coreanos, em conversas controladas, devidamente monitorizadas, com interlocutores escolhidos a dedo. A nós, criaturas nascidas uns anos antes do 25 de Abril de 1974, cai-nos consideravelmente melhor um regime democrático, mas são cada vez mais os turistas ocidentais que fazem questão em visitar um dos regimes políticos mais fechados do mundo. Talvez o encarem como uma espécie de disneylândia autocrática, agora que pululam os parques temáticos.

Michael Palin participou em diversos programas de televisão e em filmes, dos celebradíssimos Monty Python ao mais recente “A Morte de Estaline”. Apresentou inúmeros e aclamados documentários de viagem que o levaram aos Polos, ao Sara, aos Himalaias, à Europa de Leste e ao Brasil, e que resultaram também em relatos publicados posteriormente (em Portugal, editados pela Bizâncio, tal como este diário). Entre 2009 e 2012 foi presidente da Royal Geographical Society. Recebeu um BAFTA em 2013 e, já este ano, foi condecorado pela rainha Isabel II.

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